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Bolsonaro e o Brasil como pária internacional e país sem futuro



No dia 22 de setembro, Bolsonaro fez, pelo segundo ano consecutivo, o discurso de abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, seguindo a tradição de o Brasil abrir esse evento anual. Entre mentiras, delírios e esquizofrenia, faço aqui uma ligeira análise de sua fala, que como recurso interpretativo, dividi em quatro partes.


A primeira parte do discurso do chefe de Estado brasileiro destaca a pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos, aqui no país. Nela, Bolsonaro utiliza a lógica da delegação ou transferência de responsabilidade, quando, esquivando-se de assumir minimamente a culpa por sua criminosa falta de ação e iniciativa diante da atual crise sanitária nacional, pôs a responsabilidade pelos desdobramentos desta no poder judiciário, com sua decisão pela prevalência das ações sanitárias locais e estaduais sobre as federais, no tocante ao combate à disseminação do novo coronavírus. Aqui fica implícita a fala do “as instituições nesse país não funcionam, pois elas me impedem de atuar!”, perspectiva esta que o acompanha desde antes da campanha e da qual parece jamais pensar em abrir mão.


E o festival de bolsonarismos só está começando! É chegada a vez de culpar a mídia (leia-se Globo, Folha de São Paulo e alguns outros grupos destoantes de seus valores de extrema-direita) por ter politizado a pandemia. Como seria a politização de uma pandemia? Caso a mídia mostre a quantidade diária de mortes, contaminação e a taxa de ocupação de unidades de terapia intensiva estaria ela politizando uma pandemia? A meu ver, politização teria sido a opção de não mostrar, pois estaria encobrindo números, dados, enfim, evidências de uma tragédia. Mas aí seria uma politização boa para ele, Bolsonaro, e logo não seria bem politização, segundo sua lógica.


Mais a frente, Bolsonaro cometeu a proeza de numa mesma fala dizer que seu governo ouviu os melhores especialistas para tomar as decisões corretas, ainda em relação à pandemia, e citar a hidroxocloroquina, ao afirmar que o mundo não pode ficar refém de poucos países, quanto à produção de insumos medicamentosos, dando o exemplo do aumento de 500% no valor do famigerado fármaco. Numa mesma fala jamais caberia a citação a um medicamento que não tem qualquer eficácia comprovada contra uma determinada doença e dizer que ouviu os melhores especialistas da área de saúde para formular programas e políticas de fortalecimento ao combate dessa mesma moléstia. Mas no mundo discursivo bolsonarista, coerência é o que menos importa (convenhamos, ela até atrapalha!).


A segunda parte do discurso, que versa sobre economia e tecnologia e que foi o trecho menor de sua fala, o chefe do clã bolsonarista afirma que o Brasil está aberto a parcerias com outros países na exploração de tecnologias como a indústria 4.0, a nanotecnologia e a internet 5G. Neste último ponto, para salvar seu uniforme de capitão sabujo do governo de Donald Trump e, ao mesmo tempo, evitar retaliações comerciais da China a produtos brasileiros, ela que é o nosso maior consumidor de alimentos e commodities, o presidente demonstrou a habilidade política que o fez passar de deputado inexpressivo e do baixo clero a presidente da República Federativa do Brasil, empurrando com a barriga a definição pela opção entre o padrão 5G norte-americano e o chinês. Esse ponto foi realmente digno de aplausos, posto que numa só fala ele garantiu sua posição de lambe-botas da extrema-direita estadunidense adiando, ao mesmo tempo, a perda o mercado Chinês – e, nessa linha, futuramente a cabeça, a mando de um agronegócio tomado pela ira...


E por falar em agronegócio, o capitão encerra a fala desta segunda parte exaltando a manutenção da pujança das exportações do campo mesmo durante a pandemia. Esqueceu tão somente de destacar que ele e seu governo não possuem mérito algum na condução desse próspero setor econômico. Muito pelo contrário, e seria pedir demais querer que ele, mentiroso inveterado, reconhecesse que mais atrapalhou que ajudou a setor, nesse período, ao ter delegado ao patético chanceler Ernesto Araújo a função de, desde o início de seu mandato, para agradar à aliança entre a extrema-direita ianque e a judaica, criar atritos com os países árabes, que estão entre os nossos principais compradores de carne.


Chegamos à terceira parte do discurso de Bolsonaro, que diz respeito aos problemas ambientais e a política de seu governo diante destes. Aqui, o nível de canalhice chega a um patamar himalaico. O negacionismo típico de seu reacionarismo fica claro na negação de fatos, dados e na manipulação de contextos, ou seja, no que ele e os seus são experts. E, assim, ele diz em alto e bom tom que não houve um aumento no ritmo de desmatamento no país, desconsiderando dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o INPE, e de quebra ainda acusou caboclos e indígenas de responsáveis pela proliferação das queimadas, que, segundo ele, se davam por conta da consecução de suas atividades sazonais no trato da terra.


A lógica é muito cretina, isto é, primeiro é importante negar qualquer alteração no ritmo de queimadas com relação aos anos anteriores, para em seguida dizer que índios e caboclos, povos que vivem em harmonia com a natureza local há séculos, no caso dos primeiros, há milênios, são os responsáveis por esse fogo anualmente, processo que estaria totalmente dentro de controle e que parte da grande mídia estaria superestimando para, claro, derrubar seu governo! E tal safadeza vem acompanhada da venda ao mundo da imagem de seu governo como exemplar no combate às agressões ao meio ambiente, o que teria se dado, inclusive, na tentativa frustrada de regulação do mercado de carbono no Acordo de Paris por parte do governo brasileiro, lamentou o capitão. O detalhe é que não foi a sua gestão que participou do acordo, mas justamente o governo de Dilma Rousseff, ao qual tanto atacou de maneira inclusive criminosa, ao elogiar um estuprador e torturador ao votar sim para o seu impeachment.


O discurso descamba para a sabujice e subalternidade aberta, em sua etapa final, com rasgação de seda para Donald Trump no tocante ao acordo israelense-palestino proposto pelo fanfarrão que comanda a Casa Branca. Além disto, na tentativa de vender a imagem do Brasil como atraente para os mercados estrangeiros, sua fala inflou a dimensão acerca dos investimentos externos no país no ano passado e no atual, afirmando que as reformas e marcos regulatórios que o governo vem implementando ajudaram a melhorar os investimentos externo, desconsiderando propositalmente o fato de que os marcos legais e a reforma previdenciária têm todos muito pouco tempo para se possa mensurar os impactos efetivos desses regulações na economia nacional e nas contas públicas, ao mesmo tempo em que as outras reformas ainda não foram aprovadas, sendo que a tributária ainda nem foi apresentada ao congresso nacional.


No desfecho da trama, para que fique claro que sempre é possível se superar em estupidez, quando se trata de Bolsonaro, ele clama à comunidade internacional para que a cristofobia (sic) seja combatida e afirma que o Brasil é um país conservador e que tem na família a sua base. Noutros termos, se a comunidade internacional tinha ainda alguma dúvida de que as portas do inferno teocrático do nosso país tinham sido abertas, não restou mais qualquer sombra dela, pois ficou evidente que portas e portões foram escancarados com força hercúlea por Bolsonaro, Olavo de Carvalho e toda sua horda de seguidores zumbis. E se a frase de que o Brasil é o país do futuro ainda rondava o imaginário internacional, essa trupe doentia acabou de enterrá-la de vez nos porões do obscurantismo e da picaretagem ideológica. E pobre de um país que não pode nem mais sonhar em ser o país do futuro...



Link da imagem: https://www.cnnbrasil.com.br/business/2020/07/12/brasil-virou-paria-do-investimento-internacional-diz-ex-presidente-do-bc

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