BEBÊS REBORN E A IRRELEVÂNCIA DO SER HUMANO
- Carlos Henrique Cardoso
- 16 de mai.
- 4 min de leitura

Já alguns meses, vem rolando por aí a discussão sobre bebês reborn - bonecos de silicone que são muito parecidos e tratados como bebês reais - e todo mundo está alvoroçado tratando do assunto. Mulheres tem passeado, “amamentado”, e dedicado toda atenção a essas reproduções e isso, claro, tem gerado uma polêmica danada. Recentemente, uma “mãe” de um desses levou-o ao hospital, pois “não estava passando bem”. Lá, segundo ela, foi “medicado” e liberado. Não sei como tratar essas mulheres, se são malucas, doentes psiquiátricas, ou habitantes de Nárnia. Porém, vejo muita coisa além disso...
Bom, vem surgindo com isso, um nicho de mercado. Notícias dão conta da criação de maternidades, creches, parquinhos, e demais estabelecimentos para atender seres reborn. Há partos, cursos para babás, tudo sendo montado igualzinho como se faz com uma criança recém-nascida. O que posso falar é que vejo um disparate nisso tudo, pois nossa realidade está apinhada de descasos nos atendimentos nas maternidades, saúde materna, pré-natais mal feitos, erros obstetrícios, e tudo o mais. Ou seja, muito cuidadinho pra reborns e desatenção nas redes públicas e privadas (principalmente envolvendo planos de saúde). Sem dizer que muitas mães carentes estão deixadas de lado por pais irresponsáveis, e estão ai, sozinhas, com a mão na cabeça, tendo que se virar para criar seus filhos em ambientes insalubres, perigosos, e afastados de grandes centros, sem ter como levar seu filho de madrugada pra ser atendido porque não está passando bem! Ainda tem isso, uma questão de classe nisso tudo.
Mas aí entro na segunda parte... esse tratamento com bebês reborn pode ser a ponta do iceberg de algo maior e muito mais vasto: a irrelevância total com os humanos, nós, que estamos constantemente sendo desvalorizados nesse jogo da vida.
Recentemente, artistas protestaram contra a constante utilização de IA’s em produções cinematográficas. Alguns estúdios, vem usando vozes de atores reais, decodificadas por IA, em dublagens, para fugir de negociações e contratos com atores reais, como foi o caso envolvendo Scarlett Johansson, atriz que negou autorização para utilização de sua voz, e mesmo assim, a reproduziram no chatGPT. Isso pode se tornar muito comum, com a contratação de empresas de tecnologia para substituir ilustradores, roteiristas, e demais profissionais, considerando que sai mais em conta. Com isso, filmes e séries com hologramas, em substituição a atores, pode rolar tranquilamente.
A precarização dos serviços vem aliada a trabalhadores que acessam plataformas para condução de passageiros, entregas de comida, encomendas, e afins. Muitos se acham empreendedores, afirmam ganharem mais que um CLT, e seguem numa rotina delirante por horas a fio, todos os dias da semana. Isso pode ser verdade, no entanto, no fundo, estão enriquecendo os gestores desses aplicativos, que - convenhamos - estão se tornando trilhardários no oferecimento desses empregos. Sem qualquer regulamentação, seguridade, ou benefícios previdenciários, esses trabalhadores são apenas números que podem se tornar descartáveis. Carros que se guiam sozinhos já existem. Basta aprimorações bem-sucedidas pra darem bye-bye pros motoristas; drones sofisticados podem fazer entregas e até novos veículos, cheios de putaria, podem surgir com essas finalidades. Tudo produzido por grandes bilionários - e vem crescendo o número deles, diante tamanha concentração de renda que o mundo assiste. A revista Forbes já divulgou um recorde de mais de 3 mil ricaços com fortuna acima de 1 bilhão de dólares em 2024! E pode ter certeza que o que esses caras menos gostam é de gente. Programas engenheiros, programas arquitetos, programas escrivãs, professores robóticos. Seja bem-vindo a essa possibilidade.
E por aí vai... podemos ter esportistas reborn, brasileirão reborn, jogadores cyborg, lutadores caralhaborn! Não é viajem minha. A profusão de IA’s pode chegar a um ponto em que IA’s gerarão IA’s até o ponto em que não nos restará fazer mais nada, pois tudo será feito por não-humanos. Já rolou podcast discutindo pautas nacionais. Sim, e daí? Os debatedores eram inteligências artificiais! Tudo ainda em fase de testes, maaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaas... acho que todo mundo já entendeu.
Voltando aos bebês reborn, muita gente tem confundido essa onda com “brincar de boneca” ou que burro velho que brinca de videogame ou autorama está no mesmo patamar de mãe de reborn,. Não é a mesma coisa! Nenhum adulto que brinca com carrinhos de controle remoto dá entrada em hospital com o braço quebrado após o brinquedo capotar, ou ainda sai carregando o carrinho pedindo socorro a “seu filho” (ou brinca como cosplay de Lewis Hamilton). Ou “morre” após levar um tiro num game violento. Como mencionado, há negócios voltados para o “público reborn” e suas mães, algo bem mais sério que “brincar de boneca”. Uma advogada gravou um vídeo pra dizer que foi procurada por um casal em litígio para tratar da guarda compartilhada do bebê reborn. E ela não sabia como o poder judiciário ia lidar com isso.
Pode ser modismo e isso tudo passar? Pode! Porém, vejo nessa maternidade reborn como um processo de desativação de valores intrínsecos ao ser humano e um direcionamento de afetos a outros substitutivos. Já teve casamento de mulher com boneco, paixões por IA’s, relações com bonecas infláveis, masturbações para mulheres geradas por programas avançados. Esses são casos isolados, por enquanto, mas desenhos de um futuro possível. Tomara que eu esteja enganado, mas se a coisa for se desenrolando assim, nos restará vivermos como Walking Deads, se devorando um a um. Até o momento, muita gente seguindo trio reborn, nesse carnaval distópico.
E o que acho dessas mamães reborn e seus comportamentos? Não vou ficar aqui fazendo galhofa e chamá-las de malucas, retardadas, ou coisa que o valha, até porque não vejo graça nisso, vejo reflexões de uma distopia que pode nos colocar passo a passo num episódio diário de Black Mirror. Não iria rir de uma mulher passeando com seu bebê reborn no Salvador Shopping comprando enxoval. Ia passar direto e seguir meu caminho, pois o destino do futuro da humanidade estou muito longe de saber.
FONTE:
IMAGEM: Elo7
Válido a parte sobre as IA.
Mas a história do bebê reborn no hospital foi fake, bem como essa história de onda de creches, escolas e mulheres cuidando de bebê reborn.
Apesar de vc falar que não vai criticar as mulheres, lança um monte de adjetivos que violentamente as mulheres há muito tempo em prol da manutenção do sistema machista do patriarcado.
Veja este video:
https://www.instagram.com/share/reel/_sxiyYQM8
A quem interessa que as mulheres pareçam malucas?
É preocupante os rumos que a sociedade tem tomado, na qual a inteligência artificial vem se sobrepondo as relações humanas, sobretudo afetiva. As coisas vai se incorporando de tal forma em nosso meio que começamos a achar normal. Talvez esteja ai o problema, normalizar!
Ah, se a IA'S estão ganhando espaço nas relações humanas é porque algo está errado. Se alguma coisa entra em nossas vidas é porque de alguma forma permitimos.