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O TRIO FREUDIANO DO BAHÊA E SUA TORCIDA




*Por Everton Nery e Emerson Nery


O estádio está invariavelmente lotado. Eis a Fonte Nova a vibrar como o coração pulsante de uma cidade inteira, onde cada torcedor carrega a alma do Bahia. A relação entre o time e sua torcida é mais do que paixão; é um laço psicanalítico, uma mistura de emoções, desejos e expectativas que parecem refletir o próprio trio freudiano: o ego, o id e o superego. Convocamos aqui três jogadores: Bôbo, Raudnei e Everton Ribeiro!


Bôbo, sempre discreto, parece tal numa silhueta longilínea, distante, discreta e inquieta em campo, mas seus movimentos eram pura elegância sutil, como já disse Caetano. Ele representa o ego do Bahia, o equilíbrio entre a impulsividade e o raciocínio. Não se destacava pela agressividade, nem pela extravagância, mas sim pela sua inteligência de jogo, aquela que colocava na partida, tanto a dimensão caótica como também cosmótica. Era através dele que o time se mantinha coeso, sem perder o foco, conduzindo a bola com a calma de quem sabe que a decisão certa viria, na hora certa. Bôbo entendia que o futebol não era apenas força, mas sutileza, controle e elegância.


Raudnei, por sua vez, era o id puro. Se Bôbo representa o controle, Raudnei é a explosão do desejo incontrolável. No último minuto do jogo, quando tudo parecia perdido, ele se lançou na área adversária com uma energia visceral. O gol no fim do jogo não foi apenas uma jogada, foi a materialização do desejo mais profundo da torcida, o desejo de vencer a qualquer custo. Raudnei não apenas pensava, mas agia, guiado pela força bruta do id, aquela parte do inconsciente que busca saciar os desejos mais primitivos. E o desejo de vencer estava ali, no chute que selou aquele placar.


E então chegamos a Everton Ribeiro. Com sua liderança e habilidade natural, somados ao compromisso inabalável, ele representa o superego do Bahia. Seu olhar sério, suas instruções precisas no campo, a postura que exige disciplina e responsabilidade de seus companheiros. Everton Ribeiro é o espelho das expectativas da torcida, aquele que carrega o peso de representar um ideal de perfeição. Ele não aceita nada menos do que o melhor, nem de si mesmo, nem de seus colegas. É o guardião dos valores do time, a figura que cuida para que o Bahêa permaneça fiel à sua tradição e história.


Juntos, Bôbo, Raudnei e Everton Ribeiro personificavam o complexo psicológico que move não só o Bahêa, mas cada torcedor na arquibancada. Cada passe de Bôbo, cada chute de Raudnei, cada comando de Everton Ribeiro é tal como um reflexo das dinâmicas internas que governam o coração e a mente. E assim, o Bahêa segue sua jornada, ora guiado pela elegância do ego, ora pela impulsividade do id, mas sempre sob a vigília atenta do superego.


São vários os triunfos do Bahêa. Entretanto mais que o triunfo no placar, é o triunfo do equilíbrio entre o desejo, a razão e o compromisso com a história do clube, que, como um todo, ecoa na alma de sua torcida apaixonada ao gritar: Bora Bahêa Minha Porra!


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*Everton Nery Carneiro. Docente da Universidade do Estado da Bahia. Pós-Doutor em Educação (UFC); Doutor e Mestre em Teologia (EST);


*Emerson Nery. Graduado em engenharia mecânica, ciências contábeis e biologia.




11 Comments

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Milena Barros
há 4 dias

O texto mistura a paixão pelo Bahia com reflexões da psicanálise de um jeito afetivo e bem original. Parece uma conversa entre torcedores que enxergam o futebol como parte da alma. Leitura com bastante emoção e sentimento

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Maria de Fátima
May 24
Rated 5 out of 5 stars.

O texto é uma bela metáfora que mistura futebol e psicanálise pra mostrar como o Bahia é mais que um time: é emoção pura. Cada jogador reflete uma parte da alma do torcedor — desejo, razão e honra. No fim, o que vibra na Fonte Nova é mais que um jogo: é uma paixão equilibrada entre instinto, inteligência e tradição.

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Guest
Sep 28, 2024

Psicanálise, poesia e Bahia - bora Bahêa!

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Guest
Sep 28, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Texto surpreendente, uma aula de psicanálise com exemplos reais , agora sim tanto a torcida do baêa como seu rival poderá entender os mistérios da mente “ pelo menos em parte “kkk. Parabéns professor

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Guest
Sep 28, 2024
Rated 5 out of 5 stars.

Gigantes, assim como nosso Bahea!

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