Por Stephanie Nascimento,
Quando falamos em oralidade e escrita, logo relacionamos a linguagem coloquial e culta respectivamente, onde, apesar de ambas utilizarem a mesma língua como fonte, percebemos claramente a subjetividade e sintaxe de modo marcante e representativo em cada uma.
Ronald Fraser, em artigo intitulado História Oral, História Social (1993), discute a questão da construção das fonte orais e propõe uma diferenciação entre estas e as fontes escritas, tomando como base os seguintes elementos constituintes: a subjetividade, a auto representação, a forma narrativa e o fato de se construírem com a intervenção do investigador.
A subjetividade da oralidade apresenta a característica pessoal do locutor em contato com o receptor sem necessariamente seguir uma linha de temas específicos ou estruturação de dialogo mediante seu conhecimento armazenado.
O Brasil, convive nos dias atuais com o preconceito linguístico sofrido pelos brasileiros sem conscientização popular deste problema, devido à falta de políticas públicas voltadas a esse dilema. O preconceito linguístico é simplesmente imposto por julgar quem fala, de duas maneiras: implícito pela norma culta, ou fugindo do padrão estabelecido gramaticalmente considerando erro.
O compositor Adoniran Barbosa retrata isso inserindo em suas músicas fenômenos como redução de palavras muito comum no cotiado brasileiro, troca da consoante L por R e utilizando plural apenas no primeiro elemento da frase, concretizando sua essência “enxuta” nas composições. Porém, engana-se quem pensa que Adoniran fazia todo seu trabalho de modo desleixado, pelo contrário, ele buscava simplesmente retratar a realidade da sociedade em que estava inserido, como falante de uma cultura estrangeira adaptando-se ao linguajar da comunidade atual.
No Brasil não há homogeneidade linguística. Quando refere-se ao português oral, percebemos isto claramente analisando o regionalismo muito marcante e rico em gírias e dialetos, dentre outros aspectos socioculturais, sem deixarmos ainda falhar na memória que o Brasil não é um país monolíngue, apesar de tal ser em parcelas menores, temos mais de duzentas línguas indígenas dentre outras presentes em comunidades de imigrantes estrangeiros.
As diversas falas, transmitidas por diversas pessoas, em diversos ambientes, exemplifica como nos dias de hoje, o preconceito linguístico ainda se faz presente gerando a chamada “inclusão excludente” onde questiona-se a relação entre a pobreza e a educação que sustentam questões e demandas da sociedade capitalista.
É preciso despertar para toda a pluralidade, do poder que a língua bem integrada tem em uma sociedade.
* bacharelanda em Design na UNIFACS.
Referências:
JOGAS, Mônica Guedes e GOMES, Nataniel dos Santos. Adoniran Barbosa, O Defensor Involuntário Do Combate Ao Preconceito Lingüístico. 2003. Trabalho apresentado no VII CNLF, em agosto de 2003.
Fraser, Ronald. “Historia Oral, Historia Social.” Historia Social, no. 17, 1993, pp. 131–139. JSTOR, www.jstor.org/stable/40340350. Acesso em 20/04/2019.
Referência de imagem:
http://preconceitos-linguisticos.blogspot.com/2012/04/chico-bento.html