top of page

OS MANDARINS NO TOQUE DOS ATABAQUES: um panorama da presença econômica da China na Bahia





A China é um tema absolutamente incontornável nas discussões mais diversas da geopolítica da economia política internacional, da ciência política e relações internacionais. O país asiático vem numa trajetória ascendente na geopolítica, economia, cultura, tecnologia e inovação, telecomunicações, etc. Nesse ínterim, vem intensificando as relações diplomáticas e econômicas com os países da América Latina e Caribe. Olhando para o caso brasileiro, por exemplo, temos que o Brasil é o principal país sul-americano receptor de investimentos chineses, além de ser um parceiro comercial bilateral sólido.


O processo de ascensão chinesa se intensificou após a reorientação estatal iniciada em 1978, sob a condução do Partido Comunista Chinês e a liderança de Deng Xiaoping, que promoveu uma abertura econômica gradual e marcada pelo uso de dispositivos capitalistas de acúmulo de capital (flexibilização das leis de trabalho, abertura para a economia internacional, privatizações, etc). A reorientação estatal chinesa iniciada na década de 1970, permanecendo até os dias atuais, fez com que o país ascendesse significativamente dos anos 1990 para cá, especialmente após a sua entrada na Organização Mundial do Comércio (OMC). Esse último fato é um marco importante da projeção internacional da economia chinesa pro mundo, incluindo a internacionalização das suas empresas para a América Latina.


Nesse bojo de expansão é que a China passou a aumentar seus investimentos, financiamentos e comércio com os países latinoamericanos e caribenhos. No caso dos investimentos diretos, há distinções da sua natureza e de seu desenvolvimento: há iniciativas novas, onde as empresas irão fazer o projeto do ‘zero’ (greenfield), iniciativas já existentes, onde as empresas irão trabalhar em cima de um projeto já existente e em desenvolvimento (brownfield); iniciativas de compra de empresas do país, ou filiais estrangeiras presentes nesse território (fusão & aquisição). Em linhas gerais, a discussão dos investimentos chineses na Bahia, por exemplo, leva em consideração esses fatores (incluindo outras distinções entre anúncios de investimentos que são confirmados e empregados, ou confirmados e não empregados ainda, ou somente anunciados, ou até mesmo interrompidos).


Olhando esse quadro na Bahia, é notório a presença chinesa nos grandes projetos da Bahia (e também do Brasil, no caso da FIOL). Eles estarão nas obras da Ponte Salvador X Itaparica, no VLT do Subúrbio, Porto Sul (Ilhéus), Ferrovia Oeste-Leste (FIOL), além de já terem concretizado a compra de parques eólicos no sudoeste baiano (como o de Bom Jesus da Lapa, por exemplo). Há, desde pelo menos o segundo governo Jacques Wagner, no período 2010-2014, uma intensificação da busca dos capitais chineses pelo Estado baiano para projetos de grande porte e alcance, como os citados acima, especialmente após a retração forte das grandes empresas brasileiras de construção civil pesada, e outras, o que abriu possibilidades para a entrada de multinacionais estrangeiras nas concessões via PPP (Parceria Pública Privada).


Olhando, por exemplo, os projetos do VLT do Subúrbio, que está a cargo do Consórcio Skyrail Bahia (comandado pela chinesa BYD), ou ainda a Ponte Salvador Itaparica, cuja construção e administração está a cargo do Consórcio CRCC-CCCC (China Railway Construction Company e China Communications Construction Company), que são dois projetos de grande porte no estado, temos a consolidação do processo de integração econômica mundial das empresas chinesas no plano internacional e também o ganho de competitividade dessas grandes empresas em mercados anteriormente consolidados nas mãos de empresas nacionais. Em ambos os casos, segundo valores contratuais, as obras estavam orçadas em quase R$ 10 bilhões (R$ 2,6 bi pro VLT e R$ 7,2 bi pra Ponte).


No comércio bilateral, a China tornou-se o principal parceiro baiano nas operações de exportação e importação, não somente crescendo quantitativamente, quanto aos valores, mas também aumentando a sua participação percentual nas exportações e importações da Bahia. Não à toa, ela ultrapassou países centrais do capitalismo (EUA, França, Alemanha), e também parceiros econômicos sulamericanos (como a Argentina, por exemplo). Exemplo disso é o fato da Bahia ter exportado, no ano 2000, US$ 21 milhões apenas; já em 2010, a soma já era de US$ 1 bilhão; com uma pauta de exportações centrada em produtos primários (soja, papel e celulose, minério de ferro, petróleo cru, etc).


Com isso, cabe perguntar: Como que o governo baiano coordena ou se insere nessa dinâmica comercial e de investimentos, à luz do processo global de ascensão chinesa? Será que esses grandes projetos, apesar de promoverem um desenvolvimento econômico e social no curto prazo, não acabam por deixar a Bahia mais refém e dependente da economia e das empresas chinesas?


Não esqueçamos do caso da JAC Motors, que estava instalada em Camaçari. Porque ainda que essa presença econômica seja celebrada efusivamente pela classe dirigente, ela é não apenas conflituosa em alguns aspectos, como contraditória em outros. Ou será que o destino da Bahia é depender dos chineses para tocar adiante seu processo de modernização e desenvolvimento?


São questões para pensar a nossa autonomia política e econômica, bem como nosso modelo de desenvolvimento. Discutir a China, hoje, é inadiável.


--------------------



53 visualizações1 comentário

1 Comment

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
carlosobsbahia
carlosobsbahia
Mar 19, 2023

Sim,a presença chinesa gradual aqui nos últimos anos em parte foi pela desindustrialização proocada pela Lava Jato. Porém,a China tem entrado de cabeça em outros países,como Uruguai e Angola

Like
bottom of page