O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, está se lixando para a Democracia. Importa para ele as verbas, influências e cargos. Ele ignora, e muito, os valores que sustentam uma cultura política democrática. E ignora que não estamos em tempos normais.
Bolsonaro e seus asseclas, fora e dentro do Estado, e em todo lugar, é um vírus que carrega o veneno do autoritarismo, travestida de uma pseudo capa de defensores da liberdade do povo (do povo que pensa igual). Associam liberdade de expressão com crime o tempo todo; desejam imprimir os seus valores reacionários de família, religião, sexualidade e pátria goela abaixo, num país tão plural e diversificado.
Os atuais barulhentos extremistas, de maneira geral, enxergam a política como uma cruzada, uma guerra santa contra os adversários: intelectuais, artistas, jornalistas, políticos, cientistas, juristas e ativistas democráticos - da esquerda à direita. Todos são bodes expiatórios que suspostamente prejudicam a nação brasileira.
Bolsonaro e bolsonaristas são perigosos, paranoicos, e estão operando dentro do próprio Estado. Utilizam de todo tipo de artifício, com notícias falsas ou distorcidas a fim de massacrarem os inimigos artificiais. Usam estratégias da extrema direita internacional, com táticas de guerrilha virtual, na tentativa de tensionar a República diariamente. Com esse tipo de gente não há debate, pois eles apostam é no confronto; apelam com ataques pessoais e promovem a distorção intelectual, moral, jurídica e política. Usam a desonestidade como arma.
Todos sabem que, ao fim e ao cabo, se Bolsonaro e sua turma não conseguirem realizar o esfacelamento democrático por dentro da lei, apostarão na ruptura institucional, sim, uma quartelada clássica, fechando o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, com o uso das Forças Armadas, e alçando o capitão como o grande ditador. Será que temos forças para evitar o que está se desenhando lentamente?
O Estado Democrático de Direito, e todas as instituições pilares de seu sustentáculo, só fazem sentido se os operadores da máquina internalizam princípios estruturais comuns, tendo assimilado uma cultura política em defesa da conservação do próprio Estado e da manutenção das regras do jogo.
É fulcral entender que nenhum Estado sobrevive se seus membros, na linha de frente, trabalham contra a sua própria existência. Se temos uma elite política de baixo nível, com uma cultura autoritária, antirrepublicana, que só pensa em manter-se no poder ou enriquecer, isso em nada garante a sobrevivência de um sistema. Somente instituições não resguardam o correto funcionamento de sua correia. Não há como garantir todos os anteparos contra os possíveis autoritários que podem se aproveitar de sua posição privilegiada para promover um projeto de poder absoluto, ainda mais numa Democracia jovem.
Somente o não pode do Estado, o medo das punições, não é garantia de fazer os cidadãos respeitarem as regras. Os agentes, os funcionários do Estado, eleitos ou não, são fundamentais para a estabilidade, assim como a elite cultural e os meios de comunicação são corresponsáveis.
Já está mais do que provado que o governo atual, e boa parte da elite política, não tem apreço com a República. Parte das Forças Armadas também não entendem que só deveriam existir na defesa do Estado, do povo, e não para fazer política e desfilar por aí como vassalos do presidente, como se fossem guardas do pretor
Voltamos à Lira, responsável por não iniciar o processo de impeachment contra Bolsonaro. Não o faz, mesmo sabendo de todos os crimes de responsabilidade cometidos pelo capitão populista autoritário e dos ataques diários ao Estado de Direito. Não o faz, porque tem medo de assumir responsabilidade, de perder influência, afinal é um político medíocre, oriundo do baixo clero. O seu ego e sua ganância falam mais alto que qualquer princípio moral na defesa de valores cruciais da constitucionalidade. Lira prefere vender a alma em troca de favores e holofotes, um típico fisiologista que vê a política como instrumento, e não como um fim em si mesmo. Aproveita sua posição de presidente da Câmara para iniciar votações de seu interesse, quase sempre na calada da noite, sem consulta à sociedade civil, sem debate em comissões especificas, beneficiando a si e seus companheiros, dentro e fora de seu partido.
A política que Lira enxerga não tem face, não tem identidade, não tem ethos, serve tão somente a seu capricho, aos seus interesses, as negociatas do toma lá dá cá. Ele não é o único, claro, mas compactua com a conveniência num posto, temporário, muito importante para a República.
Lira, se não fizer nada, poderá entrar para a História como um covarde e um cúmplice da delinquência e golpismo que está em curso.
Link da imagem: https://dlnews.com.br/noticias?id=26936/bolsonaristas-fazem-manifestacao-pro-intervencao-militar-em-frente-ao-tiro-de-guerra-
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