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Foto do escritorEquipe Soteroprosa

A Central Única das Favelas e o combate à Covid-19

Dentre as ações que têm sido realizadas para auxiliar a população no enfrentamento da Covid-19, a Central Única das Favelas (CUFA) tem feito um trabalho inigualável de grande esforço. Com uma estrutura incomparavelmente inferior ao aparelho estatal, a CUFA age de modo a proteger a população que reside nas favelas do país a partir de ações voluntárias de seus associados, assim como daqueles que não são.


É notória a falta de planejamento por parte do Governo Federal para o enfrentamento da Covid-19, cujo número de vítimas vem aumentando a cada dia. No entanto, uma rede de solidariedade foi se constituindo desde o início da pandemia para dar um suporte, sobretudo, alimentício, para as diversas famílias que padecem sem uma renda que lhes permita viver com dignidade. A CUFA faz parte dessa rede solidária de amparo às famílias que necessitam de auxílio para sobreviver.


A CUFA foi fundada em 1999 por um trabalho conjunto entre Celso Athayde e MV Bill, que rapidamente contou com o apoio de outras figuras como Preto Zezé, Anderson Quack, Nega Gizza, Manoel Soares e Renato Meirelles, pessoas interessadas em desenvolver uma entidade voltada para a população que morava nas favelas. De acordo com o último censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) havia no Brasil 11,4 milhões de pessoas residindo em “aglomerados subnormais” (denominação usada pelo IBGE para caracterizar as favelas). Mas um mapeamento recente, executado pelos institutos Data Favela e Locomotiva, contabilizou 13,6 milhões de pessoas morando em comunidades, um aumento de 20% em quase uma década.


Diante da crise atual essas populações contam com o benefício do Governo Federal para sobreviver, embora, devido a diversos empecilhos técnicos e burocráticos, nem todas as pessoas tenham conseguido receber esse benefício. A crise intensificou os problemas e deixou a população que reside nas favelas em situação precária. Para estas famílias a CUFA desenvolveu um programa denominado “Mães da Favela”. Este programa, que já conta com o apoio de várias personalidades do meio artístico musical (o que permite dar maior visibilidade à iniciativa), consiste na entrega de cestas básicas (cada uma equivalente a R$ 120,00) ou em um benefício, batizado de “vale-mãe”, no valor de R$ 120,00 durante dois meses, via aplicativo PicPay. O programa social, que faz parte do projeto “CUFA Contra o Vírus”, abrange 17 estados e o Distrito Federal. Tanto as cestas físicas quanto as cestas digitais são formadas por meio de doações.[i] Essas cestas são entregues para as mães de família. E por que para as mães? Segundo Celso Athayde: “Porque elas cuidam dos filhos, muitas vezes trabalham no emprego informal, costurando, fazendo unha, e ainda cuidam dos velhos. Porque todos os velhos, 90% dos idosos das favelas, são as mulheres que cuidam: sejam noras ou sejam filhas.”[ii]


É preciso ressaltar que a criação do programa “Mães da Favela” não existia antes da pandemia. A sua concepção se deu por conta das dificuldades econômicas trazidas tanto pela Covid-19 quanto pela ausência do Estado no auxílio às comunidades no momento da crise. Essa ênfase deve ser feita porque de acordo com o Data Favela e a Locomotiva, as favelas no Brasil eram responsáveis por movimentar uma economia de R$ 119,8 bilhões por ano. Mas a pandemia alterou significativamente esse cenário.


Em uma situação anterior à pandemia as favelas revelavam um potencial econômico que há muito foi negligenciado tanto pelo Estado quanto pelo mercado (grandes empresas). O imaginário social construído acerca das favelas foi permeado de preconceitos e ao longo da história existe a marca da violência estatal contra as comunidades marginalizadas. No entanto, a “carência”, usada como instrumento ideológico para estigmatizar a população das favelas, não é algo inerente a ela. Pelo contrário, tal como nas palavras de MV Bill: “A favela é reduto da criatividade, da invenção, do empreendedorismo pleno, das artes, dos afetos e da solidariedade.” (MEIRELLES; ATHAYDE, 2014, p. 17).


Foi a partir da observação do potencial das favelas que Celso Athayde, presidente da CUFA, criou a Favela Holding. Uma holding é uma forma de sociedade, uma empresa-mãe, que administra um grupo de empresas com a finalidade de intensificar e fortalecer o fluxo econômico do grupo e a sua relação com o mercado. A Favela Holdig, fundada em 2013, atua na área do empreendedorismo comunitário, fomentando negócios capazes de criar emprego e renda, voltados, primordialmente, para a promoção social e econômica das favelas e de seus moradores.


Portanto, o potencial socioeconômico das favelas existe, mas neste momento de pandemia houve uma contração dessa capacidade e a CUFA faz um papel extremamente importante para salvaguardar essas famílias. Em um mundo pós-pandemia esse potencial será retomado, mas até lá, um planejamento mais elaborado e que consiga abarcar toda a população das comunidades (e também das pessoas que estão em situação de rua) é um dever do Estado.


A CUFA, através do programa “Mães da Favela” está conseguindo, com muita dedicação e trabalho voluntário, levar cestas (físicas ou digitais) para as mães de família. Mas a crise irá perdurar e as doações podem vir a diminuir, por isso o apoio do Governo Federal é fundamental para a sobrevivência das pessoas que moram nas favelas do Brasil.


Referência Bibliográfica


MEIRELLES, Renato; ATHAYDE, Celso. Um País chamado Favela: a maior pesquisa já feita sobre a favela brasileira. São Paulo: Editora Gente, 2014.


[i] https://www.youtube.com/watch?v=aOXZNLmWJMI


[ii] http://cufa.org.br/noticia.php?n=Mjg1

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