*Por Priscilla Sobral
Eis um termo/conceito extremamente usado ultimamente e, algumas vezes, mal usado e mal compreendido. É! meu amigo (a), isso é coisa séria. Não devíamos usá-lo com intuito de manipulação ou carência do ego, muito menos deveríamos aceitar uma relação irresponsável afetivamente. É importante que saibamos escolher e entender que somos nós que devemos ditar as regras do jogo, afinal, trata-se da nossa vida. No entanto, além de ser cuidadoso consigo mesmo, é preciso também cuidar do outro, mas quem é irresponsável consigo conseguiria ser responsável com alguém?
Retomemos esse tão famoso termo e observemos o que ele significa. Ser responsável afetivamente é uma via de mão dupla, pois precisa-se de honestidade e autoconhecimento. Não brinque consigo nem com o outro! Exato, ser responsável é ser transparente com o seu par, deixar claro o que deseja, as suas intenções. Tratar com o máximo respeito, empatia e seriedade o sentir do outro, pois as vezes vemos que o parceiro ou a parceira está indo além da conta, mas deixamos isso acontecer só para acumular biscoitos do ego. Porém se o outro deixa claro os seus limites e você decide ir além, é importante não jogar suas demandas e carências no outro. Não é mesmo?
Pois é, ao entrar na vida de uma pessoa, se não for para acrescentar, partilhar e semear boas energias, que saiamos. Que não façamos desperdícios, que não usemos como vazios do ego, que não esvaziemo-nos de nós mesmos e que, sobretudo, não retrocedamos.
Se você foi uma vítima da irresponsabilidade afetiva de alguém ou da própria, está na hora de dar e dar-se limites. A sua vida é uma terra preciosa que o outro precisa pedir licença para entrar. Levante sua autoestima e não permita que qualquer um te trate como qualquer coisa. Ademais, pergunte-se: estou me tratando como? Afinal, o que nos damos reflete diretamente no que recebemos dos outros.
Dica? Se permita aprender com os seus relacionamentos, avance, pois o tempo é muito curto para ficarmos repetindo aprendizados. Que tal sermos a partir de hoje responsáveis? Deixemos o ego de lado, as queixas, a vitimização, e olhemos para a fatia do bolo que nos cabe, pois, todo relacionamento é feito de duas pessoas: em algum momento uma puxa e a outra cede, depois reveza-se. Tá faltando o diálogo ou o saudável equilíbrio? Portanto, não ausentemos nosso 50 porcento que nos torna responsáveis pelo que escolhemos, pelo que fazemos e pelo que deixamos de fazer consigo e com o próximo
Vamos brindar a beleza de termos o próximo como nossos espelhos, pois a busca desenfreada pelo outro é sempre a busca desenfreada por si mesmo.
Passamos a vida querendo negar a nós mesmos e adentrar o universo alheio, talvez para evitar nos olharmos, talvez fuga ou talvez encontro, já que o outro é a porta de entrada para nossa caverna.
Às vezes, ao contrário, colaboramos com a negação de si mesmo através da entrega ao outro, abraçamo-los na nossa vida em demasia, e começamos sutilmente a forçar o parceiro a ser quem queremos, a fazer o que queremos e a viver segundo nossos conformes, na angustia e na ânsia de preenchimento. O que estamos tentando preencher? Qual é o nosso vazio? Quais são nossas buscas e necessidades? O que queremos do outro? O que precisamos?
Às vezes... são os dois movimentos que se revezam em nós.
Para existir um relacionamento há sempre uma parte que gera e outra que permite, repassando a peteca do jogo, ou seja, você é um jogador, mesmo que seja inconsciente. Desta forma, você pode dar um basta nas relações irresponsáveis afetivamente e, obviamente, aprender a ser responsável com os demais. A reflexão, então, nos empurra para nós mesmos. Estamos sendo responsáveis afetivamente conosco? Estamos agindo conforme nossa intuição, desejo, vontade, ou somos empurrados pelo marketing das afetividades alheias, pelos modelitos sociais, ou até mesmo seguindo apenas uma reprodução de padrões familiares?
Onde mora a carência, o vazio que existe em mim e que não aceito, permitindo que o outro entre na minha vida e me trate como lixo?
Chegou a hora de aprender com o que o outro nos mostra o tempo todo. Que ele não é você, ele que te empurra para si mesmo depois de mostrá-lo seu reflexo. Chega a hora de parar de fugir e de olhar para o que tanto renegamos. Chega o momento de termos a devida coragem de sair da vitimização e nos tornamos responsáveis, o que sempre fomos, mas precisamos assumir.
Esse momento chegou. Esta é a porta para uma mudança necessária. Essa é a chave para o recomeço, para passar de fase e ir para o próximo aprendizado.
Todo vazio, toda queixa, toda dor e toda solidão pode ser tocada, curada, preenchida por si mesmo. Parece clichê e autoajuda, mas de fato, por mais que o outro tenha influência sobre a sua vida, lembre-se que você é o dono da porra toda! A dificuldade, talvez, seja perceber que a “porra toda” é complexa demais.
É tempo de se amar, de se respeitar e de se cuidar! Quem bem gere a si mesmo não precisa transformar ninguém em brinquedo, já que entende que sua própria vida é coisa séria. Não é tarde para reconhecer sua beleza, sua grandeza, sua luz. Pare e curta-se, ria consigo, aproveite sua companhia, o silêncio e a paz interior. Lembre-se que não importa quem esteve na sua vida, não eram as pessoas que estavam contigo que te faziam feliz, pois em muitos momentos também esteve infeliz ao lado delas. A sua felicidade depende de você, está com você, independente de quem te acompanha. Você teve momentos felizes e tristes ao lado dessas pessoas, assim como as terá sozinho(a), isto faz parte do seu palco interno, sua vida intrauterina e, no final das contas, o que conta é você mesmo. Só uma pessoa que sabe ser indivíduo pode e sabe partilhar em coletivo.
Quem é você para que partilhe com o outro?
Somos a infinidade de estrelas na escuridão, que brilha no céu, que resplandece, que ilumina. Somos a lua imensa, apaixonante, forte e plena, mesmo que dependendo dos meses possamos não a ver desta forma... Mas também somos a escuridão, o desconhecido, o vazio, a noite, a sombra, a dor e a solidão.
Se conhecer é uma longa caminhada, acolher-se ainda mais, amar-se é o fim, e a vida é apenas o começo.
Tudo que temos, os amigos, a família, as paqueras, o trabalho, o estudo, a diversão, tudo que nos rodeiam são nossas escolhas, são nossos momentos.
Como estamos escolhendo? Como estamos vivendo? De que forma nos amamos?
Precisamos sair da superfície e mergulharmos nas profundidades de nossas águas, encontrarmos a nossa cura, nos libertarmos e voarmos em direção a nossos sonhos com muita coragem para todos os novos aprendizados que vierem, pois eles são apenas uma porta para mais uma sala misteriosa de nós mesmos.
Boa viagem! Porque a vida merece ser bem vivida, e você merece ser bem-amado (a).
*Graduada em Letras/Frânces (UFBA). Doutoranda em Linguistica Aplicada (UFBA). Autora do livro Eu, Ele e minha melhor amiga.
Link da imagem: https://amenteemaravilhosa.com.br/responsabilidade-emocional-toxicidade/
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