
Já estamos cada vez mais familiarizados com o uso de pesquisas quantitativas em períodos eleitorais, especialmente na tentativa de prever cenários e projetar possíveis resultados. No entanto, as pesquisas qualitativas também têm ganhado destaque nesse contexto. Diferentemente das quantitativas, as qualitativas buscam capturar, com profundidade, os dados diretamente no ambiente onde os fenômenos ocorrem, aproximando-se de explicar como esses fenômenos se manifestam e são interpretados pelos sujeitos que os vivenciam ou os observam.
Qual é a diferença, afinal? Com as pesquisas quantitativas, é possível prever alguns resultados de forma probabilística e, com base nisso, decidir usar ou não uma estratégia. Já as pesquisas qualitativas permitem compreender, por exemplo, como as pessoas julgam, pensam, reagem e tomam decisões. Essas informações geram dados e interpretações que são extremamente valiosos para ajustar candidatos(as), desenvolver políticas públicas e outras iniciativas nesse sentido. Inclusive, fora do campo político, ao entender como as pessoas se comportam e se influenciam, é possível criar estratégias de mercado mais eficazes, otimizando resultados.
O mercado existe há muito tempo. A política, desde que o mundo é mundo. Contudo, nem sempre houve tanta necessidade de aplicar pesquisas nesse campo. Mas, assim como tudo na vida evolui, antes mesmo de existir o advogado, já havia uma noção de justiça e punição que orientava a sociedade. Hoje, com as especializações, precisamos de um advogado formado para nos defender ou representar. Da mesma forma, se eu quero ser competitivo e relevante, posso contar com um especialista em pesquisas para me orientar nas estratégias e nos caminhos a seguir, seja em uma eleição ou na vida política. Afinal, ninguém quer atirar no escuro.
E isso já é uma realidade. Como mencionei, é mais comum vermos pesquisas quantitativas em períodos eleitorais. No entanto, tem sido cada vez mais frequente observar que partidos e seus representantes estão aderindo às pesquisas qualitativas. Entre as metodologias mais utilizadas estão as entrevistas em profundidade, a observação de campo e os grupos focais.
Nas ciências sociais, o sociólogo, o antropólogo e os cientistas políticos são preparados para essa tarefa: coletar dados sociais, organizá-los, interpretá-los e elaborar conclusões embasadas nessas experiências. Como alguém da área, nunca quero incorrer no erro de fomentar a ultrapassada discussão sobre qual metodologia é superior. Como dizia minha eterna professora, Dione Morais: "Toda metodologia tem suas potencialidades e limitações”. E é exatamente assim. A escolha depende da pergunta feita e do objetivo da investigação. Em muitos casos, a combinação das duas abordagens, quali-quant, é a que oferece respostas mais completas e precisas.
Se você deseja realizar uma pesquisa bem-feita, é preciso investir. E não é barato. Mas isso faz sentido: pense no impacto positivo que uma boa pesquisa pode trazer, com um direcionamento de imagem claro e estratégias embasadas. Agora, imagine o desastre que uma pesquisa mal conduzida pode causar. É por isso que a escolha dos profissionais é tão crucial. Eles precisam ter a formação adequada, referências sólidas e atuar com extremo rigor.
No caso das pesquisas qualitativas, o pesquisador é o principal instrumento de observação. Ele coleta dados sociais que apenas as metodologias das ciências sociais conseguem captar. Esse processo carrega um paradoxo: ao mesmo tempo em que o ser humano é um dos instrumentos mais complexos, também representa a maior força dessa abordagem. O fator humano, com todas as suas nuances, é a sua maior potência — e também a sua maior fragilidade.
O pesquisador precisa buscar compreender os significados que as pessoas atribuem às suas experiências, o que é essencial para interpretar a vida em sua complexidade. Esses dados sociais, mutáveis e desafiadores de capturar, oferecem uma contribuição significativa para a construção e a validação de teorias.
Esse método de investigação da vida social tem ganhado destaque, especialmente no marketing político. Ele permite desvendar contextos pessoais e grupais, além de oferecer insights sobre como as opiniões se formam, se disseminam e como as visões de mundo são construídas. É uma ferramenta poderosa para entender e atuar sobre os fenômenos sociais de forma estratégica e assertiva.Embora as pesquisas qualitativas estejam ganhando cada vez mais espaço, é fundamental manter o rigor metodológico. A qualidade dessas investigações deve ser uma prioridade, e isso exige que o pesquisador possua um sólido acúmulo de experiência teórica antes de ir a campo. É necessário que ele se aprofunde em leituras, análises de estudos e discussões teóricas para estar devidamente preparado. Afinal, é no campo que tudo acontece de maneira dinâmica e rápida, e qualquer falha na coleta de dados pode comprometer os resultados.
Além disso, a apresentação dos dados é tão importante quanto a sua coleta. Deve ser feita de forma descritiva, acompanhada de transcrições, registros de observações de campo e um diálogo consistente com a teoria ou tese subjacente. As pesquisas qualitativas vêm se destacando pela sua eficácia em oferecer soluções criativas e assertivas para diversos objetivos. É animador que essas metodologias estejam se popularizando, mas isso deve ocorrer sempre com a devida atenção ao rigor científico e ao respeito ao trabalho de pesquisadores devidamente formados.
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1. INTRODUÇÃO À PESQUISA QUALITATIVA E SUAS POSSIBILIDADEShttps://www.scielo.br/j/rae/a/wf9CgwXVjpLFVgpwNkCgnnC/?format=pdf&lang=pt
2. A UTILIZAÇÃO DE MÉTODOS QUALITATIVOS NA CIÊNCIA POLÍTICA E NO MARKETING POLÍTICOhttps://www.scielo.br/j/op/a/gMFTTts3KJSyjkZXBQV6VjM/?format=pdf&lang=pt
3. PESQUISA QUALITATIVA: APONTAMENTOS, CONCEITOS E TIPOLOGIAShttps://gepeto.paginas.ufsc.br/files/2015/03/capitulo-angela.pdf
4. Developing corporate governance research through qualitative methods: a review of previous studieshttps://iris.luiss.it/bitstream/11385/144618/1/Submission%20Review%20Paper_final_per%20IRIS.pdf
5. QUALITATIVE RESEARCH METHODS IN PROGRAM EVALUATION: CONSIDERATIONS FOR FEDERAL STAFFhttps://www.acf.hhs.gov/sites/default/files/documents/acyf/qualitative_research_methods_in_program_evaluation.pdf
6. Quality in Qualitative Evaluation: A framework for assessing research evidencehttps://assets.publishing.service.gov.uk/media/5a8179c1ed915d74e33fe69e/Quality-in-qualitative-evaulation_tcm6-38739.pdf
Referência da imagem: https://www.institutophd.com.br/wp-content/uploads/2011/12/O-que-%C3%A9-Pesquisa-Focus-Group-e-quais-suas-principais-aplica%C3%A7%C3%B5es.png
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