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Como se tornar um comediante apático no Brasil Patriota



Em 2017 foi lançado o filme “Como se tornar o pior aluno da escola” com direção de Fabricio Bittar e roteiro de Danilo Gentilli, ele mesmo, o apresentador e comediante. Na época, as críticas e elogios passaram despercebido, não foi um sucesso retumbante de bilheteria, nem também um retumbante fracasso. Foi mais um filme de comédia nacional que não chegou a ser grande destaque. Eis que cinco anos depois, desencavaram o filme, mas não pelo reconhecimento tardio dos expectadores...


Um deputado estadual cearense resolveu acusar os produtores do longa-metragem de terem feito “apologia à pedofilia”, devido a uma cena envolvendo o também apresentador e comediante Fabio Porchat, que interpreta o vilão da história. Resultado: a acusação viralizou e o Ministério da Justiça determinou que a película fosse retirada das plataformas de streaming! Com multa diária de R$ 50 mil caso não haja cumprimento dessa ordem. As plataformas alegaram censura e desafiaram a determinação, informando que manterão a programação em suas grades.


Depois de cinco anos de lançamento um órgão do executivo decretar a retirada de uma atração de cartaz após uma celeuma perpetrada por um parlamentar, diz muito sobre esse governo – agindo por puro casuísmo após uma suposta irritação moral. Tem cara de perseguição, rabo de perseguição, focinho de perseguição, só pode ser censura mesmo!


Porchat reagiu com uma boa resposta, precisando afirmar o óbvio: “Quando o vilão faz coisas horríveis no filme, isso não é apologia ou incentivo àquilo que ele pratica, isso é o mundo perverso daquele personagem sendo revelado”. Fato. Porém, cinco anos após o início de sua exibição, deram um perdido no time legal por moralismo e proteção às nossas criancinhas... Lembrando que o próprio Ministério recomendou censura 14 anos para o filme, ou seja, não recomendável pro público infantil.


Mas o curioso foi a discrição nas reclamações de Gentilli. Afirmou que foi “oportunismo” e “cortina de fumaça” após mais um aumento de combustíveis. Falou bem, mas reativamente muito diferente do inflamado Gentilli, que anos atrás dava faniquitos memoráveis quando era importunado. Nem mesmo se postou na frente de uma cam, picotou em pedaços a determinação do Ministério, colocou nas calças, retirou, e enviou pelo Correio para o ministro. Nem isso, pô!


Pra quem nos anos dourados do lavajatismo, do antipetismo, da ascensão do bolsonarismo, da demonização de Paulo Freire, e da intelectualidade suprema, sábia, fenomenal, magistral, e brilhante de Olavo de Carvalho, esbravejava junto à trupe que protagonizou uma mudança brusca e drástica nos rumos da política nacional, tramou contra membros da esquerda, e ocupou espaço junto a turma que manifestou sistemas de pensamento semelhantes ao que rege o país atualmente, me decepcionei com a falta de contundência – por enquanto – do roteirista do filme. Esperava xingamentos ao ministro falando que ele era uma “farsa”. Talvez não tenha feito para não pagar indenização depois, como aconteceu quando ele utilizou esse termo para se referir ao deputado Marcelo Freixo; poderia espalhar Fake News do deputado cearense em alguma manifestação sem máscara, como ele fez com Guilherme Boulos. Enfim, faltou veemência, aquela verve que entre 2015 e 2018 produziu empáfias e deu subsídio a uma ideologia que agora o censura.


Isso porque muitos, sobretudo comediantes, criticavam o tal do “politicamente correto”, um critério “esquerdista” que escrutinava piadas que utilizavam minorias sociais como combustível da graça. Daí surge um candidato “que nunca roubou”, sem papas na língua, falando os maiores impropérios e ganhando adeptos, ao invés de haters. Era o que faltava para chutar o “politicamente correto” para longe e fazer com que o humor trafegasse sem censura e perseguições, tanto nos palcos, como no Palácio do Planalto. Justamente no governo do “pai” do politicamente incorreto, vem uma censura. Aí não!


Ah, tem mais uma! Em 2017, o jornalista Diego Bargas, da Folha de São Paulo, criticou esse recorrente filme citado aqui afirmando haver bullying e pedofilia nas cenas. O Portal Imprensa lembrou que Gentilli teria estimulado seu público nas redes a perseguir o jornalista, que acabou demitido pela Folha de São Paulo. O xingaram de “bichona, otário, merda, lixo social, imbecil, viado, militonto” e outras “homenagens” típicas da época. Derrotado, o jornalista postou: “a confusão com o Gentilli me fez perder o emprego”. Não vi essa tentativa agora. Como é o nome mesmo do ministro? Ninguém sabe, nem pesquisei!!!!


Diante de um histórico de arroubos ensandecidos, o roteirista do filme está de parabéns. Não fez nenhum escarcéu, como seria bem-vindo no ano do lançamento do longa, tempos em que nos afogávamos na “onda liberal” promissora que varria o país. Bem que poderia haver uma sequência cinematográfica diante desse bom comportamento: Como se tornar um comediante apático no Brasil Patriota.


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