KGB, A PROFECIA DOS TITÃS PARA UM MUNDO PIOR
- Carlos Henrique Cardoso
- 6 de jun.
- 3 min de leitura

No ano de 2004, os Titãs lançaram o álbum “Como Estão vocês?”, primeiro disco após a saída conturbada de Nando Reis da banda (no meio de uma turnê, alegando discordância com os rumos artísticos do grupo). Esse período é lembrado como uma era de pouca turbulência no mundo. Por aqui, a economia dava sinais de crescimento, não havia crises, nem disscensos muito graves. Certo que os Estados Unidos invadiram o Iraque e derrubaram Saddam Hussein, mas fora isso, pouco atrito global. Por isso mesmo, uma faixa desse disco reflete bem esses tempos: “KGB”. Lembro sempre dessa canção quando me deparo com o planeta pegando fogo, com o retorno de velhas ideologias e péssimos exemplos.
São todos ex-agentes da KGB
Que não tem mais o que fazer
Em tempos de paz
São ex-agentes do SNI
Que não tem mais aonde ir
Em tempos de amor
São todos ex-agentes do DOPS
Que não tem mais, que agora estão sós
Em tempos de paz
São todos ex-agentes da CIA
Que não tem mais onde trabalhar
Em tempos de amor
A letra fala de órgãos de opressão e espionagem que agiam em tempos de ditadura militar por aqui e Guerra Fria lá fora e que estão desativados e sem função (exceto a CIA), naquele início de década onde parecia que reinaria consensos e democracias sólidas que dariam ensejo a uma unidade funcional que debelaria forças populares totalitárias. Putin era apenas um líder pós - União Soviética e Hugo Chavez ainda não era “o grande perigo” da América do Sul.
E mesmo em tempos de paz e amor
Ainda querem salvar o mundo
Ainda estão enterrados debaixo da cama
Desaparecidos, generais de pijama
Estão bem guardados no fundo do armário
Sequestradores e sequestrados
Aparece então o alerta de que todas essas representações do passado ainda podem retornar. As Forças Armadas brasileiras estavam na delas, realizando operações apropriadas, iniciando a Missão de Paz no Haiti. Anos depois, seria instalada a Comissão da Verdade, e os militares começaram a se inflamar e colocar as manguinhas de fora. Apareceram em alguns escalões do então governo Dilma e ai, numa crescente, manifestações surgiram pelo país e logo tinha gente pedindo intervenção militar! Isso foi suficiente pra dar moral, começaram a se movimentar, um ex-capitão foi eleito presidente com grande apoio nacional, este aparelhou as instituições com militares e pimba! Quase passamos por uma tentativa de golpe onde vários desses senhores estavam a um passo de retomar o poder à força. Alguns ministros desse então governo tinha saído exatamente dos porões da ditadura!
Simpatizantes do Terceiro Reich
Que agora juram que não são mais
Em tempos de paz
Ex-integrantes da Ku-Klux-Klan
Que agora sim estão no divã
Em tempos de amor
Quem imaginaria, 21 anos atrás, que forças nazi fascistas e supremacistas ainda teriam espaço? Já na segunda década do século XXI, as entranhas das redes sociais fizeram proliferar o retorno de ideias nefastas, disfarçadas de “libertárias”, para começarem a ocupar espaço - com o beneplácito de autoridades e internautas (desavisados ou não), diga-se de passagem! E aí foram ganhando terreno, ganhando terreno, uma fala forte aqui, um ruído ali, combinado a crises econômicas, políticas, e morais. Eis que extremistas vem conquistando cadeiras nos parlamentos da Europa e nos Estados Unidos um presidente fanfarrão compra briga com todos seus críticos, pretendendo arruinar a liberdade acadêmica, perseguindo imigrantes e seus descendentes que há anos ganham avida por lá, numa total inversão de valores, onde aqueles que prezam pela liberdade absoluta são os que mais cerceiam as instituições livres.
Pra piorar, o chefe do Estado Judeu pratica aquilo que seu povo mais sofreu: um genocídio na Faixa de Gaza, uma destruição do povo palestino a olhos nus. Se analistas, após um ataque severo do grupo islâmico Hamas, que causou mortes brutas e sequestros, diziam que Israel estava “no direito de se defender”, vêem agora - mudos! - uma repugnante devastação do território palestino, assistindo sentados, autoridades que pouco estão se lixando pra esses massacres, alardearem ideias esdrúxulas de transformação daquele local destruído em uma colônia de férias! Com videozinho repugnante e tudo. Nem os Titãs imaginavam tanto mal.
Ainda estão vagando desocupados
Ex-torturadores, aposentados
Estão enterrados junto aos indigentes
Ex-guerrilheiros e ex-presidentes
E cá estão, todos aí. Ainda com força pra realizarem grandes estragos, sob o olhar apático de milhões de pessoas, com letargia total da opinião pública, assistindo, passos largos, o retorno desse grande mal. Proféticos, a famosa banda paulista encerra num refrão que, ouvindo lá naquele ano de 2004, parecia apenas uma letra titânica. Apenas uma letra...
Ainda vão todos voltar e vão voltar todos juntos
Ainda vão todos voltar para assombrar o mundo
FONTE:
Grato pelo texto e interpretação que dialoga com a realidade que vivemos no Brasil e fora deste.