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DOR E GLÓRIA – SIMPLESMENTE ALMODÓVAR

Hoje eu podia falar de como o racismo, a violência policial e os micros racismos (se é que podemos chamar assim, porque afeta tanto quanto) me atravessaram esse mês no trabalho, nas notícias, nos feeds e nos stories. Podia falar de quanto as pessoas brancas precisam estudar sobre branquitude muito mais do que falar do negro ou sobre o negro.


Hoje eu não vou falar sobre essa temática, porque eu sou mais do que isso. Sou cineasta, produtora cultural, comunicóloga. Sou filha, prima, namorida, amiga, abian.


Sou mulher.


Fui adotada por uma cadela que é só amorosidade e cuidado chamada Norah Jones.


Pois como diz Emicida na letra Amarelo na voz marcante de Vittar:


“Permita que eu fale, não as minhas cicatrizes Achar que essas mazelas me definem, é o pior dos crimes É dar o troféu pro nosso algoz e fazer nóiz sumir”


Hoje vou falar de cinema. De Dor e Glória, última obra do cineasta espanhol Pedro Almodóvar. O longa disputou a Palma de Ouro em Cannes, e Antônio Bandeiras ganhou como melhor ator no festival francês.


Dor e Glória traz uma reflexão de Almodóvar sobre sua vida e obra. Com uma montagem que transita entre o passado e o presente, tem cheiro, cor e sabor da Espanha mais sentida.


Como é bom me reencontrar com as cores de Almodóvar. Essa cor pulsante que para mim é como escutar um flamenco nas Covas de Granada. Essa diversidade de tons e de cores que transmitem sensações e sentimentos.


Em Dor e Glória, me reencontrei com o Ser Espanhol em sua essência. Com esse humor ácido, com essa tipicidade que só encontramos nesse lado da Península Ibérica. Essa Espanha profunda que come tablete de chocolate no pão, que toma café no bar com tortilla de batata, que cura presunto serrano na própria casa, que pendura chorizo na cozinha. Tudo isso regado a vinho.

Essa Espanha dos povoados, dos encontros de mulheres na bica.


Em contraposição, Almodóvar também mostra essa Espanha viva, ácida, mordaz e solitária das grandes cidades que pulsa por vida. Essa Espanha conservadora, permeada pelo bem e mal do catolicismo e da supremacia do reinado em tempos modernos. Um país onde não vejo a diversidade de expressões, onde LGBTQ+ ainda têm que ser discretos e não mostrar sua essência com liberdade. Só em alguns espaços nas grandes cidades que são como específicos para a comunidade. Sei que aqui, no Brasil, não estamos no ideal, mas comparando com a Bahia, a Espanha ainda tem que aprender muito sobre diversidade.


Como é bom me reencontrar com esse Almodóvar que ao mesmo tempo imprime na tela sensibilidade e intensidade, nos enchendo de gotas de emoções. Ele fala de cotidianos, de gênero, de ausências e de amor. Em vários momentos do filme oscilei entre olhos lacrimejantes e sorrisos.


Quem não viu, aproveita pra vê essa obra maestra que entre lembranças e reencontros nos faz simplesmente nos encontrar com a vida.


Foto: Adorocinema

Correção Ortográfica : Iêda Gouveia



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