“Você é viado, porra?” Quem nunca falou ou ouviu essa expressão popularmente soteropolitana que inevitavelmente entra na mira da vigilância dos politicamente corretos? Por outro lado, quem não acompanhou a repercussão negativa dos conservadores, ditos cristãos, sobre o show de Madonna no Rio de Janeiro (que até hoje rende) e que, ao contrário do show do dito conservador cristão Leonardo, exibindo mulheres nuas ou seminuas em coreografias que mais pareciam ter como finalidade excitar a plateia, a rainha do pop apenas, e como sempre, provocou os telespectadores a se defrontarem com a realidade da diversidade de corpos, pensamentos e modelos de vida que EXISTEM?
No intricado tecido da sociedade contemporânea, o conservadorismo cristão muitas vezes tece uma tapeçaria de hipocrisia e cinismo quando se trata de questões relacionadas à sexualidade. Esta vertente do conservadorismo, enraizada em interpretações estritas das escrituras religiosas, muitas vezes revela uma contradição dolorosa entre os princípios proclamados e as ações tomadas. O medo dos heterossexuais em relação à homossexualidade é um tema central neste contexto.
Dentro do conservadorismo cristão, a homossexualidade é frequentemente vista como uma abominação, uma violação dos preceitos divinos que regem a sexualidade humana. Este medo é alimentado por séculos de doutrinação religiosa, que retrata a homossexualidade como uma ameaça à ordem natural estabelecida por deus (com letra minúscula porque nunca sabemos de que divindade realmente se trata).
Celebridades que aderiram ao conservadorismo muitas vezes reforçam esses temores, usando sua influência para promover uma agenda que marginaliza e discrimina os indivíduos LGBTQAPN+. Figuras como Kanye West e Kirstie Alley, que outrora desafiaram as normas sociais com sua arte e sua personalidade, agora encontram-se alinhadas com o conservadorismo, propagando mensagens que reforçam estereótipos e preconceitos arraigados.
Madonna, uma das artistas mais provocativas e influentes de todos os tempos, há muito desafia as convenções sociais e religiosas em sua música e em sua vida pessoal. Em sua obra, ela frequentemente aborda temas de sexualidade e liberdade pessoal, desafiando as normas estabelecidas e defendendo o direito de cada indivíduo de amar e expressar-se como desejar.
Em seu mais recente show no Brasil, Madonna mais uma vez provocou controvérsia ao abordar questões de gênero e sexualidade de forma franca e aberta. Suas performances ousadas e suas mensagens políticas desafiaram as sensibilidades conservadoras, mas também inspiraram um movimento de aceitação e empoderamento entre seus fãs. No entanto, mesmo diante da influência de figuras como Madonna, o conservadorismo cristão continua a exercer um poderoso domínio sobre a mente de muitos, perpetuando o medo e o preconceito contra aqueles que desafiam as normas tradicionais de gênero e sexualidade.
Aos conservadores é preciso mais coragem para serem mais honestos com os fatos e empáticos na vida, e para isso é preciso muita coragem. Suas covardias, hipocrisias e cinismos quando seus semelhantes praticam atos por eles reprováveis e a criação de defesas espetaculares se faz imediata exemplificam a falta de coerência e de princípios cristãos, pois o exemplo que estes tanto defendem, o Jesus Cristo dos pobres, dos necessitados, dos excluídos disse taxativamente: “Não julgueis e não sereis julgados”. “Pois, vós sereis julgados com o mesmo julgamento com que julgardes; e sereis medidos, com a mesma medida com que medirdes” (Mt 7, 1-2). Ou será que na bíblia dos conservadores alguém apagou essa passagem?
A luta pela igualdade e pela justiça continua, enquanto indivíduos e comunidades lutam para superar as barreiras impostas pela intolerância e pela ignorância. À medida que a sociedade avança e evolui, é fundamental desafiar as ideias e crenças que perpetuam a discriminação e o ódio.
Somente através do diálogo aberto e da compreensão mútua podemos superar o medo e a desconfiança que muitas vezes nos dividem, construindo um mundo onde todos são livres para amar e ser quem são, sem medo de represálias ou julgamentos.
Me impressionou ler textos de mulheres intelectuais de esquerda com notoriedade da internet aproveitarem o show da Madonna para dizerem que ela (e Anitta, que fez parte do show) está puramente a serviço do machismo ao se vulgarizarem se sexualizando. Quer dizer… as mulheres não têm direito a se sexualizarem para seu prazer? É claro que essa sexualização é paradoxal. Ela lida com um tabu, mas também é um produto de mercado super lucrativo. Madonna é milionária, é parte do problema de classes. Mas reduzir tudo dessa forma é muito simplista. Sim, ela é milionária, sim ela se sexualiza do jeito que os machos gostam… mas Madonna também bateu de frente com a igreja, foi excomungada, apoiou a comunidade lgb…