Toda vez que alguma polêmica estoura na internet, é comum aparecer uma legião de defensores do “acusado” da vez. Especialmente em casos que envolvem minorias, como falas racistas, homofóbicas, gordofóbicas, entre outras, há sempre alguém para dizer “não foi isso que ele quis dizer”, “isso não foi (insira aqui algum tipo de discriminação)”. Todo mundo é tão cheio de opinião, que ninguém se preocupa em perguntar à minoria atingida se aquilo a feriu de alguma forma.
Por mais que sejamos pessoas informadas e que lutemos contra o preconceito, se não fazemos parte daquela minoria, nunca saberemos plenamente como é. Um homem, por exemplo, não tem como falar para uma mulher o que é ou não machismo (nem, muito menos explicar o feminismo para ela), assim como eu, enquanto mulher branca, não sou capaz de dizer a uma pessoa negra o que ela deve ou não considerar racismo.
Parece óbvio, mas isso acontece com muita frequência. Vide o caso recente da tentativa de um homem beijar a repórter do Sportv enquanto ela gravava uma passagem. O que choveu de gente para defender o cara e dizer que “foi só uma brincadeira” ou que a moça “deveria se sentir lisonjeada” não dá para contar. Para início de conversa, a situação era totalmente inadequada para esse tipo de abordagem, uma vez que a repórter estava trabalhando. Mas o mais importante no caso foi que ELA se sentiu incomodada e invadida e reclamou.
Outro caso foi de um youtuber que postou no Twitter uma frase racista dirigida ao jogador da seleção da França Mbappé. E, mais uma vez, apareceram, das catacumbas da internet, seres capazes de defender o “famoso”. E é sempre repetida a velha desculpa que “não é nada demais”. Isso e xingar quem criticou o cara, obviamente.
Saindo um pouco da Copa, outro assunto que tomou conta das redes sociais recentemente foi a proibição do uso dos canudos de plástico por conta de questões ambientais. Até aí, parece que há um consenso de que é preciso repensar nossa forma de consumir. Porém, ninguém pensou no caso dos deficientes físicos que necessitam dos canudos para poderem se alimentar. Esse é o típico caso em que decisões são tomadas sem levar em consideração todas as variáveis possíveis. Eu mesma confesso que não pensei nessa possibilidade, mas entendi totalmente o ponto de vista dos deficientes ao ver uma moça falando sobre isso no Twitter. Não é preciso nem eu dizer a enxurrada de ódio que ela recebeu, não é?
E esses são apenas três exemplos para ilustrar meu ponto de vista. Mas diariamente minorias são atacadas por gente cheia de ódio e nem um pouco disposta a ouvir e respeitar o que o outro tem a dizer. O que nos leva a um outro ponto: as pessoas em posição de privilégio tendem a ter atitudes paternalistas em relação às minorias, a ponto de achar que sabem o que é melhor para elas mesmo sem nunca ter sentido na pele o que essas pessoas passam. E isso também é uma forma de preconceito, pois rebaixa ao outro a uma posição de incapacidade de gerir a própria vida e propor soluções.
Na era da lacração, parece que vale mais bombar na internet do que efetivamente contribuir para um debate aprofundado que, claro, passa por enxergar o outro como um igual. Ter a mente aberta para ouvir diferentes pontos de vista, especialmente quando falam de uma realidade na qual você não está inserido, é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa para todos. E podemos começar com um pequeno passo: não é preciso dar opinião sobre tudo, a não ser que haja algo realmente relevante para se falar. Dar voz a quem entende do assunto é melhor do que propagar mentiras e desinformações.