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Foto do escritorAlan Rangel

Sobre ser conservador. “A POLÍTICA DA PRUDÊNCIA”


Farei um breve resumo do capítulo Dez Princípios Conservadores, do Livro A Política da Prudência, do conservador norte-americano, Russell Kirk, um dos mais influentes conservadores do século XX, falecido em 1994, aos 75 anos. O livro reúne textos de 18 conferências do autor, entre 1986 a 1991. No último parágrafo, deixo uma questão para os leitores pensarem sobre o texto e o momento atual.


“Em essência, o conservador é simplesmente alguém que acha as coisas permanentes mais agradáveis que o “Caos e a Noite Antiga”. No entanto, os conservadores, sabem, com Edmund Burke (1729-1797), que uma saudável mudança é o meio de nossa preservação” (p. 104).


Primeiro Princípio. “O conservador acredita que existe uma ordem moral duradoura”. Ordem significa harmonia. Harmonia tanto do espírito como da comunidade. Nesta última, é preciso existir uma crença numa ordem moral coletiva, permanente, com senso objetivo de certo e errado, um certo espírito categórico prático.


Segundo Princípio. “O conservador adere aos costumes, à convenção e à continuidade”. Costumes permitem as pessoas viverem em paz. A lei garante direitos e deveres que estão de acordo com as convenções vigentes. A continuidade faz garantir a união entre gerações, respeitando o passado e olhando as futuras gerações. A continuidade é o farol. Quem tenta destruir as convenções, os costumes, sacrifica a continuidade e solapa uma longa experiência do corpo social. “Conservadores preferem o mal que conhecem ao mal que não conhecem”. (p.105). Se é necessário a mudança, ela deve ser gradual e judiciosa, jamais algo como golpismo ou revolução; jamais algo como restauração ou refundação em terra arrasada.


Terceiro Princípio. “Conservadores acreditam no que se pode chamar de principio da consagração pelo uso”. Ou seja, é melhor guiar-se pelos usos seculares, milenares de um corpo social, da memória coletiva, que passou por testes durante a história humana, do que escorar-se no subjetivismo sem amarras. Nas palavras de Edmund Burke, o pai do conservadorismo moderno “o indivíduo é tolo, mas a espécie é sábia”.


Quarto Princípio. “Os conservadores são guiados pelo princípio da prudência”. Estadistas, homens públicos, devem ter em seu espírito a temperança, a moderação como virtude máxima. O governante deve pensar a médio e longo prazo, e não viver como se tudo fosse resolvido no imediatismo, no agora, clamando seu populismo por vantagens pessoais. O conservador deve refletir mil vez, prever a consequência de seus atos, pois estes podem criar desagregação, desordem. “Complexa como é a sociedade humana, as soluções não podem ser simples, se tem de ser eficazes” (p.106).


Quinto Princípio. “Os conservadores prestam atenção ao princípio da variedade”. A diversidade e desigualdade social não é danosa em si: elas preservam o não princípio do igualitarismo sufocante de sistemas. Ordens, classes, oposições, diferenças materiais garantem a pluralidade. Diferenças materiais não é aceitar a miséria, como pode arguir alguém leitor imprudente. Mas, toda tentativa de nivelamento social ou uniformização pessoal ou coletiva leva à estagnação. “Se as diferenças naturais e institucionais entre as pessoas forem destruídas, em breve algum tirano ou alguma sórdida oligarquia criarão novas formas de desigualdade” (p.107).


Sexto Princípio. “Os conservadores são disciplinados pelo princípio de imperfectibilidade”. Sendo o ser humano imperfeito, qualquer construção humana também será imperfeita. Homens e mulheres não foram feitos para a perfeição. Qualquer utopia de perfectibilidade, incorruptibilidade, que pregue o fim dos problemas, ausências de males ou perturbações variadas, levará junto consigo desastres, um inferno terreno, que, certamente, não abre mão da violência. A melhor maneira de aperfeiçoar a convivência, de criar mais justiça, paz e liberdade é uma reforma prudente.


Sétimo Princípio. “Os conservadores estão convencidos de que a liberdade e a propriedade estão intimamente ligadas”. A ausência de propriedade privada gera instabilidade e improdutividade à comunidade política. A valorização da civilização, das famílias, passa pelo respeito aos esforços dos predecessores que deixaram seus frutos aos descendentes. Logo, nenhum estado pode solapar essa herança particular conquistada historicamente. A liberdade só é verdadeira se a propriedade privada não for violada.


Oitavo Princípio. “Os conservadores defendem comunidades voluntárias, da mesma forma que se opõem a um coletivismo involuntário”. As comunidades locais conhecem mais os seus problemas do que um observador externo, que dita uma certa ordem universal. Logo, as demandas devem ser levadas às autoridades que têm o dever de ser responsivo às dificuldades locais. Qualquer decisão centralista vai de encontro à justiça e prosperidade das comunidades.


Nono Princípio. “O conservador vê a necessidade de limites prudentes sobre o poder e as paixões humanas”. É fundamental equilibrar e limitar o poder político. Qualquer representante que reine sem freios e contrapesos, sem as amarras institucionais, já governa um estado despótico. Ou quando todos podem fazer qualquer coisa, sem justa medida, o caminho inevitável é a anarquia, que gera tirania ou uma oligarquia (no sentido platônico). O conservador jamais deve aceitar ou acreditar na benevolência humana, a priori, ainda mais com alguém que possui poder. A natureza humana é imbuída de fazer o bem ou mal, pela sua própria imprevisibilidade. É preciso limitar e salvaguardar.


Décimo Princípio. “O conservador razoável entende que a permanência e a mudança devem ser reconhecidas e reconciliadas em uma sociedade vigorosa”. O conservador não é contrário às transformações. Toda sociedade tem duas forças operando: permanência e progressão. A permanência preza pela estabilidade e continuidade; a ausência destas propriedades pode abrir um grande abismo, levando humanos à completa desorientação e caos, distopias. A progressão é sintoma de espíritos talentosos que inspiram e incitam mudanças, desde que possam ser refletidos e moderados. O conservador deve conciliar a dimensão dúbia de qualquer sociedade. Sobre o progresso, os conservadores “opõem-se ao culto do progresso, cujos devotos acreditam que tudo que é novo é necessariamente superior ao que é antigo”. (p. 111). Assim, fazendo alusão ao corpo humano, o tecido social não é contrário às mudanças. “Um corpo que para de se renovar começa a morrer” (p.111)


Estão aí os 10 princípios de um conservador. Deixo a seguinte questão, só a nível de provocação: o governo brasileiro, e seus apoiadores incondicionais, é realmente conservador?


Até a próxima”



Referência. KIRK, Russell. A política da prudência. Tradução de Gustavo Campos e Marcia Xavier de Brito. São Paulo: É Realizações, 2013.


Fonte da imagem: https://www.erealizacoes.com.br/produto/a-politica-da-prudencia

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