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Cuidadores: sobre maternidade compulsória e mães de pets e plantas





Costumo observar como as mulheres respondem a fatídica pergunta sobre a não maternidade. Entendo que não seja apenas uma pergunta, mas várias delas: Por que não são mães? Por que ainda não são mães? Por que não querem ser mães? Como mulher, imagino as sensações que lhes perpassam para tentar responder esta pergunta com a extensão de resposta suficiente para finalizar a conversa. Diante disso, quero apontar uma tendência que observo acontecer nestas respostas - sem qualquer necessidade de julgamento a respeito.


Ao ver uma reportagem sobre famosos que não querem ter filhos, observei algo interessante. Se dentre os homens o que prevaleceu foi a preocupação em não “trazer mais pessoas” ou a simples não vontade de serem pais, para as mulheres as citações eram mais extensas e todas tinham essa pitada de “já sou mãe de meus cachorros e plantas”, “materno meus sobrinhos”, “cuido das crianças de meus amigos”. Ao apresentarem suas justificativas, muitas mulheres rapidamente indicam os outros membros da família, incluindo animais de estimação ou outras pessoas, apenas para reafirmar que são lugares que consideram já exercer sua maternidade.


Faço questão de reafirmar que minha observação crítica a estas respostas não indica qualquer forma de julgar estas mulheres sobre o que seria a “resposta certa”, mas elucidar essa questão para apontar como a maternidade assombra a vida da mulher como seu lugar obrigatório na vida em sociedade. Se não há filhos, precisa haver “substitutos”, pois colocamos na trajetória feminina o cuidar como seu espaço de validade, de importância. Se uma mulher não cuida, quem ela é? Qual seu caráter? Qual sua real qualidade?


E considero que é deste lugar opressor da maternidade compulsória que nasce estas terminologias mais recentes de ser “mãe de pet”, “mãe de planta''. Especialmente na celebração do dia das mães, as conversas são colocadas desta forma: celebra-se as mães, incluindo quem mais se auto afirmar como mãe. E ali são acrescentadas estas novas formas de “maternidade”.


Entendo que as pessoas que adotam estes termos se interligam por um simples fato: todas são cuidadoras. Cuidar faz parte da vida humana e social e se encontra entre todos os laços que formamos. Mas, em momento algum, há qualquer evidência política, econômica ou social que coloque estas situações no mesmo patamar que a maternidade. O problema é que estamos confundindo o que significa maternar: maternidade é um espaço de cuidar, mas nem todo espaço de cuidar é materno.


Assim, eu proponho duas sugestões sobre os exemplos que apontei. Para os“mãe de pet”, “mãe de planta” adotar o nome cuidador, cuidadora é suficiente para identificar aqueles dedicados aos seus pets e plantas, demonstrando a afeição que lhes cabe na relação em que entregam seu cuidado.


Para as mulheres que não são mães e não querem ser mães, proponho que compreendam que sua não maternidade permanece intacta, ainda que vocês encontrem outras pessoas, seres para cuidar. O amor e afeição vividas nestas relações são verdadeiros para serem vividos como são: a tia e a sobrinha, a madrinha e o afilhado, a dona do pet e o pet, a dona planta e as plantas etc Escolher não ter filhos é uma opção digna e que precisa ser respeitada a despeito da pressão cultural desnecessária para que a mulher demonstre a qualidade materna a qualquer custo. Ser uma pessoa e amar e cuidar de seus relacionamentos é mais do que suficiente como experiência humana legítima de qualquer mãe ou não mãe.


Link da imagem: https://papodemae.uol.com.br/noticias/nao-nascemos-maes.html

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