Toda semana tem uma polêmica! Normal, num país onde o presidente da República sempre foi um polemista profissional (mas “nunca roubou”, segundo seus admiradores, para resguardar sua “ética”). Dessa vez, tudo aconteceu em um podcast – mídia circunscrita a plataformas de streaming – onde o apresentador – com nome de marca de bicicleta – fez apologia ao nazismo. Para ele, deveria haver partidos nazistas, já que “a extrema esquerda” tem um espaço danado nas redes e demais veículos de comunicação (uma viagem intergaláctica na maionese!). Tudo isso pelo bem da aclamada, ovacionada, prestigiada, consagrada, apoteótica liberdade de expressão! Aquela no qual você pode falar o que quiser, quando quiser, da forma que desejar, direcionada a qualquer coisa, e contra o que puder. Faça o que tu queres pois é tudo da lei, mais ou menos assim...
Ouço alguns podcasts, geralmente ligados a algum canal convencional, administrados e mediados por jornalistas ou acadêmicos com currículos interessantes. Mas nem todos vão por essa linha. Muitos youtubers e influencers digitais utilizam sua fama e seus inúmeros seguidores para montar estúdios onde possam convidar notórios personagens para conversas em geral descontraídas, sem tanta profundidade analítica, durando várias horas, acompanhados de comida, bebida e até algumas substâncias ilícitas...
Com crescente número de ouvintes, adquirem patrocínio, tornando-se algo até profissionalizado, com bons equipamentos para propagação do áudio e instalação de convidados. Daí vem alguns questionamentos: qual a “procedência” desses podcasters? Sobre o que podem falar? Qual o limite da opinião que omitem? Qual a responsabilidade na abordagem de temas polêmicos? No episódio descrito no primeiro parágrafo e que tomou as discussões da semana, a resposta é imprecisa.
O apresentador em questão (ou podcaster, ou youtuber, sei lá!) pediu desculpas alegando que “estava bêbado”. Isso indica que esses “profissionais” podem encher a cara enquanto entrevista um famoso ator, político, ou empresário. Não vejo problemas em bebericar uma coisa e outra ali, afinal, o conceito é de descontração e sem rigor intelectual. Porém, subverte totalmente a lógica dos conceitos de uma entrevista comum: foco e precisão. O sujeito pode tocar em um assunto sério e destrambelhar, como se estivesse em um boteco. Só que ele está ao vivo, numa transmissão nacional, bancado por patrocinadores e ouvido por muita gente que aguarda uma asneira dita pelo ébrio para uma viralização do absurdo.
O podcast, nesse formato, democratiza os modelos de transmissão. Podem conquistar anunciantes e se tornarem meio de sustento. É uma lógica publicitária: Quanto mais seguidores aquele programa atinge, mais pessoas visualizam a marca. É também capitalista: é um produto que gera lucros e consumidores. Portanto, se ocorre algo como ocorreu na apologia ao nazismo, os investidores caem fora, o sujeito é desligado, e vida que segue.
Não vou aqui dissertar sobre a questão moral da bebida, uso de drogas, ou legalização de mercado com esse tipo de “bandalheira”. Mas é importante frisar que alguns desses apresentadores não tem o mínimo embasamento para tocar em temáticas seríssimas como política de cotas, aborto, direitos da população LGBTQIA+, violência doméstica, tutela de terras indígenas, e concepções ideológicas historicamente recriminadas. Muitos tem opinião própria tirada da própria cachola, reflexões passionais sobre corrupção, justiça, preconceito racial, tudo baseada no simples “eu acho que” e na defesa inconteste da já supracitada “liberdade de expressão”. Esse direito não é absoluto e obviamente tem limites para seu uso. Acontece que a própria é deturpada, assim como inúmeros conceitos surgidos nos últimos anos e que perfazem um modo de pensamento típico de alguns indivíduos (“politicamente correto” é outra marca conceitual que determinada turma adora!).
Por fim, se algum veículo informativo prioriza o privilégio de indivíduos professarem seus desejos mais asquerosos para outrem, ou acentua que todos são livres para dirigir impropérios considerando que a sociedade em sua grande maioria os repudiará por bom senso (ahahahahahahahah) podem até soar como “podrecasts”. E se defendem o direito de expressão para qualquer sujeito abjeto preconizar suas características superiores em relação a outros, isso sim é uma verdadeira liberdade de agressão.
FONTE DA IMAGEM: Site O Catequista
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