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Eleições 2022: democracia, religião, política e extrema direita




Hoje o texto é dividido em três partes que falam sobre as eleições.


Parte I


Hoje, 19 de setembro de 2022, faltam exatamente 13 dias para as eleições do primeiro turno no Brasil. Neste ano, podemos votar para Presidente da República, Governador(a), Deputado(a) Estadual, Federal e Senador(a). Mas quero falar aqui da necessidade de repensarmos a democracia liberal. O que tenho acompanhado é que as campanhas políticas se tornam cada vez mais atravessadas pelas emoções. Teoricamente, emoções não tem a ver com a racionalidade tão esperada da teoria liberal. O projeto moderno, liberal e iluminista é de indivíduos altamente esclarecidos, reflexivos, que tomam posições, escolhas políticas baseadas em critérios objetivos, calculados para um objetivo em comum: o aperfeiçoamento da democracia.


Contudo, são os sentimentos que imperam nesse reino da política. O projeto liberal não vingou. De todo lugar, os candidatos apelam para o medo, o ressentimento, o ódio, mas, também, a esperança de dias melhores. Além disso, vemos ataques pessoais o tempo todo, o ad hominen, afastando a essência do debate político, qual seja, um espaço de debates objetivos, plurais e respeitosos de acordo com as regras do jogo. Pouco se vê, ou se fala, de projetos de Estado para a melhoria material da sociedade, pautas que considero importantes, pois tratam de necessidades mínimas de sobrevivência e dignidade da pessoa humana, como segurança, emprego, alimentação, habitação e tantas outras necessidades. Estas acabam sendo absorvidas por retóricas vazias, abstratas e até escatológicas (o bem contra o mal).


Parte II


De 2013 para cá, as disputas políticas tornaram-se mais violentas, sobretudo, pela ascensão da extrema direita, que ganhou muitos holofotes. Esse segmento esteve abafado pela direita democrática após a redemocratização, logo não faziam tanto barulho. Agora, até são capazes de matar, tal é grau de fanatismo.


Arrisco-me a dizer que Bolsonaro surge, ao menos, por três grandes fatores: à esteia do enfraquecimento das instituições democráticas, das promessas não cumpridas da democracia; da incapacidade do capitalismo periférico de torna-se realmente desenvolvido e, por fim, a aversão aos valores progressistas, especificamente as pautas de mais igualdade entre grupos e classes historicamente excluídos.


O presidente representa uma parcela significativa da sociedade brasileira que antes tinha vergonha pública de apontar suas demandas. Ele, Bolsonaro, aglutina os desejos que hoje consideramos ultrapassadas do ponto de vista da democracia e seus valores de igualdade e liberdade. Esses desejos tendem a ver a realidade olhando para o retrovisor, por isso são chamados de pautas ou bandeiras reacionárias, tais como o retorno da ditatura militar, da preponderância da família heteronormativa, do protagonismo do patriarcado, pelo fim das cotas às minorias e apelo à necessidade de união entre política e religião cristã.


Parte III


Conversando com pessoas próximas sobre a quantidade de cristãos, entre evangélicos e católicos, que votam em Bolsonaro, fiz os questionamentos a seguir. Do ponto de vista da Bíblia, de uma leitura séria e objetiva do Novo Testamento, é incompreensível que se apoie um candidato que é pró-armas, um candidato que promoveu e faz apologia à posse e ao porte de armas. Em que parte da Bíblia Jesus apoia o armamento do cidadão? Não seria Jesus o enviado e filho de Deus que prega o amor, o perdão, a compaixão? Como pode um eleitor se dizer cristão e apoiar um candidato que faz gozação e chama o adversário de nove dedos e ex presidiário? Não há respeito e compaixão nenhuma a alguém que sofreu um acidente de trabalho e teve um membro amputado. Como ser cristão e apoiar alguém que não teve a coragem de visitar um hospital com pessoas que estavam internadas devido a covid 19? Alguém que negou as milhares de mortes e fez gozação com pessoas que sofreram por falta de ar?


Como um cristão apoia um candidato que é a favor da pena de morte, que já pregou fuzilamento de ex presidente e que apoia o jargão “bandido bom é bandido morto? Jesus sofreu uma pena de morte, não esqueçamos, e ainda perdoou Barrabás, um ladrão, no momento da crucificação. Como ficar do lado de alguém que é campeão de mentiras e notícias distorcidas, durante todo o seu mandato, sendo que o pai da mentira é o próprio Diabo? São essas e outras incoerências que estamos assistindo, apoiadas por pastores e padres. Uma verdadeira aberração moral e espiritual. Uma realidade invertida onde tudo é relativizado.




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