
Por Jacqueline Gama [1]
A necropolítica é um mecanismo de guerra instaurada pelo Estado soberano. Mbembe explícita as engrenagens desse tanque bélico e as suas formas de opressão e de assassinato. Como instituição soberana, a máquina tem o poder de escolher quem morre e quem vive. O Estado, então, controla corpos, espraiando o terror a fim de continuar sua missão kamikaze de dominação através do medo da morte. Esse, em um Estado de exceção ou de sítio, se torna eminente.
No contexto brasileiro de país colonizado, pensar a máquina estatal é pensar em uma guerra ao terror, sem trégua. O governo reacionário bolsonarista, eleito por uma grande parcela da população, só mostra o quanto o Brasil é colonizado em um nível de inconsciente coletivo que sonha com a cidade do colonizador, se dialogarmos com Franz Fanon em os condenados da terra. O Estado vigente leva até a última instância a “guerra infraestrutural” (MBEMBE, 2017; p. 137), seja através do corte com a saúde, educação e cultura, sucateando as bases para o bem-estar social e para o estimulo ao processo de descolonização. Seja instaurando a necropolítica- “as formas contemporâneas que subjulgam a vida ao poder da morte” (2017; p.146) - da maneira mais evidente, possivelmente aliando-se a milícia e autorizando o poder militar a matar índios, negros e pobres. Portanto, aniquilando tudo o que não interessa ao colonizador ou ao colonizado que se sente colonizador por ter uma posição mais elevada em seu território, nesse caso, pensando novamente em Fanon, o caso do oprimido que se torna opressor, do oprimido que reproduz as ideias do opressor.
Dessa maneira, a reforma da previdência representa também uma arma de extermínio em massa, como as câmaras de gás. É uma necropolítica menos explicita do que as outras citadas anteriormente. Essa, dentro desse contexto de colonizador e colonizado diz muito sobre quem irá matar, o aposentado: funcionário não militar e não governante. O trabalhador comum servirá até a morte ou morrerá de fome e sem recursos quando parar de ser produtivo para a máquina do Estado. Essa lógica não deixa de ser uma analogia ao regime de escravidão.
O escravo serve ao senhor até o corpo definhar para não morrer, alforria-se e morre de fome ou, torna-se suicida. Seguindo essa comparação, o Estado (através da falta do que é público) submete o proletário a sobrevida, fazendo- o escolher se morrerá em menos ou mais tempo, produzindo então um massacre.
[1] [1] Graduanda em Letras Vernáculas pela UFBA. Crítica de cinema e poeta.
REFERÊNCIA:
MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios, [S.l.], n. 32, mar. 2017. ISSN 2448-3338. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/ae/article/view/8993/7169>. Acesso em: 27 mar. 2019.
Fone da imagem: https://n-1publications.org/necropolitica