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Foto do escritorAlan Rangel

A vida não se resume a política

Na minha primeira coluna pretendo levantar uma breve reflexão: a vida não se resume à política.


Viver em sociedade é sem dúvida uma parte da vida, e para muitos até a mais importante. E quando pensamos na vida em sociedade, deveríamos ter a clareza de que não estamos a sós. Eu e você somos orientados por regras que visam maximizar a boa convivência. Na acepção política, exercemos a cidadania quando agimos conforme a melhoria da vida social. Mas sabemos que nunca existiu uma sociedade (e talvez nunca exista) na qual 100% das pessoas têm internalizadas as prioridades políticas como escalas superiores da vida. Isto é um fato! Mas, por que ainda ficamos chocados com essa conclusão?


O ser humano não se reduz ao cidadão! A vida é muito mais complexa. Quando aqueles indivíduos que estão mais envolvidos com a política acusam outros de serem alienados, cegos, desorientados, estão simplesmente cometendo o erro de reduzir tudo à política, ou seja: à totalidade da existência humana ao cidadão.

A questão que levanto é a seguinte: não existe em lugar nenhum uma escala de prioridades ad aeternum sobre como se comportar na vida. Não existe uma escala de valores absolutos a priori. O grande engano daqueles que reduzem tudo a um só aspecto é acharem que todas as pessoas deveriam pensar iguais a elas. Isso é um comportamento tipicamente autoritário.


Em geral, as pessoas têm suas particularidades, impulsos incontidos, desejos, prioridades que não podem ser inferiorizadas em nome de um aspecto único da vida. A política ou o exercício da cidadania (como na acepção grega, aquele que vive na pólis, na cidade) é somente uma parte da experiência de cada um. E não estou aqui menosprezando esse aspecto. Estou mostrando um outro lado da moeda.


Da mesma forma, não podemos reduzir o cidadão ao ser humano. O ser humano, além da racionalidade, possui aspectos culturais, sentimentais, irracionais, espirituais, portanto, aspectos que ultrapassam o escopo político, que tendem a moldar a sua vida. Mais do que considerar que todos deveriam ser cidadãos completos, devemos enxergar que a atitude dos outros convém a uma experiência que ultrapassa o âmbito do nosso prepotente julgamento de superioridade sobre o comportamento alheio. Disto isso, chegamos ao nível da intolerância no qual nos tornamos radicais, amargos e insuportáveis. A empatia passa muito longe! Corremos o risco de cair em um buraco negro. Um estado mental patológico.


Além da polarização extrema de não aceitar o posicionamento político do outro, existe uma outra polarização talvez até mais perversa: daqueles que se dizem “esclarecidos”, ou aqueles que se veem como “iluminados”, que colocam a motivação política no pedestal da supra suma prioridade existencial, contra as pessoas tidas “menos esclarecidas”, acusadas de estarem perdidas no “véu da ignorância”, ao não priorizarem outros valores nas práticas cotidianas. Portanto, os “esclarecidos” se enxergam, infantilmente, como superiores na condição humana. Tal atitude nunca acaba bem: exacerba atritos e confrontos de toda ordem que impedem a convivência. Não havendo mais capacidade de diálogo, abre-se o caminho para a barbárie, e, portanto, para a derrota da civilização.

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