Eu não sei o que é felicidade. Eu apenas sigo as pistas, busco os sinais. Fui a mais trágica que pude na escolha do título destas reflexões. Melhor ser trágica do que dramática.
A pessoa trágica, não escolhe seu destino. A fatalidade da existência humana, ou seja, o fato de que vamos morrer, é uma certeza que, mais cedo ou mais tarde. A pessoa trágica carrega uma “falha” ou falta que, em algum momento emergirá a ponto de engendrar uma transformação, como um “erro fatal” originário, que pode precipitar a sua queda ou mudar o sentido da vida.
Já a pessoa dramática, não precisa de nenhuma tragédia particular ou geral para transformar os seus dias. Tem a ver com um sentimento ou uma necessidade de atenção, cuidado, compreensão por parte da outra pessoa, com notas de melancolia e tristeza.
Considerando que seja possível responder à pergunta “O que é felicidade?”, recorro ao caminho mais seguro, a etimologia. Segundo ela, a palavra portuguesa felicidade vem do grego phyo (fecundo, produtivo) e, do latim, felicitas, de felix, feliz, diretamente associado a fértil (dado no latim fertĭlis) e/ou frutífero, que dá a ideia de contentamento, entusiasmo, alegria. Daí a relação entre felicidade e sensação de plenitude e a tristeza como um esvaziamento, falta…
Embora eu goste de listas, não vou citar aqui o ranking dos países com maior índice de felicidade. Para quem não sabe, nosso país não está bem posicionado nessa lista. Além do mais, essas comparações não nos servem...
Quem sabe se fosse como fez o imperador de Butão, o menor país do mundo, que inventou um índice próprio de medição da felicidade humana. Em 1971, ele criou o termo Felicidade Interna Bruta (FIB), porque ele entendia que o crescimento econômico de um país (medido pelo PIB) não podia ser o único indicador para determinar se um país está ou não se desenvolvendo. Para isso, é preciso considerar também, a felicidade de seu povo. Assim, ano a ano, desde então, realiza-se uma avaliação oficial que considera 4 aspectos: crescimento socioeconômico equitativo, preservação e promoção da herança cultural e espiritual, conservação do meio ambiente e boa governança.
Anos depois, ficou provado que a felicidade naquele país pode ser medida, sobretudo pela simplicidade da vida de seu povo, distante das comodidades que o capitalismo supostamente trouxe para “facilitar” a vida.
É desse jeito que “implodimos” os conceitos, forçamos a sua mudança ou redefinição. É que alguns deles não resistem, nem conseguem se manter de pé à luz ou ao calor da vida que se desenrola, queiramos ou não, independente da nossa participação ativa, consciente ou inconsciente.
Por isso, esse “adeus” à felicidade não é nada demais… Não é um gatilho para a depressão. É apenas uma constatação. A constatação do fim de um ciclo iniciado ou prometido pela Primavera.
Do lado de cá do Hemisfério Sul, a nordeste do mundo, o "Equinócio de primavera” tem início no mês de setembro (22 e 23 de setembro). É um tempo de cultivar intenções, aspirações. Alguma coisa no ar, além do pólen invisível das flores, timidamente, nos impulsiona a recomeçar a apostar em antigos e novos projetos. A Primavera vai passando…
Ah, seria tão bom se a Primavera fosse o bastante… Mas, para esses lados da linha do Equador, o "Solstício de verão” vem, vem e vem, trazido pelo mês de dezembro (20 e 21 de dezembro). O Sol incide perpendicularmente sobre o Trópico de Capricórnio. O Sol queima como uma cabeça de fósforo, acelerando desgaste dos desejos que vieram de setembro.
Insolação, amores de verão e Carnaval. E agora que tudo isso passou? O ano recomeça? O que nos resta fazer, a não ser recomeçar dizendo “Bye, Bye Felicidade! Olá vazio!”
Adeus a um tipo de felicidade passageira, de aluguel, de verão. Oh, não se preocupem, lá vem o "Equinócio de outono”, logo, logo, neste mês de março (20 e 21 de março), para nos lembrar que o vazio e o cheio são dimensões da nossa existência, vasos comunicantes do nosso trágico existir. Mas, não é preciso fazer disso um drama…
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Imagem: autora.
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