Por Francisco Assis*
A pandemia da Covid-19 está transformando as relações econômicas e políticas dos países. Neste processo sobressaiu-se um ponto fraco presente em diversas nações: a precariedade do complexo industrial da saúde. No Brasil essa fraqueza se apresenta cada vez mais nítida na medida em que o tempo transcorre e a pandemia se espalha, revelando um cenário de hospitais lotados e falta de equipamentos hospitalares apropriados para lidar com essa situação. A reconversão industrial se apresenta como uma alternativa que pode fortalecer a economia brasileira e permitir que o impacto da crise sanitária seja amenizado no curto, médio e longo prazo.
Ficou evidente a partir das ações do governo dos EUA, que reteve em seus aeroportos inúmeros carregamentos de material hospitalar para o combate à Covid-19 destinados para outros países, a necessidade nacional de investir na produção desses equipamentos. Como o processo de industrialização demanda tempo, um tempo que não se tem, a alternativa que se apresenta atualmente é através da reconversão industrial, que consiste na utilização da indústria local para atender o momento socioeconômico, alterando o conteúdo produzido para suprir as necessidades exigidas durante a crise. Assim foi feito em países como EUA e Reino Unido, que alteraram o conteúdo produzido pelas montadoras de veículos direcionando-as para a produção de respiradores pulmonares.
Esse procedimento guarda semelhanças com a denominada “Economia de Guerra”, pois quando um país está em um conflito bélico é possível projetar parte considerável da sua capacidade produtiva para a produção de insumos, equipamentos, armamentos etc. para atender as necessidades da guerra, havendo, consequentemente, um aumento dos gastos públicos. Por esse motivo alguns economistas têm considerado o cenário de guerra semelhante ao período atual, especialmente por entenderem que é uma guerra contra um inimigo invisível, a Covid-19. No entanto, assim com na “Economia de Guerra”, é imprescindível que a realização da reconversão industrial seja realizada sob a proteção do Estado.
Apesar de no Brasil ter havido atitudes importantes como a doação de álcool em gel por parte de usinas do setor sucroalcooleiro e fabricantes de cervejas ao Sistema Único de Saúde (SUS), e a iniciativa do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) de São Paulo em capacitar representantes de montadoras da indústria automobilística para o reparo de respiradores artificiais, é necessário o apoio do Governo Federal para que a produção com fins em produtos hospitalares venha a ser implementada dentro de um sistema organizado e em grande escala.
Uma das maneiras de o Governo Federal executar a reconversão industrial é através do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), que possui R$ 100 bilhões em caixa que podem perfeitamente ser usados para reorientar e adaptar o parque industrial para a produção de equipamentos hospitalares direcionados ao enfrentamento do novo coronavírus.[i] Seria possível também importar produtos hospitalares destinados ao enfrentamento da pandemia, mas além do fato de se correr o risco de confisco desses produtos por parte dos EUA, como se tem visto, com o dólar em alta (acima de R$ 5,00) a importação pode ser mais dispendiosa do que a reconversão industrial.
A falta de incentivo financeiro para a indústria brasileira por parte do Estado ao longo dos anos demonstrou ser fatal neste período de crise. Todavia, ainda há tempo para que não se agrave ainda mais os danos da pandemia. Resta saber se o Governo Federal será pressionado o suficiente para ceder e auxiliar na sistematização do processo de reconversão industrial.
* Graduado em Filosofia e Economia e doutor em Filosofia pela UFBA
Fonte da imagem: https://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2020/04/centrais-industria-respiradores-combate-coronavirus/
[i] https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/transparencia/recursos-do-tesouro-nacional