E após quase um ano do início da vacinação contra a COVID-19, eis que surge uma nova variante, detectada no sul do continente africano. Apelidada de “Omicron”, ela é fruto da distribuição irregular de vacinas pelo Globo. Muitos especialistas afirmam que a nova cepa é “desastre anunciado”. Na África do Sul – país onde os casos da nova variante vêm se proliferado – menos de 25% da população recebeu a primeira dose. A Organização Mundial da Saúde vê com grande preocupação o surgimento dessa cepa, pois ela sofre diversas mutações, pode ser mais contagiosa, e tornar a vacina menos eficaz em seu combate.
A OMS já havia alertado que os não-vacinados da Europa poderiam acelerar a transmissão de novas variantes. Isso porque à medida que o ceticismo de grupos anti-vacina prevalece e politiza a questão, o processo de mutação do coronavírus nessa população pode gerar cepas mais contagiosas e perigosas – fora esquemas deficientes e irregulares na distribuição de vacinas. É uma questão darwinista: para se adaptar ao hospedeiro, o agente causador de uma peste passa por um processo de seleção, para que sua mutação mais eficiente se estabeleça. O aumento da vacinação cria anticorpos e uma imunização coletiva impede a circulação do vírus, pois os receptores estão mais resistentes a um avanço infeccioso. Porém, essa imunização deve ser mundial para ter efeito. E na África, o número de imunizados é baixíssimo, apesar de no geral, a taxa de letalidade e casos graves na região sempre foram menores que os demais continentes (exceto África do Sul). Uma série de fatores justifica os índices de vacinação por lá (6,6%). Faltam políticas públicas eficientes, carência de recursos para sustentar campanhas, falhas de comunicação entre especialistas e população assistida, e diferenças culturais bem acentuadas.
O continente africano é composto por 55 países. Alguns deles enfrentam crises políticas constantes, com formação de guerrilhas milicianas, golpes militares, e governos autoritários. Por conseguinte, medidas negacionistas e anticientíficas podem comprometer cuidados universais de saúde pública. Muitas nações também não tem um sistema integrado de funcionamento - como o SUS – para organizar a logística da vacinação de forma eficiente. Temos também outras questões bem mais complexas que podem comprometer ainda mais o encerramento da pandemia.
Muitas etnias lidam com perspectivas próprias diante de uma patologia, seja por convicções espirituais, filosóficas, ou culturais. Não “basta apenas” distribuir vacinas a rodo, mas detectar que um planejamento sob um ponto de vista universal ou “ocidental” pode fracassar, devido ao desconhecimento sobre as características de cada grupo social. Sem falar que muitos povos desconfiam de ações vindas de países colonizadores, que provocaram guerras, conflitos, saques, e até experimentos em solo africano. Muitos podem entender uma vacinação coletiva como uma “experiência”, utilizando seus corpos como cobaias. O longa-metragem “O Jardineiro Fiel” deixa essa expectativa muito evidente...
Porém, a preocupação maior são os casos na Europa! A cada dia, novos recordes de casos. Os países do Hemisfério Norte cancelaram voos vindos do sul da África. E nós? Fecharemos fronteiras para os europeus e norte-americanos? Verão vem aí e muitos fogem do inverno para hospedagem em nossas praias. O turismo falará mais alto? Ou iremos cancelar seus passeios por aqui?
Enquanto isso, fiquemos atentos a essa mutação viral. A meu ver, o drama tá longe de acabar. Vacina não é remédio! Não adianta imunizados conviverem com significativo número de não-imunizados. Estes podem, por puro descuido ou julgamento ideológico, desenvolver essas novas cepas. Portanto, todo cuidado é pouco.
FONTE:
IMAGEM: Site Olhar Digital
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