top of page

EM MOMENTOS DE CRISE, PRECISAMOS DE LÍDERES!!!



Não sei quanto a vocês, mas acho extremamente frágil manter o pressuposto da emancipação individual em sociedades de massa. O pressuposto idealizado de autodeterminação, self-government e consciência cidadã independente, conhecedor do funcionamento das instituições republicanas, democráticas e liberais, torna-se cada vez mais pueril.


Em sociedades de massa, quem tem decidido as eleições não é o cidadão esclarecido sobre política e suas funcionalidades técnicas/burocráticas e plataformas ideológicas partidárias. Pelo contrário. Quem decide as eleições são eleitores com precário senso de realidade e responsabilidade política. Na prática, é o cidadão médio, que age de forma pragmática. Esse pragmatismo pode estar totalmente desconexo do que se espera de um habitante consciente e educado sobre seus direitos e deveres.


No período de disfuncionalidade ou colapso das instituições ditas democráticas e liberais (legislativo, imprensa, executivo, judiciário,) ou agravamento de crises capitalistas, sempre em voga, o que o cidadão médio procura? Ele busca, leitor(a), alguém que atenda seu anseio; que lhe dê solução simples e imediata ao problema. Ele espera discursos que lhes dê expectativa de dias melhores. Esperanças de um futuro renovador. Esperanças que beiram, sim, a algum tipo de utopia genérica.


Em momentos de anomia social, para usar um termo de Émile Durkheim, ou crises de hegemonia, citando o italiano Antonio Gramsci, surgem figuras que prometem ao povo algo diferente. Novo. Reconstrutor. Geralmente avesso à política tradicional. Mas o que está por trás desse algo novo pode ser uma inclinação, ou mesmo um projeto, visando o desmonte de algumas instituições e a perda de direitos e liberdades. Pode indicar também exclusão de grupos sociais.


Nas eminentes tensões agudas, como devem agir os postulantes democratas? Primeiro, entender, de uma vez por todas, que é o discurso inflamado, carregado de emoção, o aglutinador de pessoas. Historicamente sempre foi assim. Para o bem ou para o mal. Discursos muito complexos, elaborados, alienígenas, que envolvem dados, estatísticas demasiado abstratos, mostraram, em tempos atuais, ser ineficientes quando há desconexão entre os interesses da população e do sistema político/partidário.


É preciso formar líderes democráticos, personalidades fortes e e carismáticas para concorrer igualmente com líderes autoritários.


Temos que suspender o olhar muito romantizado, dos teóricos modernos, sobre um possível cidadão super esclarecido no que tange a operacionalidade das instituições modernas e dos valores liberais. Em períodos de disfuncionalidade, que geralmente causam pânico e medo nas pessoas, devido a um futuro incerto, a estratégia deve ser outra. A excepcionalidade demanda políticos de virtù, parafraseando Maquiavel, capazes de enxergar o momento adverso. lê astutamente a realidade. Nas crises, as pessoas querem esperança!


Não será possível conciliar o discurso de fortalecimento das instituições com uma linguagem de esperança, mesmo que tenha que envolver discursos genéricos, pragmáticos, por vezes demagógicos e utópicos?


É necessário, a fim de reconquistar a legitimidade, eficiência e a importância das instituições vigentes, abrir mão da complexidade. Manter um mesmo discurso político-eleitoral em tempos instáveis, concorrendo com discursos populistas autoritários e inflamados, capazes de alcançar o coração e atingir as expectativas das pessoas, a curto prazo, é um risco muito alto. É colocar em xeque a própria existência da democracia representativa, que outrora partiu do pressuposto de um cidadão educado para vida cívica e responsável por acompanhar, diariamente, os negócios públicos.


Se as instituições estão fragilizadas; se a cultura política continua seguindo rumos autoritários, iliberais e antidemocráticos, os discursos de campanha, repito, devem ser diferentes. Na turbulência social, a ação política precisa ser mais pragmática, funcional, se quiser chegar ao poder a manter a dominação. Deve-se suspender, por ora, o anseio de uma pedagogia eleitoral, com cidadãos esclarecidos sobre a parafernália do Estado Democrático de Direito.


Sem dúvida, o argumento é conservador, no sentido de desacreditar na racionalidade do cidadão na defesa dos pilares do Estado moderno. Mas sejamos realistas!


Em momentos agitados, a ação política não pode mover-se em discursos muito sofisticados, técnicos demais, racionalizantes, deslocados do mundo da vida. Deve-se mirar nos corações dos homens e mulheres. Importa falar dos anseios práticos e imediatos. Não dá para abrir mão do líder carismático: este tem um poder assombroso. Se não é possível flechar todos os corações, basta uma maioria suficiente para chegar ao poder sem precisar da fortuna, isto é, da sorte.

Link da imagem: https://www.tudodesenhos.com/d/lider

27 visualizações2 comentários
bottom of page