Sob Susi pedalando pela ciclovia de Ilhéus. Na sua garupa, observando as ondas da orla do Pontal e o balançar de nossas sombras unidas ao seguir em frente. A brisa fresca acompanhada do céu anil: bebida gasosa mais gostosa. O grau de afeto esquentando meu peito perdia a dimensão dos sentidos. Enquanto você se esgueirava entre curvas, descidas e subidas, não sentia medo por confiar em você. – Estávamos dispostos a cair juntos, levantar juntos e rir disso durante o processo. Nosso caminho é tão singular. Levantei o rosto e fechei os olhos, eternizando aquele momento pra mim.
– Eu poderia viver esse momento para sempre.
Na ecobag, uma câmera com lente de 25mm. Sua sina, meu trabalho – seu futuro. Seus olhos distraídos cobertos pela lente fotografando pombos. “Pru”, você chama em pombuês, na esperança de seus modelos chegarem mais perto – A 25mm não tem zoom.
O sol frio do fim de tarde do verão baiano nem ao menos tenta queimar nossas costas – apenas esquenta, de forma maternal. Trouxemos água numa garrafa de plástico que agora tinha outra função: aparar seu orí. Tal fato esclarece a necessidade de uma confortável almofada à beira mar. Deitado, decidiu me fotografar. Me pega do ângulo torto horizontal. Empolga-se e levanta-se com ímpeto, passando a caminhar ao meu redor enquanto escrevo isso. Afastou-se para me enxergar sob a lente em plano aberto – A 25mm não tem zoom.
Quando finalizo o parágrafo com a caneta torta e cansada, viro meu rosto em sua direção e me surpreendo: Você agora estava deitado sob a areia para me enxergar de um ângulo melhor. Rio e dou a ele um flash risonho, sincero, infinito e espontâneo. Pergunto-me se ele já esperava por essa reação. Relembro que a 25mm não tem zoom.
Ao voltar em meu encontro, percebo seu abdômen sujo de areia. Deixou a câmera do meu lado e correu em direção ao mar. E agora, é meu momento de fotografá-lo. Escondi meu olhar sob a lente, enxergando-o sem foco até consertá-lo. Lembrei que configurei a câmera para o dia perfeito: ISO 400, abertura do diafragma 1.8 e velocidade do obturador, 1/100. A 25mm não tem zoom.
Caminhou em minha direção com seriedade até me flagrar. Depois que se percebeu observado, fez poses cômicas com a finalidade de me constranger. Não conseguiu – Mas o cartão de memória havia chegado ao seu limite.
– “Vamos tomar um banho de mar?” – Ele pergunta, ainda molhado do último mergulho.
– Amor, hoje eu só vim à praia para fazer poesia.
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