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Sarah Ferraz

Em um relacionamento sério...com meu celular


Imagine que você teria que ficar um dia sem seu smartphone ou Iphone. Imaginou? Como seria sua reação a esse impedimento? Isso pode beirar o insuportável para muitas pessoas hoje em dia, concorda?


O celular se tornou, feliz ou infelizmente, um companheiro inseparável da maioria de nós, quase que uma extensão do nosso corpo. Temos tudo na palma da mão: o melhor computador, redes sociais, comunicação, lazer, relacionamento, notícias, banco, uma ótima câmera para captar todos os momentos. Enfim, as possibilidades são infinitas. Um mundo numa tela de cinco ou seis polegadas, coisa totalmente surreal de se pensar há quinze anos atrás, a não ser num filme ficção científica.


Estimativas apontam que o número de usuários únicos de celular chegou a 5,9 bilhões e o de aparelhos a 7 bilhões. Só um detalhe: a população mundial gira em torno de 7,5 bilhões. Isso quer dizer que quase todo mundo possui um celular e mais da metade destas pessoas estão conectadas à internet. Não é de se admirar que ele seja um item quase que obrigatório na vida do ser humano hoje.


A geração que nasceu de dez anos pra cá não conhece a vida sem esse aparelhinho e muitos têm ele como sua principal babá. Não só as crianças, diga-se de passagem.


Mas voltando ao que eu te perguntei: Como será que você ficaria sem celular por um dia? Tranquilo, chateado ou desesperado? Pensou? Você já tentou ao menos ficar sem dar uma olhadinha por uma hora do seu dia, ou quem sabe evitar de ser a primeira coisa que olha ao se levantar e a última antes de dormir? E você pode estar pensando: “Nossa, que exagero!” Mas realmente é?


O que vem sendo observado é uma crescente dependência das pessoas em relação ao telefone. Inclusive, caso você não saiba, esse comportamento dependente já tem nome: Nomofobia. A expressão vem do inglês no mobile e faz referência à angústia, pra não dizer abstinência, que algumas pessoas apresentam quando não têm acesso aos seus aparelhos por um tempo. Um medo enorme de não ter por perto este companheiro, que só falta dar a pata e abanar o rabo.


A coisa é séria, leitor. Segundo pesquisas, a taxa de dependência da telinha preta chega a 60% dos usuários. Um estudo brasileiro, da UFRJ, apontou que 34% dos entrevistados sofriam de alto grau de ansiedade ao se verem sem o dispositivo.


Os sintomas dessa condição se assemelham aos que sente um viciado em relação à substância psicoativa: usar o celular pra se animar quando está pra baixo; ficar preocupado e ansioso em perder ligações ou mensagens quando está sem ele; quase nunca desligar o aparelho, mesmo que seja extremamente necessário.


E as consequências na vida desta pessoa vão de se atrasar para um compromisso, passando pela procrastinação de tarefas importantes (como estudos ou trabalho), até chegar à negligência de relacionamentos. Além disso, o indivíduo acaba perdendo a noção do tempo que fica conectado, gastando muito mais tempo do que planejou, mesmo fazendo um esforço para diminui-lo.


Mera semelhança ou total compatibilidade com que o sente alguém compulsivo por compras, jogo ou comida?


E o pior ainda está por vir, pois não se sabem quais serão os efeitos de tal exposição contínua dessa geração que já nasceu com o celular na mão. Para o cérebro e seu Sistema de Recompensa, é o mesmo que dar chocolate na mamadeira, entende?


Outra fobia que está atrelada à ausência do aparelho celular é o FoMO, também do inglês, Fear of missing out, que traduzido seria mais ou menos como o medo de ficar por fora. É como se você ficasse pra trás por não estar conectado sempre. Uma sensação inquieta de que está perdendo algo que os outros estão fazendo, provavelmente algo melhor do que você está fazendo.


É tanto tempo gasto e intervalos cada vez menores de checagem dos status, publicações e stories das pessoas que seguimos, onde a grama do vizinho é bem mais verde, bonita, divertida, bem sucedida, e assim por diante.


Esse acesso ilimitado à vida do outro adiciona uma nova forma de sofrimento: pensar que não se tem a mesma vida que ele, ou pelo menos, a que é mostrada por ele. Nos níveis mais graves, esse mal estar atualíssimo, que deixaria o Sigmund atordoado, pode progredir para um transtorno de ansiedade e depressão.


Duvidar da sua própria felicidade e achar que todo mundo está se divertindo bem mais que você, é uma possibilidade. O outro torna-se o foco, esquece-se das reais condições de diversão que estão ao seu alcance e aí vem o desânimo e a baixa autoestima. Isso pode te fazer desistir de se divertir ou tentar em demasiado para se equiparar, o que cria um ciclo vicioso terrível.


E tudo gira em torno desse aparelho maligno, certo? O problema é ele, né? Não, amigo, o problema é o jeito que estamos fazendo uso dele. O dispositivo por si só é inofensivo e pode ser uma mão na roda pra tantas coisas, bem como nos mostrar realidades diferentes, trazer informações que nos façam rever nossos conceitos, nos conectar com pessoas queridas que estão distantes geograficamente, etc.


Inclusive, eu mesma trabalho utilizando as redes sociais e estaria sendo hipócrita neste texto, sugerindo que você deva parar de usá-las ou ao seu aparelho.


Nós que o estamos utilizando de forma errada, excessiva. Percebe? Analise se está sentindo esse tipo de medo ou apresentando comportamentos disfuncionais em relação ao seu celular. A parcimônia é sempre uma ótima saída, seja seu exagero direcionado à comida, relacionamentos, consumo, diversão ou tecnologia.

Começar a ficar uma hora por dia longe da tela talvez já seja um bom passo neste sentido.

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