Após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, eleitores fanatizados, aqueles que não aceitaram ainda a derrota e acreditam que houve fraude, complô ou qualquer coisa parecida contra o vulgo Mito, tornam-se órfãos de um líder, um guia espiritual político. Bolsonaro murchou após a derrota: um ser brochável. Isolou-se por um bom tempo. Perdeu o encantamento contra o establishment; deixou de ser o outsider do sistema, tão adorado por suas falas e ações toscas e incivilizadas. As pessoas ficaram confusas. Ainda assim, aos que resistem e acreditam que o capitão vai encampar um golpe de Estado, com apoio dos militares, e romper com a democracia liberal, a fim de salvaguardar o que eles chamam de liberdade do povo, uma democracia para eles.
Ao se auto titularem patriotas, os extremistas realmente acreditam que estão do lado certo da História, e que o Deus cristão está com eles na luta contra o comunismo (seja lá o que isso signifique para eles) e o paganismo religioso, cultural e comportamental, que eles consideram como abominação espiritual. Bem, essas pessoas, provavelmente, irão abandonar Bolsonaro em algum momento e buscar outra liderança, um novo "Messias" na terra do pau brasil.
Quem pode ser a nova liderança da extrema direita? Um nome que aparece bem disposto a tomar esse posto é o vice presidente e eleito senador general Hamilton Mourão. O político tem tentado se descolar do capitão dizendo: “Você não vai falar para o seu povo, não? Abre o jogo”[1] , ou ainda: “O erro foi no discurso. O cara comprava vacina e falava mal de vacina, pô. Esse discurso aí não foi bom. Isso que prejudicou o presidente. Ele tinha todas as condições de ganhar”[2]. E mais: “Está chegada a hora de as pessoas compreenderem que ele [Lula] foi eleito e agora tem que governar”. [3]. Mourão ambiciona assumir esse posto de liderança desse povo órfão, que está nas ruas pedindo intervenção militar. Também acena para não condenar os manifestantes: “Vemos nelas famílias, idosos, crianças… todos pessoas de bem”[4]. No entanto, deseja que essas pessoas voltem para casa e entendam que Bolsonaro nunca fui um Salvador. Na verdade, sempre foi um político do baixo clero, excomungado do Exército, mas que conseguiu alçar à Presidência da República por uma série de afinidades eletivas. Mesmo assim, a democracia nos ensina que, de tempos em tempos, políticos anti democráticos e populistas autoritários podem ser eleitos com muito poder. E mais: ela permite que todo tipo de gente chegue ao poder, formando, muitas vezes, uma verdadeira idiocracia republicana. Idiocratas são tão perigosos quanto autocratas. É só ver as figuras grotescas que foram eleitas este ano, incluindo o próprio Mourão, um delinquente moral e intelectual, um tiozão asqueroso e reaça que se apresenta como boa praça. Mas, e se ele tiver o poder nas mãos? Melhor nem imaginar.
Apesar de enxergar Mourão como uma alternativa real aos extremistas de direita, mirando os próximos pleitos, há outras figuras concorrentes: Eduardo Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, eleito governador de São Paulo, o senador eleito Sérgio Moro e a própria Michele Bolsonaro. Todos como potenciais candidatos na próxima eleição presidencial.
Para o bem do Brasil e para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito, o governo eleito deve buscar todas as formas possíveis de isolar e controlar a ascensão da extrema direita, no Congresso, nas mídias e plataformas digitais. É preciso criar trincheiras e cordões sanitários poderosos contra os inimigos da democracia. É crucial pavimentar um bom caminho, seguro, para 2026, a fim de que o candidato forte seja moderado, defensor das regras do jogo, respeitador da Constituição e conservador(a) das instituições. Tebet, Janja, Alckmin, Haddad, Ciro? Não sabemos. Muita água ainda vai rolar. Mas serão quatro anos capitais para tentar minimizar os danos causados por Jair Bolsonaro e seus asseclas ideologizados, e procurar formas de estancar a barbárie civilizacional em curso.
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Fonte da imagem: https://dol.com.br/noticias/politica/778829/video-ajoelhados-bolsonaristas-choram-com-vitoria-de-lula?d=1
Fontes: [1] https://www.cnnbrasil.com.br/politica/mourao-pede-a-bolsonaro-que-fale-com-seu-povo-durante-evento-no-rio/ [2] https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2022/11/5052163-mourao-sobre-derrota-de-bolsonaro-falava-mal-de-vacina.html [3] https://www.cnnbrasil.com.br/politica/lula-foi-eleito-e-agora-tem-que-governar-diz-mourao/
Nossa, eu nem tinha pensado nisso! Que esse povo vai caçar um sucessor. Agora quero ver como eles vão justificar a "profecia" deles, tirando um e colocando outro...
É considerável a resiliência desses extremistas,ainda considero um longo caminho a dispersão dessa gente. Por enquanto,Carla Zambelli parece ser o nome mais apropriado pra esse rebanho de palhaços reverenciar