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Foto do escritorCarlos Henrique Cardoso

FAZ UM PÊNALTI PRA MIM? APOSTAS ESPORTIVAS E A REALIDADE DO FUTEBOL BRASILEIRO.




O assunto desse artigo não é novo, eu diria que é velho até, pois as fontes para confecção desse texto tratam de acontecimentos do mês passado, uma eternidade em se tratando de informações virtuais, já que quem escreve colunas baseando-se em assuntos viralizados, pode produzir algo poucas horas depois da polêmica da vez ter sido divulgada. Mas não vou ficar só nisso, e ir mais além no caso proposto: o suborno de jogadores de futebol praticados por sites de apostas. Queria falar da realidade do nosso esporte favorito nesse imbróglio todo.


Bem, acerca do assunto, o Ministério Público indiciou 15 jogadores, sendo que desses, 7 se tornaram réus. Funcionava o esquema assim: um grupo de altos apostadores entrava em contato com o jogador para propor pagamentos para o mesmo efetuar lances a pedido do grupo, como por exemplo, cometer um pênalti ou levar um cartão amarelo. Com a negociação feita e o atleta cumprindo o combinado, era retorno garantido para os apostadores e recebimento do percentual acertado ao jogador. Caso não fosse cumprido o acordado em campo, o desportista seria cobrado a pagar uma “indenização” aos apostadores que confiaram nele. Ou seja, uma total manipulação que prejudicava o time e, obviamente, o torcedor que vai no estádio e é feito de trouxa pelo atleta. Pelo menos três partidas do campeonato brasileiro da segunda divisão e oito da primeira divisão foram alvo de denúncias.


O caso do zagueiro do Santos Eduardo Bauermann é sintomático sobre isso. Vazou conversa entre ele e apostadores que o criticaram por não cumprir o acordado – um cartão amarelo em uma partida contra o Botafogo. Ele sofreu ameaças e o grupo criminoso queria cobrar dele uma multa muito maior do que o que lhe foi ofertado. Ele foi afastado pela diretoria do time. O que chama a atenção é o salário de Bauermann: 200 mil reais! Aí se pergunta: como alguém com um salário desse se queima com um grupo apostador que ofereceria 50 mil reais, ou seja, um quarto do rendimento mensal (fora bicho, premiações, bônus, etc., que jogadores costumam ganhar)? E aí que entra nossa discussão, que pode ser acompanhada até por gente que detesta futebol.

Com base em dados da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), A Universidade do Futebol divulgou que 55% dos jogadores recebem aproximadamente um salário mínimo, dados divulgados em 2021. Nada de glamouroso, como muitos podem atestar. Temos muitos jogadores semiprofissionais, ou sejam, atuam em campeonatos oficiais, mas não fazem apenas isso. Complementam renda trabalhando em outros locais – realidade, aliás, de milhões de trabalhadores. Há milhares que cumprem outras atividades, como motorista de aplicativo, segurança, e mecânico de carros. Lembro que numa Copa do Brasil – competição que envolve clubes de todos os estados – numa partida entre Corinthians e um pequeno clube do Centro-Oeste (fico devendo o nome) os jogadores dessa equipe não podiam trocar camisas com o adversário ao fim da partida (algo muito comum nos jogos de futebol) porque o uniforme não era do time, e sim do patrocinador. Se um clube não tem nem condições de manter o vestuário, dirá um bom salário. Isso também demonstra que no dia seguinte ao fim do jogo, ele retorne ao mercadinho onde trabalha pra cortar queijo. Sentiram o drama?


Falamos acima sobre clubes das séries A e B – que contam com jogadores profissionais, em tempo integral – agora imaginem um torneio onde grandes clubes jogam contra times pequeníssimos, o quanto jogadores mal pagos podem ser assediados?? E aí entra outra questão: muitos jogadores que ganham excelentes salários e ascendem na carreira, conquistam grande mobilidade social. E aí, podem perder a noção de muita coisa ao verificar seus rendimentos subindo que nem foguete. Recordo de outro caso: um então jogador do Vasco, vindo de um modesto clube do interior do Rio de Janeiro, comprou um carro luxuosíssimo. Só que tinha um problema: ele morava numa casa que não tinha garagem! Ou seja, a reportagem mostrou um contraste evidente: uma casa modesta e aquela “nave” enorme parada na porta da casa dele. A preocupação com seu status adquirido foi maior que a necessidade de procurar uma boa casa para sua família residir, com uma garagem decente pra guardar seu novo brinquedo. Isso nunca foi raro. No passado, vários craques viviam uma vida nababesca e perdiam tudo depois. Festas, gastos excêntricos, mansões... Tem muita história desse tipo. Teve jogador que chegou a morar no próprio automóvel, porque não tinha mais lugar pra ficar!


E é aí que podemos refletir. Um jogador, mesmo ganhando um bom salário, pode nutrir ambição de ganhar mais, pois após tanta luta para ser um jogador de respeito, com possibilidades de chegar à seleção brasileira e disputar torneios como a Copa do Mundo, que uma possibilidade de ganhar sempre mais é uma visibilidade do seu prestígio tão sonhado. É uma carreira curta, muitas lesões, idade média de aposentadoria em torno dos 35 anos. Então, o que tiver no alcance pra levantar uns caraminguás, será bem-vindo, mesmo sendo arriscado como vimos, afinal, estão lidando com criminosos.


Aí vem outra questão: a bolada que esses sites de apostas arrecadam. Tem gente no Brasil vivendo só disso. Esses sites são considerados um mercado recente de atuação no país e funcionam sem qualquer regulamentação. Alguns, nem aqui no Brasil estão hospedados. Por isso mesmo, o governo federal estuda uma forma de tributar esses sites, criando uma regulação sobre eles. O que é mais que necessário! Só o fato de terem o poder de subornar jogadores de alto padrão, contratados por clubes milionários, já mostra o cacife que eles possuem. Essas investigações já apontam, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, assédio moral, ameaças de morte, corrupção ativa,e por aí vai. Sem regulação e sem pagamento de impostos, dificilmente podem ser fiscalizados e utilizam os altos ganhos para adulterar resultados através de lances combinados. Um absurdo! E mais uma vez a corda arrebenta pro torcedor, muitas vezes sócio de um clube onde um ou mais jogadores lesam o time por baixo dos panos, atendendo a apostadores de alto padrão.


É isso. Ou essas maracutaias são chutadas pra longe ou então os apaixonados por futebol vão levar bola nas costas e um gol contra atrás do outro.


FONTE:






Imagem: ASMETRO-SI




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