top of page
Foto do escritorRamon Argolo

IDIOTA RUIM É IDIOTA ORGULHOSO




 

O declínio do capitalismo, caracterizado pela crescente instabilidade econômica, desigualdade social e descontentamento popular, tem sido um terreno fértil para o fortalecimento da extrema direita e a idiotização social. Este fenômeno, observável em diversas partes do mundo, pode ser compreendido a partir de várias perspectivas que se interligam de forma complexa.


Primeiramente, o capitalismo, em sua fase mais avançada, cria desigualdades significativas. A concentração de riqueza e poder em mãos de uma minoria resulta em exclusão e marginalização de grandes parcelas da população. Esses grupos marginalizados, sentindo-se desamparados e desiludidos com o sistema atual, tornam-se receptivos a discursos populistas e extremistas que prometem soluções rápidas e simplistas para problemas complexos. A extrema direita se aproveita dessa insatisfação ao apresentar narrativas que identificam bodes expiatórios, como imigrantes, minorias e instituições democráticas, culpando-os pelas dificuldades econômicas e sociais. Esse discurso polarizador e simplificador encontra eco em uma população que, saturada pelas incertezas e pela complexidade do capitalismo em declínio, busca respostas fáceis e claras para suas angústias. Assim, líderes de extrema direita ganham terreno ao prometerem uma restauração de ordem e prosperidade, frequentemente por meio de medidas autoritárias e excludentes.


A idiotização social, ou a diminuição da capacidade crítica e reflexiva da população, é outra consequência importante desse processo. A sobrecarga de informações, muitas vezes contraditórias e manipuladas, somada à deterioração da educação pública, contribui para uma sociedade menos informada e mais suscetível a manipulações. A mídia, sobretudo as redes sociais, desempenham um papel crucial nesse contexto. Plataformas digitais, ao priorizarem conteúdos sensacionalistas e polarizadores, contribuem para a fragmentação do discurso público e a disseminação de desinformação.


A lógica do algoritmo, que privilegia o engajamento e não a veracidade, amplifica a idiotização ao criar bolhas de informação e reforçar preconceitos. Essa idiotização facilita o crescimento da extrema direita, que se beneficia de uma população desinformada e pouco crítica, uma vez que essa extrema direita, seus beneficiários e apoiadores detém parcela significativa dos meios de comunicação. A simplificação das narrativas políticas e a demonização dos adversários criam um ambiente propício para o avanço de agendas autoritárias.


Em muitos casos, a extrema direita promove um revisionismo histórico que minimiza ou justifica atrocidades passadas, enfraquecendo os fundamentos democráticos e os direitos humanos. A perda de confiança nas instituições democráticas e na capacidade do capitalismo de oferecer uma vida digna para todos alimenta ainda mais o ciclo de descontentamento e radicalização.


A crise econômica, exacerbada por políticas neoliberais que priorizam o mercado (este infeliz e cruel sujeito oculto) em detrimento do bem-estar social, resulta em desemprego, precarização do trabalho e cortes em serviços públicos essenciais. Esse cenário gera uma sensação de desamparo e revolta que é habilmente canalizada pela extrema direita.


Para entender completamente esse fenômeno, é necessário considerar também o papel das crises sistêmicas do capitalismo. As crises financeiras recorrentes, a mudança tecnológica acelerada e os desafios globais, como as mudanças climáticas, expõem as limitações do sistema capitalista em lidar com problemas de longo prazo. A resposta insuficiente a essas crises agrava o descontentamento popular e fortalece narrativas que questionam a própria validade do sistema.


A globalização, por sua vez, tem um duplo impacto. Por um lado, ela amplia as oportunidades econômicas e culturais, mas, por outro, intensifica a concorrência e a desigualdade. As comunidades que se sentem deixadas para trás pela globalização são mais suscetíveis ao apelo da extrema direita, que promete proteger empregos e identidades nacionais. Esse paradoxo global-local cria um caldo de cultura propício para o crescimento de movimentos nacionalistas e xenófobos.


Em suma, o declínio do capitalismo não apenas enfraquece a estrutura econômica tradicional, mas também provoca um vazio ideológico que a extrema direita se apressa a preencher, aos berros, aos gritos. Atropelando razões e sufocando enlouquecidamente os fatos.


Em meio à pandemia de 2019 e toda aquela guerra de informações x desinformações, negacionismos e tal e coisa e coisa e tal, que deixava bem claro que a finalidade dos que promoviam a discórdia social era atender aos anseios do capital para aumentar a concentração de renda dos seus representantes, buscando manter no poder alguém que não tivesse escrúpulo algum para fazer isso, inclusive em meio à uma questão de profundo flagelo social, fiz um poema que expressava, pelo menos para mim, um olhar por cima daquela celeuma toda:

 

“Estupidez

 

Já não sei bem qual epidemia é pior,

ou bem sei, mas afirmar tem seus riscos.

Tem um vírus que de tão inteligente

e contra a fúria e os combates persistentes

de uma população oca, ignorante e negligente

precisou evoluir para continuar sobrevivendo

 

(e assim o fez)

 

Tem um povo despreocupado com o saber

despreocupado com qualquer outro ser

donos da verdade que sequer procuram ler

fascistas, fascistas e fascistas até não mais poder.

Sem evolução, sem discussão

nem vacina que lhe estanque o ego ou a colorida estupidez.”

 

(Ramon Argolo, “Multiverso Nefasto”, 44).

 

 

Precisamos entender que a idiotização social é um projeto. Amplificada pela manipulação midiática e pela deterioração educacional, facilita esse processo ao criar uma população vulnerável a narrativas simplistas e autoritárias. Combater esse fenômeno exige um esforço conjunto para revitalizar a democracia, promover uma educação crítica e inclusiva, e construir uma economia mais justa e sustentável. Somente assim será possível enfrentar os desafios do século XXI sem sucumbir ao retrocesso autoritário e à desinformação.

 

 

Imagem: Cartunista Suzart @artedesuzart

59 visualizações2 comentários

2 Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
Rated 5 out of 5 stars.

Excelente análise Ramon! E essa charge? rsrsrs rindo pra não chorar!

Like
Replying to

Obrigado querida Jormary! Fico muito feliz pela sua leitura!

Suzart é um excelente artista que sigo e gosto demais das produções dele. Se quiser ver mais artes dele pode segui-lo no Instagram @artedesuzart! Grande abraço!

Like
bottom of page