
Falar sobre Deus é ao mesmo tempo ‘complexo’ e arriscado, visto que pela lógica das subjetividades humanas, diferentes acepções são encontradas. E é por esse caminho, das subjetividades e não da Filosofia, que me arrisco a escrever esse texto, pois, só os que se arriscam estão propensos a novas descobertas. Então, vamos lá...
Partindo da ideia de que o centro/núcleo da questão sobre a existência de Deus, está muito mais e diretamente relacionada com a subjetividade da condição humana, do que os postulados idealistas ou materialistas, o elemento Subjetividade destaca-se como principal vetor de compreensão sobre Deus. É possível perceber “possíveis” compreensões sobre Deus, a partir da abordagem focada na relação do homem com a natureza e a modificação desta em uma “divinização”, sendo possível perceber sobretudo quando tal elo é quebrado devido às diversas transformações (econômicas, sociais, políticas e culturais) criadas pelo Homem.
A compreensão de Deus vinculado a uma instituição religiosa, a ver, a Cristã, principalmente quanto aos aspectos alienantes religiosos de um Deus que tudo sabe, pode, perdoa, vê e que tira do homem a responsabilidade dos seus atos, apresenta como consequência a renúncia humana em construir seu próprio destino. Penso que Deus não impossibilita o homem de construir sua jornada, pelo contrário, apresenta horizontes possíveis para isso.
Por outro lado, se o homem criou Deus como entidade com suprapoderes, não seria reflexo de uma imagem inconsciente presente na representação coletiva? Ou, pasmem, se Deus criou o homem e lhe concedeu através do intelecto chegar a representação de Si, por que então Deus não existiria? Cabe aqui uma reflexão sobre intrapsíquico e extra psíquico, corpo e mente, onde é possível saber que ambos aspectos agem mutuamente criando realidades subjacentes. O que a mente cria, é real e o real também “cria” a mente.
Deus, para mim, como bem definido no livro de Kardec (O Livro dos Espíritos, p. 71) “É uma inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. ” Ele não se personifica em uma estrutura, em uma instituição, mas está presente nas diferentes formas da existência humana e realidade cósmica.
Recordo alguns escritos do filósofo Nietzsche, principalmente uma das passagens em A Gaia Ciência em que ele afirma que Deus está morto. Entretanto, me limito a adentrar na filosofia nietzscheana devido à insuficiência de leitura em suas obras. No que confere a “morte de Deus”, ele quis, na verdade, enfatizar um acontecimento cultural. A partir de tal compreensão, penso que a crença relativa ou absoluta em Deus, afastou o Homem da Natureza, melhor dizendo, fez desaparecer o elo direto de ligação com a sua história, seu passado, suas raízes ontológicas. Porém, um retorno à realidade histórica antes do Cristianismo e até mesmo, antes da suposta “civilização”, sugere uma compreensão diferente sobre Deus. E é nessa lógica interpretativa que minha racionalidade humana repousa.
E, como a dinâmica é inerente à Vida, minha visão de mundo, sobretudo, de Deus, passou de uma lógica Cristã, alienada, para Agnóstica, descrente, e hoje se assenta sobre uma Filosofia Espiritualista. Tal visão não invalida uma compreensão da realidade enquanto potencial criativo, muito pelo contrário, o “vir-a-ser” coexiste com o devir existencial e com o movimento dialético das mudanças e transformações inevitáveis de tudo que existe.
A abertura a adentrar nesse campo arriscado que é falar sobre “Deus”, remete a diferentes configurações coletivas e culturais fundadas em diferentes representações. Decerto, essas são contribuições de uma jovem aprendiz que muito tem a descobrir e viver.