
Dia desses vi várias pessoas compartilhando a imagem de uma camiseta com a mensagem “Desculpa o atraso, eu não queria vir” e me remeteu ao tanto de coisas que fazemos sem vontade pela inabilidade de dizer “não”. É claro que a estampa da camisa era só uma piada, não vou ser a chata que reclama disso. Mas cabe aí uma reflexão.
Qualquer relacionamento saudável é uma via de mão dupla. São necessários diversos acordos para fazer a convivência funcionar - seja entre um casal, entre amigos, entre colegas de trabalho. Não falo aqui de nenhuma relação em específico, mas de qualquer interação entre dois ou mais seres humanos. E, seja de que forma for, o equilíbrio é essencial, e ele só acontece quando nenhuma das partes fica prejudicada ou se anula. Para isso acontecer, impor limites é fundamental.
É claro que há coisas desagradáveis que precisaremos fazer e não teremos escapatória. Mas cabe o exercício de avaliar até onde é essa obrigação e a partir de que ponto nos forçamos a estar em determinados lugares ou situações por não sabermos dizer “não”. E essa dificuldade passa por diversos fatores, como insegurança, medo de magoar, de ser deixada de lado. “Ah, se eu negar, nunca mais vão me chamar”. E que proveito terá fazer algo contra a vontade para agradar a outra pessoa?
O equilíbrio que mencionei mais acima passa por saber ceder e fazer o que o outro quer, mas também negar quando sentir necessidade. O movimento negar versus ceder deve partir de todos os envolvidos na relação.
Eu sei que não é fácil. Sempre tive muita dificuldade de dizer “não” e minhas amizades foram muitas vezes baseadas em eu fazer tudo o que as pessoas queriam. E a partir do momento em que percebi que essa dinâmica não funcionava e comecei a impor limites, várias dessas pessoas se afastaram. Isso serviu de lição pra mim, de que não vale a pena quando o sacrifício vem apenas da minha parte. Quando isso acontece, as relações se tornam tóxicas e basta uma mudança de atitude da pessoa que sempre cede para que fique claro que só funcionava naquele modelo desequilibrado. Sendo assim, de que serve?
Essa coisa de dizer não é um movimento que vejo muita gente que tem filho falando. É importante aprender desde cedo que há limites e nem sempre as coisas serão como esperamos. Lidar com as frustrações faz parte da vida e eu vejo muitos adultos que ainda não aprenderam. Por isso, tão importante quanto aprender a dizer “não”, é saber receber um “não” sem melindres. Respeitar o espaço e o limite do outro, assim como esperamos que o nosso seja respeitado.
Relacionar-se não é uma tarefa fácil em nenhuma instância. Mas são pequenos movimentos no dia a dia que permitem que a convivência seja sólida e válida para todos os envolvidos. Porque não adianta fugir: em alguma escala vamos esbarrar nos limites dos outros. E para que sejamos respeitosos e respeitados, precisamos, em primeiro lugar, conhecer o nosso.