Semana passada estava conversando com um membro do Soteroprosa sobre possíveis futuros para a humanidade. Em tempos de pandemia, a gente acaba imaginando outros tipos de situações colossais, tais como cataclismos, maremotos, guerras mundiais, armas biológicas, acidentes nucleares. Se o futuro seguir tal direção, e isso impactasse a própria existência dos estados nações, do sistema econômico vigente, o capitalismo, e a tecnologia, o que nos restaria como civilização? Por outra via, se não ocorresse nenhum colapso, que gere profundas rupturas, como seria o mundo novo?
Num primeiro cenário - colapso global e disrupção territorial, tecnológica, política e econômica - imaginemos uma terra arrasada depois de um caos. É possível, sim, imaginar uma sociedade que deverá repensar novas formas de convivência, mais comunitária. Num cenário provável destrutivo, com a degradação dos pilares da civilização atual, restaria a escassez completa. O pandemônio causado por algum titã natural, ou por fator humano, reduziria drasticamente a população e quase tudo que foi construído até hoje. A falta de recursos poderia levar as pessoas a compartilharem mais, visando o benefício coletivo, a serem mais recíprocas. O fruto da propriedade privada a fins particulares deixaria de existir. Nasceria um novo pacto social: os meios de produção seriam comuns, e não haveria pobre e rico. Neste novo mundo, o coletivo estaria acima do individual. A liberdade seria reflexo da igualdade social, e a consciência coletiva seria mais arraigada, fortalecida por novas formas de sociabilidade e construtos morais, laicos ou religiosos.
No cenário 2, o colapso global e a disrupção total poderia seguir um outro caminho: uma guerra de todos contra todos por recursos escassos. Confrontos generalizados. Aqui não existiria nenhum senso de partilha, além do círculo mais familiar. A realidade seria a luta de pequenos grupos pela sobrevivência, no salve-se quem puder. Homens e mulheres seriam objetos para quaisquer fins. Esqueça direitos humanos ou qualquer forma de direitos civis ou sociais. A batalha é do mais forte contra o mais fraco por moradia, estoque de alimentos, armas, utensílios em geral. Haveria disputas por territórios, lutas sangrentas, massacres a torto e a direita, e novas configurações de dominação e escravidão pós- apocalíptica. Um retorno ao mundo de paus e pedras. Haveria também divisões sociais e códigos de hierarquia baseadas em vários fatores. Filmes como Mad Max, Jogos Vorazes expressam o cenário distópico.
O cenário 3, o não colapso global e a continuação de estados nações e do capitalismo transformado. Como seria então nosso futuro? Mais desenvolvimento tecnológico e científico investido na robótica, na inteligência artificial, na engenharia genética e um novo padrão humano: os ciborgues. Computadores tornar-se-iam mais inteligentes que os próprios humanos, e até mais valorizados. Algoritmos escolheriam como as pessoas deveriam ser e seus gostos comuns. Fusões entre cérebro e computadores não seriam incomuns. E viveríamos numa sociedade bastante ultramegatecnocrática.
A engenharia genética, com a utilização da neurociência, seria aperfeiçoada ao ponto de algumas pessoas poderem pagar para escolher humanos mais inteligentes, criativos, fortes ou mais saudáveis. Super humanos! Seria privilégios de alguns, contudo. Será que as pessoas seriam amortais? Ou seja, não haveria mais morte biológica, e uso infinito de manipulação fisiológica. A ciência poderia ser capaz de impedir a mortalidade, mas qual custo isso teria para a humanidade?
Imaginem também muito mais controle do Estado sobre os corpos, com o uso de tecnologia hiper-evoluída. Neste cenário, a intervenção seria absoluta na sociedade. Não existira privacidade, pois concordaríamos que é melhor garantir vigilância para estabelecer ordem total. A linha entre público e privado deixaria de existir completamente. Esqueçam liberdade individual nos moldes atuais, nos países democráticos e liberais. A engenharia estatal vigiaria todas as pessoas visando eliminar crimes, ou qualquer discordância aos padrões vigentes. Eis a própria sociedade de controle levada ao seu máximo! Todos teriam uma espécie de chip no próprio corpo, identificando-os como cidadãos vigiados. Ninguém escaparia aos tentáculos da tecnopolítica.
Seria possível, por exemplo, ver o humor das pessoas, com algum tipo de tecnologia mega sofisticada, como no episódio de Black Mirror, Queda Livre, na terceira temporada, no qual determinados lugares só eram frequentados por indivíduos avaliados com bons comportamentos, sempre simpáticos e felizes, jamais irritados com as coisas do mundo. Seria também o cenário das repressões instintuais levadas ao extremo. Provavelmente haveria mais pessoas doentes, ao menos psiquicamente, e também pessoas mais solitárias. Também, relacionamentos virtuais com softwares e avatares imitando humanos, como no filme Her, estrelado por Joaquin Phoenix.
Os ricos continuariam cada vez mais ricos, monopolizando as maiores empresas do mundo, investindo em novas tecnologias e vendendo seus produtos a estados e indivíduos comuns. Certamente haveria muito investimento na construção de colônias espaciais e novas explorações galácticas a fins lucrativos. Imagine passar férias na colônia de marte? Mas, nesta realidade, as desigualdades seriam mais acentuadas, inclusive entre países.
Filmes, livros, séries e animes de sci-fi a cyberpunk e steampunk espelham tal realidade. Como ficou claro, vislumbro um futuro mais sombrio, com estados despóticos. Há quem tenha um olhar mais otimista.
Bem, outros cenários são completamente possíveis. Só fiz um pequeno exercício sobre três possíveis futuros para a humanidade.
Até a próxima!
Fonte da imagem: https://medium.com/futuro-exponencial/como-ser%C3%A3o-os-seres-humanos-daqui-a-1-000-anos-db378c928654