Quando vi pela primeira vez Inácio, eu estava deitado sob uma canga na areia da Praia do Porto da Barra, contemplando um belo pôr do sol que tingia o céu com tons de amarelo, vermelho e roxo. Ao vê-lo se aproximar vagarosamente, caminhando pela borda da praia, com shorts curtos acima dos joelhos, a blusa enrolada e presa na cintura, o peito dourado de glitter e máscara no rosto, percebi seu caminhar seguro e olhar destemido. Seu corpo era definido, sem excesso de massa muscular, e seu rosto, gracioso, possuía uma beleza não convencional. Eu diria que Deus o desenhou para ser exibido diante de um belo pôr do sol salpicado de amarelo, vermelho e roxo, em uma tarde carnavalesca. Algo nele, no céu, na brisa do mar, fizeram com que pelos do meu braço se eriçarem e o coração batesse acelerado no peito.
A poucos metros de distância, procurei seus olhos, mas Inácio parecia não ter percebido a minha existência. Passou diante de mim caminhando a passos lentos, compenetrado e sisudo, com os cabelos em forma de caracóis ao vento. Olhei para baixo, e meu coração, que batia acelerado, agora doía, como se tivesse visto cruzar seu caminho um amor antigo, daqueles que deixam feridas nunca inteiramente cicatrizadas. Respirei fundo, olhei mais uma vez em sua direção, como quem olha alguém ou algum lugar pela última vez, como quem se despede, tentando tirar uma fotografia mental do objeto desejado para guardar nos acervos da memória.
Prestes a virar meu olhar na direção contrária à dele, Inácio girou o tronco e a cabeça para trás, fixando seu olhar no meu. Minha respiração pareceu cessar. O mundo pareceu desacelerar. Ele inclinou a cabeça levemente em direção às pedras, pedindo que o seguisse, e continuou caminhando sem olhar para trás, desaparecendo entre as rochas. Fiquei atônito. O coração parecia ter parado de pulsar. Havia uma mistura de tesão, tensão e medo circulando pelo meu corpo.
Levantei-me da areia suja de confetes, sacudi os grãos de areia e glitter, recolhi a canga e o segui. Adrenalina. Quando o encontrei, estava encostado nas pedras com as mãos nos bolsos. Ao me aproximar, minhas mãos tremiam, o corpo vibrava de excitação e temor. "Oi", balbuciei quase inaudível. Ele retirou as mãos do bolso, levou ao zíper da bermuda, abaixou-o, retirou o membro e disse: "50 reais". Lembro de ouvir o som do trio elétrico e das pessoas um tanto distantes, lembro de ouvir as ondas do mar batendo nas pedras, carregando vestígios de carnaval e, de repente, um chiado em minha cabeça. "50 reais", pensei. Olhei para o membro, olhei para o seu rosto. Tentei desvendar os seus mistérios, as histórias que contavam suas linhas de expressão.
Dinheiro era o preço que era necessário pagar pelo amor de Inácio? No cálculo racional das transações, o dinheiro tornava-se uma unidade desproporcional para mensurar o amor avassalador que ainda ecoaria em todo meu ser por esse homem sem passado ou futuro.
Meus joelhos cederam, e os prostrei na areia. As ondas do mar atravessavam o meu corpo, empurrando-o suavemente para trás e para frente. A maré. A água suja de glitter. Meu corpo embalado na dança do vai e vem das ondas de forma cada vez mais veloz e voraz. A água, a dança, escondendo e revelando as rígidas pedras na costa. As ondas do mar, seus movimentos lascivos, a pedra, sua rigidez, para frente, para trás, a pedra dura, enrijecida, retesada, inflexível. As ondas cessaram. Espuma. O sal do mar e o glitter na minha boca.
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Fonte: IA Bing
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