AFINAL, É SÃO JOÃO OU FESTA DA COLHEITA???
- Carlos Henrique Cardoso
- 27 de jun.
- 3 min de leitura

São João já passou, mas rolou um assunto recentemente que posso garantir: dessa eu não sabia! Foi uma reportagem, do jornal A Tarde, sobre um aparente novo rumo nas comemorações de final de semestre em alguns colégios de Salvador e Região Metropolitana. Quem é radicado na Bahia e estudou por aqui, sabe que em junho rola as comemorações juninas nos colégios, com ensaio de quadrilha, comidas típicas levadas pelos alunos, um forrózinho, bandeirolas, chuvinhas e traques (pelo menos nas escolas particulares). Eis que alguns pais foram pegos de surpresa ao se depararem com esse formato tradicional, mas com um nome diferente pra isso: ao invés do “Viva a São João” estava lá “Festa da Colheita”. Como é que é???
Na matéria, mães de alunos se mostraram surpreendidos com isso. No entanto, indicaram que essa mudança teria a ver com a religião professada pela diretora da escola, ou seja, protestante. Assim, foi detectado que na hashtag #festadacolheita, nas redes sociais, havia vários colégios da cidade celebrando aquilo que todos nós comemoramos no mês de junho, mudando a nomenclatura. Os símbolos são os mesmos. O problema todo tá no nome do santo...
Segundo consta na Bíblia, essa tal Festa da Colheita (que também leva o nome de Pentecostes) era uma celebração agrícola que marcava o fim da colheita de vários produtos, com louvores a Deus pela fartura, apresentando sentido metafisico. Sabemos que exatamente no mês de junho ocorre a mudança de estações, o solstício de inverno, no qual colhemos o que foi plantado lá no inicio do outono, no dia de São José, sobretudo o amendoim, o milho, e a laranja, as motrizes da alimentação desse período. Há, portanto, uma ligação entre dois santos, caracterizando uma forte influência católica nesse interregno. Notem que é semelhante à passagem bíblica, o que conota a troca de referenciais, do São João pra “Festa da Colheita”.
E é justamente o que temos que perceber: a troca de termos significa a anulação dos marcos católicos. A predominância do pensamento evangélico tende a modificar os ambientes institucionais, o que já é observado por vários especialistas. Já tivemos baiana de acarajé tentando vender nossa famosa iguaria como “Bolinho de Jesus”, lembram? Então, a presença maciça de cristãos, pertencentes a variadas denominações, pode vir a ocasionar visões doutrinárias, como se quisessem deixar a marca de seus preceitos onde quer que estejam presentes. No momento, as representações são as mesmas. Depois, uma novidade aqui, outra ali, um ritmo novo, as fogueiras vão desaparecendo, surge um conceito diferente.... E autoridades escolares levando seus ritos particulares para o público, fazendo de sua sacralidade um campo de atuação corporativo.
A utilização do “contexto da cultura como campo de guerra” - como afirma uma especialista em educação, nessa mesma reportagem - parece ser o foco de alguns evangélicos, como no exemplo citado da “Festa da Colheita”. Ideias de novos modelos demonstram força coletiva. Assim vão surgindo “Associações de Educadores Evangélicos” ou coisas do tipo, para instituírem suas visões dogmáticas na vida institucional. E não é só evangélico não, os próprios católicos também! Existe a “Associação dos Juristas Católicos” que defende projetos (como a defesa antiaborto) utilizando requisitos constitucionais, mas sem possibilidades de alterações, como se a Carta Magna dogmática fosse! E podemos pensar também em quantas cerimônias indígenas não foram substituídas ou transformadas pela predominância religiosa da Coroa Portuguesa, nos tempos colonialistas, com sol, lua, e outros astros sendo trocados por santos?
Enquanto alguns pais ficaram chocados pela invisibilização da divindade joanina, outros não viram nada demais, considerando que se seus filhos conhecem o São João fora da escola, não seria uma nomenclatura diferente que iria alterar a concepção das crianças. Talvez. Como é algo ainda incipiente e pouco debatido, resta-nos aguardar os próximos festejos. Pode nem vingar isso aí. Porém, não podemos esquecer que muitas comemorações se extinguem por jamais serem “nada demais”. No momento que isso se espalha para fora dos muros escolares, quem vem chegando vai se adaptando ao que está em curso, vindo a desconhecer cada vez mais, os padrões comportamentais e culturais dos seus ancestrais.
FONTE:
IMAGEM: Jornal A Tarde
As igrejas sem católicas ou pentecostais sempre estiveram presentes na historia do Brasil, sobretudo doutrinado povos de comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, etc).
o que fazem? demonizam a cultura religiosa desses povos e introduzem "suas verdades". atualmente as comunidades quilombolas estão repletas de templos evangélicos. Os adeptos buscam a todo custo evangelizar os nativos.