
Todos estão acompanhando o drama da deportação dos imigrantes ilegais lá nos Estados Unidos, promessa de campanha de Donald Trump e chancelada nas urnas pelo eleitor norte-americano. Mil desculpas foram dadas pra essa missão disparatada de enfiar levas e levas de seres humanos em aviões e mandar pro mais longe possível. A mais “palatável” era que seriam expulsos os que cometiam crimes, mas a verdade é que o serviço de imigração tá caçando ilegais como se estivessem num safari, perseguindo animais selvagens. Sem dizer que Trump manifestou ódio a essa gente afirmando que eles estavam envenenando o sangue dos americanos e que eles estavam devorando animais de estimação. Tudo lorota. E com o silêncio sorridente e complacente da sociedade civil daquele país.
No entanto, o que se vê são problemas crescendo por falta de mão de obra em várias cidades. Empreiteiras reclamam da falta de operários para a reconstrução dos bairros de Los Angeles, destruídos após um incêndio brutal que consumiu diversas residências; frutas e verduras aguardam trabalhadores para a colheita, e se não forem colhidas a tempo, safras inteiras podem se perder e assim encarecer diversos produtos nas prateleiras dos supermercados; ofertas de sanduiches, refeições, e merendas diminuíram pela ausência de vendedores nas ruas; igrejas protestantes esvaziaram e pastores bradam pela baixa presença e escassez de dízimos; privadas e mictórios de diversas empresas estão abarrotados de fezes e bactérias, pois não tem ninguém quem limpe. Parece o cenário da música de Raul “O Dia em que a Terra Parou”. Dona de casa não saiu pra comprar pão, pois sabia que o padeiro também não tava lá...
Isso demonstra que sem o imigrante, não há vida pública nos Estados Unidos. Ao que parece, está provado que são eles que movimentam o cotidiano e servem o povo que está aplaudindo as atitudes do presidente fanfarrão. Não vou dizer que apenas imigrantes realizam esses serviços, mas não há dúvida que muitos cidadãos estadunidenses se acostumaram a verem imigrantes, em sua maioria latinos, estarem dispostos a trabalhos que o americano médio deixou de fazer há tempos pela abundância de mão de obra que os exerça.
Grande parte desses imigrantes, nas últimas décadas, são oriundos de países da América Central, como Honduras, Nicarágua, e Guatemala, onde os índices de criminalidade são altos e o narcotráfico é pesado – assim como no México. Porém, o que não podemos esquecer é a interferência da política exterior dos EUA em vários países! Durante a Guerra Fria, interveio financiando guerras e auxiliando implementações de ditaduras militares – sobretudo na América Latina! O que perseguições políticas, torturas, desaparecimentos, e desastres econômicos podem ter proporcionado para alavancar imigrações justamente para o país que patrocinou tudo isso?
Vamos pegar o exemplo do Iraque. Em 2003, os Estados Unidos perpetraram a queda do ditador Saddam Hussein em busca de armas químicas jamais encontradas. Com o dedo deles, Saddam acabou sendo condenado à morte e enforcado. Isso causou um rebuliço social no país, que jamais se recuperou da drástica intervenção. Um iraquiano que saiu de lá por conta das dificuldades surgidas após essa ingerência, pode rodar meio mundo até parar nos Estados Unidos. Agora veja como é dramática essa deportação em massa agora: um sujeito que estava na paz em seu país, de repente vê tudo desmoronar, sai a esmo pelo mundo, para no país responsável pela reviravolta em sua vida, e é expulso desse mesmo país, tratado como criminoso? E estenda isso para Libia, Afeganistão, países africanos com forças paramilitares que apoiam ditaduras, fomentadas com material bélico muitas vezes fornecidos por indústrias americanas. É osso... Aliás, tem imigrante bem aceito lá: os europeus. A atual primeira-dama Melania é eslovena, era modelo, e ganhou cidadania alguns anos após conhecer Trump. A avó de Trump era escocesa e chegou nos Estados Unidos com uma mão na frente, outra atrás. Os dois pesos, contém duas medidas sempre...
Cabe também muitas perguntas sobre violência em território americano. São imigrantes que massacram estudantes em chacinas sangrentas que ora ou outra ocorrem por lá? Foi um imigrante que assassinou um CEO de um plano de saúde no centro de Nova York? São imigrantes os negros que são mortos por asfixia ou bala praticados pela polícia? Foi um imigrante que recentemente quase estoura os miolos do atual presidente boquirroto, durante um comíssio? Uma sociedade que não enxerga o próprio umbigo, não reconhecendo que sua cultura armamentista gera ódio e repulsa, só pode mesmo apontar o dedo sujo de merda pro outro!
“Ah, mas todos os presidentes deportam. Por que essa celeuma só agora?” diriam os fãs declarados e velados de Donald. Nenhum outro utilizou deportações em massa como cavalo de batalha, nem mentiu descaradamente sobre o comportamento deles. Os demais utilizavam pretextos como a falta de encaixe para não ganhar a cidadania ou programas de desencorajamento. Agora não. É truculência mesmo, tolerância zero! E nenhum deles enjaulou crianças, separadas dos pais, como Donald fez em seu primeiro mandato.
Pra encerrar, só um recadinho para brasileiros que, mesmo deportados na raça, ainda admiram Trump e sua política limpinha e cheirosa: vão pra Argentina. Lá, Millei tá operando a constituição de uma nova Noruega.
FONTE:
IMAGEM: Blog do Amarildo
Ótimo texto.