
*Everton Nery
Vou escrevendo este texto por não ter outro jeito. Sou geógrafo por formação inicial, filósofo por caminhada e teólogo por opção, seja qual for a inexatidão. Trafego ao longo de símbolos e por vezes sou por eles trafegado. Tráfego intenso, mão dupla de uma ordem em (des)ordem.
Sou tensão e tesão, tudo ao mesmo tempo. O tempero é a intenção. O fazer, o trafegar, o teologar, filosofar e também geografar. Quanto verbo, quanta ação, quanta diversão. Fico aflito, tenso, porém feliz, diante do meu próprio nariz.
Quero meditar, quero contemplar e poder amar, sem medo de acreditar que podemos dialogar. Que verbo forte é esse que se faz presente em quem sonha? Que verbo intenso é esse, que se faz cheio de graça na presença da Brisa Santa? Que verbo bonito é esse, que se revela em todos nós? Que verbo divino é esse, que acontece, que é palavra?
Esta palavra não é tão somente fonema. Esta palavra não é tão somente conhecimento. Esta palavra é acontecimento. Este acontecer acontece no diálogo, no encontro, tanto das semelhanças como das diferenças. Boaventura Souza Santos assim diz: tenho o direito de ser igual quando as diferenças me inferiorizam e tenho o direito de ser diferente quando a igualdade me descaracteriza. Semelhantes e diferentes em confronto ou diálogo? Por que entre duas posições, aceitamos quase sempre, de maneira quase que incondicional que só existem dois caminhos? Prestemos, pois, atenção e observemos com cuidado! Olhai os lírios do campo, nos diz o Jesus de Mateus. Vamos então contemplar, olhar os lírios e nos admirar, não considerando que o mundo seja uma evidência. Vamos lá!
Confronto ou diálogo? Temos um, o outro, nenhum ou os dois. Um ou outro exclui algo da experiência humana. Nenhum, muito provavelmente, exclui a própria experiência. Caminhando não pela exclusão, temos os dois. Confronto e diálogo. O que se apresenta a nós? Como perceber esse confronto e esse diálogo em um único movimento? A dialética nos ensina, ou tenta contribuir com esse aprendizado. Hegel diz que temos o “em-si”, o “por-si” e o “em-e-por-si” que denominamos de síntese. Rompe-se aqui com a lógica aristotélica e vamos ao movimento e às contradições.
É neste caminho que percebemos o confronto dialogal. O diálogo que acontece no confronto, onde não quero que você se convença no que eu creio, tampouco que tente me convencer no que você crer. Desejo ouvir e ser ouvido, assim ampliamos e diversificamos em mutualidade o nosso saber e as nossas experiências com relação aos diferentes sujeitos, ao mundo, à própria Divindade. Não vamos disputar, não vamos apontar, não vamos nos repreender, não vamos nos julgar. O que vamos fazer então? Vamos nos afinar, vamos nos entender, vamos compartilhar, vamos caminhar juntos, vamos entrelaçar as nossas mãos em mergulharmos nas profundas e largas águas do viver, para então chorar, sorrir, sofrer, brincar, viver e morrer na esperança que se apresenta como possibilidade real, que o que fizemos é o bom, o belo e o justo do viver em dignidade e verdade.
Um grande xêro no coração !
*Doutor em Teologia e Professor da UNEB.
Parabéns, professor!
Um texto belíssimo, profundo, instigante e cheio de esperança.