As manifestações contra Bolsonaro e sua gestão, ocorrida em 19 de junho, no Brasil e mundo afora, mostra que as coisas não estão fáceis para o governo. Com todos os riscos de contaminação, os manifestantes consideraram que o capitão cloroquina e sua trupe é mais perigoso do que a própria pandemia. O risco foi calculado.
A pressão é muito grande para Bolsonaro. E isso tudo acaba sendo muito bom para presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e o próprio centrão (políticos com pouquíssima expressão e movidos, no mais das vezes, por interesses meramente paroquiais e pessoais). Vejamos.
Com a popularidade em baixa e com diversos setores da sociedade, da esquerda à direita (vide a fala de Amoedo, por exemplo)[1], pedindo a cabeça do mandatário mor de nossa republiqueta, Lira está com a faca e o queijo na mão. Ele tem mais de 100 pedidos de impeachment, e pode escolher qualquer um para dar tramite ao processo. Ele sabe também que Bolsonaro depende dele para continuar governando, o que faz com que o deputado federal peça tudo que pode: cargos, nos mais diversos escalões, recursos e emendas. Se Bolsonaro não cooperar, Lira não deve hesitar em praticar acordos com o Congresso, lideranças partidárias e, quiçá, militares e o próprio Mourão, para derrubá-lo.
O parlamentar não é bobo, sabe também que segurar demais as pontas para Bolsonaro pode lhe custar sua própria reeleição e dos seus colegas, afinal um presidente muito impopular arrasta rejeição a todos aqueles que o sustentam. Crise econômica, crise sanitária, crime contra a humanidade e denúncias graves que rondam o governo e seus filhos aumentam o saldo negativo. A CPI também tem mostrado muita coisa podre no governo. Sendo assim, Lira, Pacheco e todos aqueles que têm aliviado a barra de Bolsonaro podem ser punidos nas eleições de 2022.
À Lira cabe escolher entre a glória - ter sido o político que foi capaz de impedir a continuação de Bolsonaro no poder, entrando positivamente para os livros de história; ou cabe escolher o puro pragmatismo político, o velho fisiologismo do centrão, desconexo com valores ou ideologias republicanas.
À Bolsonaro resta continuar a sua dupla "jornada de trabalho": alimentar e instigar sua base autoritária - sectários e simpatizantes - com ataque contínuo a pessoas e instituições democráticas, e nutrindo, abundantemente, policiais e forças armadas, ampliando o projeto de militarização da sociedade e influência na política; e, por outro, tendo que acender a base política no Congresso, sob risco de cair na ingovernabilidade e ver o navio realmente afundar. O pior para Bolsonaro é Lira ser um bolsonarista fiel.
Notas
[1] https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2021/06/06/amoedo-defende-impeachment-de-bolsonaro-trabalhou-para-agravar-pandemia.htm
Link da imagem: Link da imagem: https://congressoemfoco.uol.com.br/legislativo/ala-do-centrao-quer-independencia-e-alternativa-a-lira-para-comandar-camara/
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