
A fala da pastora Baby do Brasil no carnaval de Salvador, interrompendo a apresentação de Ivete Sangalo com profecias apocalípticas, serve como um lembrete incômodo: a cultura do medo e do pânico sempre esteve presente em nossa sociedade, utilizada como ferramenta para unir e motivar grupos em torno de causas desesperadoras.
Evitarei generalizações infundadas e abster-me-ei de críticas diretas à fé de indivíduos. No entanto, é imprescindível analisar o impacto do emprego do terror psicológico por certos grupos, e como esta estratégia tem gerado resultados favoráveis para suas agendas específicas.
É crucial refletir sobre o impacto danoso que essa dinâmica exerce sobre nosso cérebro, uma questão que merece uma investigação mais aprofundada para os interessados. Em meio ao caos e à saturação de informações, é compreensível direcionar nossa atenção para as ameaças imediatas à nossa existência, relegando para segundo plano as preocupações de longo prazo que necessitam de planejamentos e ações coletivas com potenciais reais de transformação social. Este fenômeno é observável em ambos os espectros políticos, à esquerda e à direita. É inegável que eventos sérios estão em curso globalmente, demandando nossa atenção e resposta. No entanto, é fundamental reconhecer que crescemos imersos nessa lógica de terror, onde os jornais sensacionalistas regionais eram a principal fonte de informação durante o almoço em família durante a semana, por exemplo.
Isso quer dizer que estamos mais acostumados do que imaginamos com o terror psicológico sobre a vida coletiva. O pânico frequentemente demanda ações rápidas e impulsivas, muitas vezes sem espaço para análise crítica, uma vez que as emoções intensas como medo e revolta tomam conta. No entanto, mesmo diante deste desafio, é essencial adotar uma postura mais reflexiva, respirar fundo e examinar cuidadosamente as informações disponíveis. É crucial compreender quem são os agentes por trás desses discursos e quais conexões políticas podem surgir ou se fortalecer caso ganhem adesão popular.
Nas redes sociais, especialmente, os CEOs das empresas reconhecem abertamente que o que mais engaja são os gatilhos emocionais, não necessariamente a veracidade da informação. Embora essa prática não seja uma novidade, as redes sociais são um novo terreno onde essas dinâmicas operam, e seus efeitos danosos são inegáveis. O fenômeno dos milhares de compartilhamentos pode obscurecer a compreensão da realidade concreta, levando a doações para grupos de procedência questionável, entre outros desdobramentos preocupantes, por exemplo.
E que vive de acordo com essa lógica, quer que os outros vivam da mesma forma também. Há uma parcela da sociedade que vive imersa no pânico e busca impor essa lógica aos outros, clamando por justiça punitiva e uniformidade de comportamento. No entanto, é fundamental explorar outras motivações para o engajamento social e aprender a conviver com a diversidade de pensamentos e experiências. Em vez de sucumbir ao medo do fim do mundo, devemos nos unir para construir um futuro melhor por meio de políticas públicas e iniciativas coletivas.
Imaginem se, ao depararmos com uma informação alarmante, ao invés de reagirmos impulsivamente, buscássemos compreendê-la melhor através de diversas fontes de informação. E se conseguíssemos reconhecer que a política permeia todas as esferas da vida e que cada um de nós é um agente influenciador em potencial? Seria uma mudança significativa jogar o jogo da vida com transparência e sinceridade, sem esconder nossas cartas ou manipular as jogadas das massas.
Essa abordagem nos desafia a repensar nossas interações sociais e a maneira como lidamos com o desconhecido e o temor. Somente assim poderemos verdadeiramente avançar em direção a um mundo mais justo, inclusivo e colaborativo.
Na minha perspectiva, o pânico neutraliza todas essas oportunidades, monopoliza a atenção e incita indivíduos excessivamente desesperados a não questionar e apenas afirmar, impor. Grupos e pessoas, sem distinção, exploram e continuarão explorando essa dinâmica a qualquer custo. Resta-nos aprimorar nossa capacidade de filtragem e identificação para enfrentar essas influências de maneira mais eficaz.
Assim, antes que o apocalipse se instaure, é possível se divertir, manter a esperança e reunir forças para colaborativamente construir um mundo melhor. Essa opção me parece mais proveitosa do que jogar a toalha.
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Fonte da imagem: Agência de Notícia das favelas.
Suas sugestões são relevantes,porém,sinto que o ambiente é de competição por atenção de um público que disputa esses gatilhos emocionais. Acredito que isso se estenda por longos anos.