A inflação é um fenômeno bastante conhecido dos brasileiros, o aumento geral do nível de preços faz parte da história da economia do país, mas pouco se sabe sobre outro fenômeno igualmente temeroso: a deflação. Aos poucos, com o decorrer da crise econômica e sanitária, a deflação começa a surgir no horizonte econômico do Brasil.
A deflação é o inverso da inflação, representa a diminuição geral dos preços no mercado. Em princípio parece algo positivo, pois se os preços baixam, melhor ainda para comprar os produtos e serviços ofertados. Mas em se tratando de uma economia capitalista, a situação não é tão positiva quanto aparenta ser. Por duas questões muito simples! Em primeiro lugar porque a causa da deflação já constitui em si um problema, ela advém de um quadro prolongado de recessão econômica: queda da produção, aumento do desemprego, diminuição da taxa de lucros e aumento do número de falências e concordatas. O segundo motivo é dado por aquilo pelo qual se constitui a deflação, a saber, uma expectativa generalizada em relação à tendência de diminuição dos preços, ou seja, à medida que os preços caem as pessoas tendem a acreditar que esses preços continuarão a cair e, assim, poupam recursos esperando a chegada desse momento.
Essa expectativa gera uma queda vertiginosa e geral de preços a um custo igualmente danoso ou maior para a economia caso se tratasse de uma inflação, pois se as empresas estão vendendo a um preço abaixo do custo que tiveram para colocar o produto e/ou serviço no mercado, estarão obtendo prejuízo. Dessa forma, tenderão a dar início a um processo de demissão em massa.
O principal momento deflacionário no Brasil ocorreu como desdobramento da Crise de 1929 nos EUA. O Governo do presidente Getúlio Vargas interveio comprando e queimando milhões de sacas de café para poder garantir preços mínimos de compra. Essa foi uma ação que manteve o nível de emprego da economia exportadora e de outros setores vinculados ao mercado interno. Mas é possível, no atual momento, combater a deflação de outras formas? Sim.
Uma das formas é por meio da diminuição da taxa de juros para estimular o consumo, mas como esta já está baixa no Brasil (3%), é possível operacionalizar por outra via, através da emissão de moeda pelo Banco Central, colocando mais dinheiro em circulação. Essa medida permite a criação de um poder de compra que antes não existia.
Em uma situação normal, isto é, sem crise econômica, a emissão de moeda pode gerar inflação, pois havendo um aumento do poder de compra das pessoas, se intensificaria a demanda por bens e serviços, o que por sua vez levaria as empresas a aumentar os preços dos produtos ofertados. No entanto, em um cenário de crise econômica essa lógica não se aplica.
Outro modo de lidar com a deflação é por meio do endividamento público, algo que inúmeros países têm feito por conta da pandemia do novo coronavírus. Por este caminho é possível emitir moedas para pagar dívidas. Novamente isso seria impensável em um cenário econômico estável, pois geraria um quadro inflacionário ao aumentar o poder de compra da população, mas toda crise é uma situação atípica, onde os dogmas econômicos são postos em suspensão.
No atual cenário econômico crítico, agravado pela pandemia da Covid-19, a emissão de moeda não gera inflação, mas pode segurar os preços em um determinado nível e aquecer a economia. Entretanto, o Brasil conta com a possibilidade de não emitir moeda neste momento, uma vez que o Tesouro Nacional tem em caixa R$ 1 trilhão que poderia ser usado para movimentar a economia.
De qualquer forma é um momento complexo para a sociedade brasileira e as medidas econômicas precisam ser aplicadas com urgência, mas, por outro lado, devem ser planejadas para não agravar ainda mais a situação do país, principalmente porque essas medidas devem estar atreladas às políticas sanitárias. Seria ineficiente qualquer política econômica de combate à deflação desvinculada de medidas de ordem sanitária. Atravessar essa crise exige atenção, mas também ousadia para ir de encontro aos dogmas dos manuais de economia.
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