Por Tulani Nascimento*
É Verão em Salvador e quem não sabe? Sol pulsante, um céu azul celestial. E o mar? O mar todos os dias te diz “vem ni mim”. E eu, em plena Ribeira, uma das maravilhas de Salvador, com todo o seu charme interiorano, esperando o ônibus Ribeira – Estação Pirajá. Não era dia de praia para mim. Que pena. No ônibus desfruto da paisagem urbana. ADORO. Do meu lado, a Senhora do Sorriso Simpático me provoca para interagir com ela.
Senhora do Sorriso Simpático
- Dormi muito mal hoje. Tô morrendo de sono.
Tulipa Negra
- É realmente é terrível quando se dorme mal. Eu mesmo fico o dia todo cansada quando durmo mal. Seguimos o trajeto, com temas cotidianos. É então que surge o conflito: no final do canal do Bate-Estaca no bairro do Uruguai, vemos um grupo de pessoas conversando na calçada. Uma dessas pessoas não tem um aspecto convencional.
Senhora do Sorriso Simpático
- É o quê aí? Homem ou mulher?
Tulipa Negra respirando fundo
- Eu não sei. Porque não sei como ela gostaria de se designar.
Senhora do Sorriso Simpático
- Hoje em dia tem homem querendo ser mulher, tem mulher querendo ser homem. Nunca vi isso, se você nasce com pinto, você é o quê?
Tulipa Negra
- Na verdade não me interessa saber o que essa pessoa é, quer ser, ou deixar de ser. Até porque o aspecto físico dela só importa a ela. Ninguém tem nada com isso.
Senhora do Sorriso Simpático exaltada
- É realmente ninguém tem nada a ver com o que ela quer ser. A gente tem é que educar em casa. Ensinar aos nossos filhos que homem é homem e mulher é mulher.
A conversa termina eu dizendo que temos pensamentos diferentes e o meu é que as pessoas sejam livres para ser realmente quem elas são e querem ser.
Vendo as noticias que rondam esta semana na Espanha, vejo que todos estão falando sobre a aplicação do “Pin Parental” na região de Múrcia. O Pin Parental segundo o jornalista argentino Bruno Bimbi é uma versão da Escola Sem Partido Brasileira. É uma medida que permite aos pais proibirem que seus filhos assistam aulas com conteúdos extra curriculares sobre LGBTQI ou Educação Sexual. É por este e outros motivos que é urgente uma educação em que crianças e adolescentes cresçam em liberdade seja qual for sua orientação sexual . E essa questão não é uma urgência só aqui no Brasil. Imagina se um dos filhos, netos ou parentes da Senhora do Sorriso Simpático tenha uma orientação sexual fora do que ela acredita que tem que ser? E todas essas famílias espanholas que querem utilizar o pin parental?
Para a Senhora do Sorriso Simpático, que quando desceu do ônibus ajudei a puxar a corda para que ela pudesse descer e se despediu com um “Tchau Querida” com um sorriso que já não era tão simpático, gostaria de dizer como fez o jornalista espanhol Wyonming no seu programa “Intermedio” esta semana que por mais que se queira “os filhos não são propriedade dos pais” , que matérias como educação sexual ou igualdade não é um capricho é uma necessidade.
Um pinto no meio das pernas ou a ausência dele, não determina se uma pessoa é homem ou mulher. Nem um cromossomo XY ou XX. Nem a maneira de vestir, de se comportar. A natureza é muito mais diversa que tudo isso.
Eu sou Tulipa Negra, mas conhecida por Tulani Nascimento, este ano completo 40 anos e a partir de agora estarei colaborando no Soteroprosa . Na próxima semana tem a minha volta no buzão da Estação Pirajá até a Ribeira. Porque quem viaja em transporte coletivo sabe que os ônibus nos enchem cada dia de acontecimentos inusitados e situações imprevistas que nos fazem soltar o verbo.
* Formada em Comunicação Social pela Ucsal e Pós Graduada em Administração de Indústrias Culturas pela Universidade de Valladolid
Fone da imagem: freepik
Referências
http://emetropolis.net/artigo/253?name=desculpe-incomodar-o-silencio-de-voces
https://www.letras.com/caetano-veloso/43883/
https://www.20minutos.es/noticia/4123548/0/wyoming-sobre-el-pin-parental-por-mucho-que-queramos-a-nuestros-hijos-no-somos-sus-propietarios/
https://www.lasexta.com/programas/el-intermedio/reflexiones-wyoming/la-reflexion-de-wyoming-sobre-el-veto-parental-por-mucho-que-los-padres-queramos-a-nuestros-hijos-no-somos-sus-propietarios_202001205e2619090cf2a0a4b4366b90.html