top of page

A CAMAREIRA: ALIENAÇÃO DO TRABALHO E INVISIBILIZAÇÃO

Foto do escritor: Jacqueline GamaJacqueline Gama

Por Jaqueline Gama [1]


A aposta do México para o Oscar 2020, A Camareira, dirigido por Lilá Avilés, lançado em 2019 no Brasil, denúncia o cenário da alienação do trabalho e da invisibilização daqueles que estão presentes no cotidiano, mas que não possuem voz nem vez. A camareira -como o próprio nome já se auto introduz- narra a história de Eve, uma jovem camareira de um hotel de luxo em uma cidade grande do México que passa seus dias limpando quartos e mantendo uma rotina extremamente exaustiva.


O filme evidencia espaços vazios, a câmara baixa fica estática, deixa sempre os quartos em exposição seja por sua bagunça ou arrumação. O colorido sempre é das roupas dos hospedes, como que sem eles aquele lugar não pudesse existir. Do contrário, a monotonia, uma certa melancolia e a falta de grandes acontecimentos na vida de Eve são captadas pelo excesso de branco e cinza em tela, provocando até um certo cansaço ao expectador. Entretanto, isso muda quando do movimento da camareira em busca de um vestido vermelho, sendo esse um grande acontecimento simbólico, o qual atravessa a protagonista em outras instâncias. O vermelho é o grande evento para o empoderamento da camareira, transformando-se no inesperado.


Durante esse processo de descobertas, apesar de estar nessa posição subalternizada, Eve alimenta o desejo de aprender e de ser sensível quanto ao outro. Nos quartos ela mexe principalmente nos livros e em fotografias que os hospedes deixam a mostra em seus dormitórios temporários. A camareira também se mostra uma pessoa honesta que busca ser impecável em seu trabalho. Quando recebe uma notificação sente-se triste e assustada com a possibilidade de ter alguma penalidade, expondo dessa forma o controle dos corpos que as empresas impõem em seus funcionários.


Atravessando esse corpo explorado e pouco notado pelos hospedes é que o filme se concretiza como uma película física. A câmara epidérmica quase encosta nesses funcionários, o oposto do cotidiano em que a distância e a invisibilização atuam como personagens principais da realidade. O cuidado com o corpo, o toque da camareira nela mesma, o choque que recebe e a água escorrendo pela sua pele, simbolizam uma humanidade intensa em meio as cargas horarias exaustivas de alguém que entra seis horas no trabalho e sai tarde da noite, quando sai. Quando não perde o ônibus ou a Kombi ( que traduzindo para o contexto brasileiro seriam as vans).


O filme se aproxima muito de: Que horas ela volta? (Brasil, 2015), de Anna Muylaert e do filme Roma (México, 2018), de Alfonso Curón, ao que tange a maneira de retratar uma profissional invisibilizada e explorada, entretanto, a grande diferença é a estética cinematográfica e a opção pela representação de uma camareira, algo que não é comum no cinema, principalmente nessa posição protagonista, transformando assim a película em um bastidor de uma profissão que não é reconhecida na nossa sociedade e reforçando a importância do cinema para pensar esses locais de fala.


[1] Graduanda em Letras Vernáculas pela UFBA. Crítica de cinema e poeta.


Link da imagem: https://www.minhavisaodocinema.com.br/2019/11/critica-camareira-2018-de-lila-aviles.html

44 visualizações0 comentário
SOTEROVISÃO
SOTEROVISÃO

CONHECIMENTO | ENTRETENIMENTO | REFLEXÃO

RECEBA AS NOVIDADES

Faça parte da nossa lista de emails e não perca nenhuma atualização.

             PARCEIROS

SoteroPreta. Portal de Notícias da Bahia sobre temas voltados para a negritude
bottom of page