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Mirian Hapuque

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Venho do Mato Grosso, mais precisamente do portal da Amazônia, de uma cidadezinha chamada Alta Floresta, onde as mulheres correm com a mesma força e destreza das onças. Crescer nesse canto do mundo, por si só, foi uma aventura que me rendeu muitas histórias para contar e contextos distintos para enfrentar.

Porém, a minha busca por raízes mais profundas me trouxe para “Salvamôr”, uma cidade que me acolheu de braços abertos e me apresentou às minhas origens culturais e existenciais. Aqui eu pude me compreender enquanto mulher negra, latina, operária cultural, mãe, bissexual, anticapitalista e, principalmente, a reconhecer a riqueza e as responsabilidades que vêm junto da rica história de existência e (re)existência dos meus ancestrais.

Aqui também, na Universidade Federal da Bahia (UFBA), comecei o bacharelado em Artes, um curso que me permitiu mergulhar de cabeça no mundo da criação e da expressão. Viver ativamente os vários universos da “Federal”, tanto no aspecto cultural como no político, me rendeu, além de muitas histórias e memórias boas e ruins, muita bagagem e repertório para lidar com esse “mundão”.

Mas minha história não estaria completa sem mencionar um capítulo muito especial: minha maternidade. Sou mãe de uma menina incrível. Cabe aqui dizer que também sou filha de outra mulher incrível. Embora esse fato não nos defina, não quero colocar a maternidade em um lugar de menor importância na sociedade e nem na vida das mulheres, mas sim expressar a minha crença de que somente a maternidade não dá conta de traduzir a nossa força e potencialidade. 

Com base nisso, dentro das minhas condições, optei por uma maternagem dissidente. Minha mãe, uma mulher forte que carregou o peso da maternidade solo, abandonou seus próprios sonhos para cuidar de mim e do meu irmão, e reconheço o quão desafiador isso deve ter sido. Aprendi muito com ela, especialmente o que significa fazer o melhor que se pode com o que se tem. No entanto, quis dar à minha filha uma referência diferente, subverter essa lógica e mostrar a ela que é possível perseguir seus sonhos enquanto se é mãe.

 

E por falar em minha mãe, foi através dela que minha paixão pelo cinema começou. Lembro-me dos finais de semana em que ela nos levava à locadora de vídeos. A escolha de um filme se tornava nosso ritual de conexão, um pequeno escape da realidade, onde minha imaginação podia voar livremente. Apesar de sua rotina exaustiva como mãe solo, esses momentos eram preciosos e despertaram em mim um amor pelo cinema que foi crescendo ao longo dos anos.

 

O cinema foi e sempre será o meu refúgio em tempos difíceis, pois me permite não apenas fugir por alguns instantes dos meus conflitos, mas também refletir sobre eles. A possibilidade de imaginar realidades distintas abre portas para que o meu mundinho se comunique com outros mundinhos, mesmo que esses só existam na fantasia e sejam frutos da imaginação de outras pessoas.

 

Hoje me apresento como “gostadeira de filmes”. Acredito que o termo cinéfila não se aplica, mesmo eu já tendo visto uma quantidade razoável de filmes e mantendo uma certa periodicidade interessante no consumo. Também sou produtora audiovisual, o que me permitiu e me permite entender e explorar os impactos das narrativas visuais. Sempre busquei escrever conectando o universo cinematográfico a reflexões do contexto social, acreditando que os aspectos técnicos dos filmes existem para enriquecer essa experiência. Não limitando, mas buscando sempre ampliar, é essa visão que espero compartilhar com vocês através das minhas críticas e análises.

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