VOU ESCREVENDO ESTE TEXTO POR NÃO TER OUTRO JEITO
- Autor(a) Convidado
- 15 de jan.
- 2 min de leitura

*Everton Nery
Vou escrevendo este texto por não ter outro jeito. Sou geógrafo por formação inicial, filósofo por caminhada e teólogo por opção, seja qual for a inexatidão. Trafego ao longo de símbolos e por vezes sou por eles trafegado. Tráfego intenso, mão dupla de uma ordem em (des)ordem.
Sou tensão e tesão, tudo ao mesmo tempo. O tempero é a intenção. O fazer, o trafegar, o teologar, filosofar e também geografar. Quanto verbo, quanta ação, quanta diversão. Fico aflito, tenso, porém feliz, diante do meu próprio nariz.
Quero meditar, quero contemplar e poder amar, sem medo de acreditar que podemos dialogar. Que verbo forte é esse que se faz presente em quem sonha? Que verbo intenso é esse, que se faz cheio de graça na presença da Brisa Santa? Que verbo bonito é esse, que se revela em todos nós? Que verbo divino é esse, que acontece, que é palavra?
Esta palavra não é tão somente fonema. Esta palavra não é tão somente conhecimento. Esta palavra é acontecimento. Este acontecer acontece no diálogo, no encontro, tanto das semelhanças como das diferenças. Boaventura Souza Santos assim diz: tenho o direito de ser igual quando as diferenças me inferiorizam e tenho o direito de ser diferente quando a igualdade me descaracteriza. Semelhantes e diferentes em confronto ou diálogo? Por que entre duas posições, aceitamos quase sempre, de maneira quase que incondicional que só existem dois caminhos? Prestemos, pois, atenção e observemos com cuidado! Olhai os lírios do campo, nos diz o Jesus de Mateus. Vamos então contemplar, olhar os lírios e nos admirar, não considerando que o mundo seja uma evidência. Vamos lá!
Confronto ou diálogo? Temos um, o outro, nenhum ou os dois. Um ou outro exclui algo da experiência humana. Nenhum, muito provavelmente, exclui a própria experiência. Caminhando não pela exclusão, temos os dois. Confronto e diálogo. O que se apresenta a nós? Como perceber esse confronto e esse diálogo em um único movimento? A dialética nos ensina, ou tenta contribuir com esse aprendizado. Hegel diz que temos o “em-si”, o “por-si” e o “em-e-por-si” que denominamos de síntese. Rompe-se aqui com a lógica aristotélica e vamos ao movimento e às contradições.
É neste caminho que percebemos o confronto dialogal. O diálogo que acontece no confronto, onde não quero que você se convença no que eu creio, tampouco que tente me convencer no que você crer. Desejo ouvir e ser ouvido, assim ampliamos e diversificamos em mutualidade o nosso saber e as nossas experiências com relação aos diferentes sujeitos, ao mundo, à própria Divindade. Não vamos disputar, não vamos apontar, não vamos nos repreender, não vamos nos julgar. O que vamos fazer então? Vamos nos afinar, vamos nos entender, vamos compartilhar, vamos caminhar juntos, vamos entrelaçar as nossas mãos em mergulharmos nas profundas e largas águas do viver, para então chorar, sorrir, sofrer, brincar, viver e morrer na esperança que se apresenta como possibilidade real, que o que fizemos é o bom, o belo e o justo do viver em dignidade e verdade.
Um grande xêro no coração !
*Doutor em Teologia e Professor da UNEB.
O texto propõe um diálogo que supera o confronto, valorizando a escuta mútua e a convivência com as diferenças. Com linguagem afetiva e crítica, articula pensamento, fé e existência como caminhos entrelaçados de transformação.
O texto fala sobre a vida como uma mistura de caminhos, ideias e sentimentos. O autor é uma pessoa que pensa muito sobre o mundo, a fé e as pessoas. Acreditando que viver é mais do que só pensar ou falar — é agir, sentir e se relacionar; Defendendo o diálogo verdadeiro, onde ninguém precisa convencer o outro, mas sim ouvir e ser ouvido. Para ele, confronto e diálogo podem andar juntos, desde que haja respeito.
Texto muito interessante uma poesia em que se mistura a geografia, filosofia, teologia, quando é citado Boaventura Souza Santos, faz refletir sobre os diferente caminhos da vida, observar o mundo, e a tomada de decisões que geram resultados diferentes. Sobre o confronto e o diálogo, as pessoas precisam aprender a falar e a escutar um ao outro.
A maneira como você articula os verbos — trafegar, filosofar, teologar, geografar — transforma o pensamento em movimento, em existência vividas. Propõe uma síntese que não anula as diferenças, mas as coloca em relação dinâmica.
O trecho que cita Boaventura de Sousa Santos ressoa fortemente nessa lógica, porque coloca a diferença e a igualdade não como polos opostos, mas como reivindicações contextuais e fluidas. E ao trazer a referência de Jesus e os lírios do campo, sua reflexão ganha um tom contemplativo, que não é fuga da realidade, mas sim um convite para enxergar além das evidências superficiais.
Não oferece respostas definitivas, mas sim provocações que exigem um engajamento contínuo. Seu texto pede que se caminhe, que se dialogue, que…
Que texto maravilhoso, a escrita é como uma chuva de ideias que mistura poesia, prosa, e que vai da emoção ao pensamento crítico.