Ana Lachman*
Essa imagem faz parte de um experimento social capturado dentro de um aplicativo de relacionamento.
Embora alguns experimentos sejam interessantes e eloquentes ao seu pesquisador, este foi deveras frustrante e deprimente.
O estereótipo do "homem hétero" profanado aos quatro ventos, não se trata de um mero clichê. Ele é fundamentado.
Este experimento também não se trata de uma régua estatística da violência contra as mulheres, ele é na verdade, um confronto com a realidade:
Muitos homens desejam mulheres, mas não as amam.
Muitos homens comem mulheres, poucos as cultivam.
E por fim, muitos homens nos querem vivas. Até que o banquete esteja servido e a mesa posta. Fartos, voltam-se aos seus berços esplêndidos.
É a lógica da objetificação mesclada com requintes de crueldade e um profundo autocentrismo.
Este experimento social baseado em print de tela, é na verdade, uma provocação ao adoecimento do masculino.
É um convite ao resígnio do bicho homem, no mesmo mês que uma notícia trágica é anunciada e choca o mundo todo.
Este texto é dedicado à Gisèle Pélicot, vítima de inúmeros estupros envolvendo seu marido e o pacto do homem.
Gisèle, foi dopada pelo marido por 10 anos para ser violentada por dezenas de homens na França. Dominique Pélicot, que já confessou ser culpado de todas as acusações, além de 50 homens, com idades entre 26 e 74 anos, respondem pelos crimes em julgamento que deve durar até dezembro. Dezoito deles estão em prisão preventiva.
É tempo de resígnio para o bicho homem.
Essa me parece a única oportunidade de fazer do apocalipse, apenas uma hipótese bíblica.
Embora eu ache que não.
Resígnio, é o nome.
*Ana Lachman tem 33 anos, é mulher, mãe e escreve desde tenra idade como meio de expressão e cura. É terapeuta e entusiasta da psicologia humana. Compartilha suas reflexões cotidianas na sua página pessoal "Chronicas" @chronicas , convidando o leitor para apreciação da escrita e da literatura, como meio para suportar e "vencer os dias".
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