O que impulsiona o universo do entretenimento, independentemente de sua forma, é o conflito, e consequentemente, o “sangue”. O Big Brother Brasil, o programa de televisão mais assistido atualmente, não foge à regra. Ele se origina do conflito em um grupo de indivíduos distintos. O que distingue o BBB de uma peça de teatro, filme ou novela é que as personagens não são entidades separadas de cada participante - a representação e a pessoa se confundem. Assim, o “sangue” parece mais autêntico. Claro, não me refiro ao sangue líquido, mas sim aos micro AVCs e coágulos criados por crises psicóticas causadas pelo confinamento. E o que o público quer? “Sangue”!
“Sangue” é o combustível do engajamento do público nas obras de entretenimento. Isso é algo que Shakespeare já descobriu há muito tempo, com uma ou outra pessoa morrendo a cada ato de suas peças. Não é uma novidade da novela “Terra e P(c)aixão”. E os gregos já faziam isso, inclusive, tudo leva a um fim sanguinário. Assim, tudo interessa. Assim, caminhamos ligados a cada verso, cada fala, cada cena. Mas, no teatro, o objetivo é a moral ou o debate e suas personificações.
Quem é o dragão da maldade no BBB? Ou melhor, quem são? Onde está a verdadeira maldade que não ganha protagonismo, mas sim autoria, ou a edição do que deve ser debatido? O dragão da maldade são aqueles que escolhem qual debate será feito. Ninguém vai olhar para Davi como mais uma vítima do sistema, mas sim como um grande herói, que venceu a uberização, venceu os preconceitos, o racismo, e logo ganha seguidores. E qualquer trama injusta que seus colegas de confinamento coloquem contra ele, será apenas mais um recorte do racismo, e é também. Estamos debatendo racismo, porque agora é moda e o BBB quer assim. Claro que o BBB quer se tornar palco para discutir algo tão profundo, arraigado e com lastros históricos sangrentos, a dor negra está aí e o BBB precisa falar dela, porque a Globo é boazinha, não é racista. Ora, ora…
Imagem de IA
Imagem criada por inteligência artificial, pra cego ver: um dragão de boné preto e óculos escuros, e corpo de cores da bandeira basileira, sobre uma casa de parede de vidro, ele está cuspindo fogo.
Esta emissora tem um passado manchado pela brancura de seus diretores e donos. Nada como um alvejante de boas e novas linguagens, um ou outro artista preto muito bom, e alguns para figurar, uma roupa “quarando” ao sol com figuras do povo para sangrar e serem recompensadas. Ou seja, mostre sua dor e o dinheiro vem, o patrocínio vem, os seguidores também, tudo vem. Nada será entregue sem dor, sem morte. E todos os influenciadores ficarão à beira do abatedouro, tanto para o bem da crítica antirracista quanto para suscitar as lamúrias de mimimi, todo mundo vai pegar sua fatia de engajamento. Quem não pegar, ou é anti social por desvalorizar o entretenimento de massa ou é são, ao perceber que estamos perdendo “sangue” cada vez mais e logo não haverá mais de onde tirar. E o “sangue” é do povo, são os nossos Davis.
Enquanto isso, as Wanessa Camargos estão sendo protegidas sob a orientação do Dragão. Elas despertam o gatilho de metade da população brasileira, e sairão impunes, ou vendendo mais engajamentos. A família Camargo apostou alto, colocou sua princesa nos holofotes do Grande Irmão, mas com rede de proteção. A gigante Globo tem tamanho para derrubar qualquer jornalista ousado, como Jéssica Senra para amenizar as críticas anti-racistas, já derrubou governos, por que não? O Dragão sabe que não dá pra queimar a família Camargo, que andou junto com ele, todos esses anos de Som Livre, Faustão, mídia, etc. Os artistas são a paixão do público, paixão é mais difícil de abafar do que um jornalista. Principalmente se foi ele que ajudou a construir.
Enfim, esse jogo é complexo, o Dragão dita as regras, e Davi dribla de acordo com o que aprendeu em Cajazeiras. Desde antes de nascer, o bafo do Dragão chamusca as costas de Davi e seus ancestrais. Davi deverá ganhar, mas o Dragão ganha mais. Mas você me questiona, o cara vai ficar rico, vai sair cheio de publi, conhecido no Brasil inteiro. “Calma, Calabreso!” Davi, não será só mais um rico e ex BBB, ele será uma isca para o sonho de milhares de pessoas, que querem vencer. Ele apenas confirmará uma exceção. Os brasileiros como ele, serão mantidos na pobreza e miséria, porque o Dragão se alimenta disso. O Dragão é capitalista, meu “calabreso”. Sem o sangue seu, o meu e de todos os proletários brasileiros, sejam do entretenimento ou das fábricas, não haveria BBB. Se ninguém assistisse, o Dragão escolheria outra coisa para pescar sangue. Se você não visse, a Globo, outra emissora surgiria. Mas se a gente desistisse do capitalismo, e acreditasse que todas as pessoas irrestritamente, tivessem direito a tudo que a humanidade já produziu de bom, talvez o mundo fosse mais justo.
E se você chegou até aqui eu tenho uma recompensa para você, dicas de teatro. Vá ao Teatro. Nos dias 29 de fevereiro, 01, 02, 07 e 08 de março às 19 horas está acontecendo o projeto “Juntas”, com os espetáculos:”Corpo Presente”, ”Dolly” e “Nós versus Eles”. Também vai rolar na Sala do Couro de 02 à 24 de Março, sábados e domingos, 20 horas, o espetáculo “Partiste”. Nas ruas do Pelourinho, às sextas-feiras o espetáculo “A cidade da Bahia é Nossa” de 08 à 29 de março. Estreia “Gatunas” no Sesi Rio Vermelho e Sesi Casa Branca nos dias 11 à 14 de março. Volta ao Teatro Martim Gonçalves em março o espetáculo “O Tempo e os Conways”. Também, retorna “Maldita Seja” no Teatro Moliére, nos dias 08, 09, 15 e 16 de março. No módulo está E os sábados de março, no Teatro Módulo, Maria ao vivo. A seguir seus cartazes:
Adorei seu olhar! Muito bom!