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Foto do escritorCarlos Henrique Cardoso

Quando eu morrer, não quero ir pro céu. Quero ir pra Farofa da Gkay!



Se caiu de paraquedas nesse texto e não sabe do que se trata essa farofa aí, vou explicar. É uma festa de aniversário, mas não aquele churrasco na laje que você foi semana passada. É um megaevento articulado pela influencer e humorista paraibana Gessica Kayane, a Gkay, que possui 20 milhões de seguidores só no Instagram e completou 30 anos. Pra quem nunca ouviu falar, ela celebra seu niver desde 2017 com essa marca e desde então a comemoração tem crescido tanto que está sendo bem comentada ainda. Durou 3 dias (entre 5 e 7 de dezembro) e contou com shows de Pablo Vittar, Wesley Safadão, Matuê, Léo Santana, Ivete Sangalo, e Anitta (essa cancelou por motivos de saúde). Parece mais uma mini versão do Lollapalooza do que um parabéns pra você...


Olha que produção: a festança ocorreu num hotel 5 estrelas em Fortaleza, cuja diária é de 10 mil reais; contou com patrocínio de marcas famosas como Avon, Listerine, XP Investimentos, Latam, e Vivara; a aniversariante fretou um Airbus para transportar convidados; espaço de 25 mil metros quadrados com locais temáticos, palco, camarim, stand para exposição de produtos; 500 convidados (influencers e subcelebridades); e transmissão pelo canal Multishow. Total gasto: 8 milhões de reais. O triplo do custo em 2021. Uau! E você feliz por conseguir comer um cachorro-quente na última festinha...


O que rolou? Imagine uma festa desse tamanho... Muita pegação, curtição, comida e bebida à vontade, beijos à granel, e até Dark Room para intimidades mais profundas e prazeres sexuais. Teve até uma polemiquinha de nada. O humorista Tirulipa – filho do palhaço e deputado federal Tiririca – achou por bem ficar arrancando biquínis das mulheres por pura diversão. Assédio! Foi expulso apenas. Isso geraria o maior climão e até B.O. em outra ocasião. Mas quem vai depor com a maior festança ocorrendo? E ninguém quer ir pra delegacia com a boca cheia de farofa (quiçá, cheia de outra coisa....). Ele foi expulso, e tocaram a festa tupiniquim. Todo mundo presente, sem hora pra acabar, e muita gente ainda pra chegar.


Mas entenda que não é apenas uma festa. É uma oportunidade de negócios. Pra quem vive fazendo vídeos no Tik Tok e entretendo jovens, essa turma milionária de seguidores se acostumou em mesclar hedonismo e dinheiro. Imagine a bombação de vídeos com rebolations, coquetéis, beijaços, pouca roupa e din-din na conta? Não estão errados não. Homem primata, capitalismo selvagem!


E essa Gkay aí? De quem se trata? Nunca ouvi falar e tem potencial pra festejar mais um ano de vida em forma de festival? Ela é atriz, fez programas, séries e outros trabalhos. Não sei mais do que isso. Como ela chegou nessa fortuna a ponto de esbanjar tanto, é fruto das efemeridades das redes sociais, que transformam um sapo num príncipe em um piscar de olhos. Essa fama liquida, demonstra o pouco conteúdo de parte dessa geração Z (nascidos entre 1997 e 2010) que quase nada sabe das mazelas sociais que nos aflige, mas se entristece com a separação de Jojo Toddynho. Se os convidados dessa festança não têm conteúdo ou pouca produtividade social, sabem bem aproveitar a publicidade que geram, e quanto a isso, nenhum demérito. Dormimos e acordamos pensando num jeito de ganhar dinheiro. Enquanto pensamos, essa galera ganha. Muito. Enquanto nós lamentamos usar o farto conhecimento para arrematar alguma merreca, esse pessoal aproveita a notoriedade comum que conquistaram. A Farofa movimentou rede hoteleira, audiência televisiva, empresas, produção artística, apresentação de músicos... a roda da economia não gira, capota nesse ambiente. O sistema educacional naufraga, professores estão suando no intuito de formar cidadãos, e ainda corre o risco de ser assassinado por um demente nazistinha, como aconteceu recentemente em Aracruz... Ó mundo tão desigual: de um lado esse carnaval, de outro, o ódio total.


Quem chegou até aqui e não leu um texto ríspido, inflamado, falando do absurdo de algo desse tipo ocorrer com gente sem noção, num país violento, miserável, com patriotários em frente a quartéis pedindo golpe, pode ter se decepcionado. Até poderia fazer isso, mas no fim das contas, o que adianta reclamar se muitos de nós não queríamos passar pelo menos uma horinha nessa epifania homérica, e ainda faturando alto? Podemos bradar, mas ninguém quer deixar de montar no cavalo selado quando ele aparecer.


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