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É VERDADE QUE A NASA ESCONDE INFORMAÇÕES SOBRE A VIDA EXTRATERRESTRE?




*Jessika Alves


Como não gosto de gerar expectativas sobre algo sem noção, vou logo dizendo, caro leitor, que não é verdade! Todas essas informações que versam sobre: “o ser humano não foi para a Lua”, “existem ET’s na área 51”, “a Nasa sabe sobre a vida extraterrestre e esconde da humanidade” - todas essas matérias sensacionalistas são mentirosas. Mas existem cientistas em todo o nosso planeta buscando por formas de vida possíveis fora da Terra, infelizmente, ainda não encontramos vida em nenhum outro lugar que não seja o nosso planeta.


Como a astronomia investiga vida em outros planetas?


Primeiramente, o que move as buscas é a nossa ideia do que é vivo. A definição de vida é bem complexa, até porque a única experiência de vida que conhecemos é a terráquea – produto de uma organização molecular e estrutural de compostos em células, que apresentam reações químicas organizadas em gastos e obtenção de energia – o metabolismo. Além disso, a vida que conhecemos evolui, ou seja, é capaz de gerar descendentes e se modificar ao longo do tempo. Em resumo, a vida que conhecemos possui células, material genético, metabolismo e tem a capacidade de se reproduzir e sofrer mutações.


Mas podem existir formas de vida totalmente diferentes da organização que conhecemos na Terra? Sim, dada as grandes dimensões do universo. E essa vida só é possível com a existência da água líquida, sabe porquê? A água é uma molécula bem especial que consegue solubilizar compostos importantes como carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas. Além disso, a água demora muito para congelar e evaporar- ou seja- serve de isolante térmico para as nossas células e tecidos. A água também tem a capacidade de circular sobre finos capilares, algo que torna a circulação viável em organismos de grande porte, como mamíferos. Além disso, todas as células são compostas por mais de 90% de água.


Dessa forma, para encontrar vida, astrônomos e astrônomas buscam por lugares que tenham água líquida fora da Terra. Nesses locais são feitas investigações para encontrar biomarcadores, ou seja, compostos químicos que só poderiam ser resultantes do metabolismo vivo. Nos últimos anos, foram encontrados biomarcadores bem curiosos que deixaram muitos cientistas com uma pulga atrás da orelha.


A Lua de Saturno


Saturno é um planeta que possui mais de 80 luas, uma em especial chama a nossa atenção- a Lua Enceladus (ou Encélado). Ela possui as famosas “plumas de água” - reservatórios de água em erupção que lembram plumas, por isso o nome. A presença da água líquida nessa Lua deixa muita gente intrigada. Águas em altas temperaturas, formam Di-hidrogênio, um composto conhecido inclusive em águas termais marinhas aqui na Terra, acredita-se que as águas termais de Enceladus tenham o mesmo composto. O interessante é que esse di-hidrogênio alimenta micróbios nessas fontes termais, que liberam metano ao quebrar essa molécula. Em 2021, uma equipe de cientistas conseguiu detectar nessa Lua algo muito parecido com metano em altíssimas quantidades através da sonda Cassini.


Ora, se Enceladus tem água termal, provavelmente tem di-hidrogênio, e se micróbios ao quebrarem di-hidrogênio liberam metano, se este composto for metano de fato, só pode ter sido produzido por um micróbio, concordam? Bem, esse é um indício interessante para um possível vizinho Saturnino. Na mesma publicação, os cientistas simularam em programas de computador uma possível origem não viva para tanto metano. O software simulou o mesmo ambiente de Enceladus, em modelos matemáticos que foram testados diversas vezes, o resultado é que alta concentração do possível metano em Enceladus só seria possível se produzido por seres vivos. Incrível, né?


No entanto, para bater o martelo é preciso coletar o material de Enceladus e estuda-lo aqui na Terra, utilizando nossos microscópios. Infelizmente, ainda não temos tecnologia suficiente para produzir uma sonda subaquática que resista às temperaturas e profundidade da água em erupção de Enceladus. Por isso, apesar de ter indícios fortes de que tem vida, não podemos afirmar que achamos vida em Saturno.


A polêmica de Vênus


Em 2020, um outro estudo também conduzido por sondas, sugeriu a presença de Fosfina em Vênus, em alta concentração. Fosfina é uma substância fabricada por micróbios e o estudo na época explicava por meio de análises que a concentração de fosfina no planeta era alta demais para não ser produzida por seres vivos. Estudos seguintes desmentiram a presença de fosfina nessa concentração toda em Vênus e que o estudo tinha erros estatísticos e que parte dessa fosfina pode ter sido confundida com outras moléculas com enxofre.


No entanto, a polêmica está longe de acabar, a atmosfera de Vênus é bem difícil de ser observada e pode atrapalhar a mira dos telescópios. Além disso, os cientistas que sugeriram a presença de Fosfina refizeram os testes retirando fatores de ruídos e afirmaram que fosfina estaria presente apenas em um trecho da atmosfera do planeta. Em 2024, os indianos vão organizar uma expedição venusiana para tentar desvendar o mistério.


Além da Fosfina, Vênus apresenta uma atmosfera com muito CO2, com gotículas de ácido sulfúrico e uma superfície quente capaz de derreter chumbo. São condições bem estranhas para ter vida, não é mesmo. Mas estudos já detectaram amônia, oxigênio e partículas esféricas não identificadas. A amônia pode neutralizar o ácido sulfúrico, e alguns cientistas sustentam a hipótese de gotículas de vida em Vênus. A amônia é produzida por seres vivos e pode formar pequenos oásis protetores da vida nesse ambiente turbulento. Mas não há nada de concreto que confirme vida em Vênus.


Possibilidade de vida em sistemas pequenos


Um artigo publicado esse ano liderado pela Astrônoma Ana Lobo trouxe novas possibilidades de vida fora da Terra. O estudo traz informações sobre planetas que rodeiam pequenas estrelas. Esses planetas estão fora do sistema solar, em uma área especial conhecida como Zona Terminadora. Planetas desses locais possuem um lado sempre voltado para a sua estrela e outro lado sempre escuro.


Nesses planetas, em uma metade é sempre dia, e as temperaturas são altíssimas, impossíveis para a vida. Já na outra metade, é sempre noite, abrigando camadas e camadas de gelo, em temperaturas congelantes também impossíveis para a vida. Mas no meio, entre o dia e a noite, existe uma zona que nem é fria, nem é quente e pode ter água líquida, importante para a vida.

O estudo mostrou que esses planetas podem ter uma zona bem importante para a vida, mas só seria capaz de sustentar água líquida se fosse um planeta rochoso. Se esses planetas não tiverem terra, é capaz de toda a água, se presente, evaporar formando uma atmosfera em vapor.


Vida humanóide fora da Terra?


O primeiro cientista que argumentou sobre a probabilidade de encontrar civilizações extraterrestres foi Frank Drake, o criador da equação de Drake, que tenta estimar a probabilidade da existência de vida inteligente no universo. A equação recebeu muitas críticas pelos astrônomos do mundo, porém, foi o início de toda uma investigação que perdura até hoje.


Mas se querem saber minha opinião? Acho que será uma questão de tempo encontramos alguma bactéria ou organismo unicelular fora do nosso planeta. Não acho impossível que essas formas de vida existam. Mas vida humanóide, acho pouco provável.


Nós seres humanos somos produtos de eventos evolutivos que ocorreram em milhões de anos e em circunstâncias bem particulares. Ou seja, só estamos aqui porque no passado tivemos microrganismos e corais fósseis, dinossauros, preguiças gigantes. Todos os seres do passado moldaram uma história evolutiva que resultou nas espécies que temos hoje. Para termos formas de vida multicelulares parecidas com as terráqueas, precisaríamos de planetas com uma história geológica e evolutiva muito parecia com a Terra. O que é matematicamente pouco provável.


No entanto, o universo é mais vasto que sabemos e minha opinião não invalida outras possibilidades. O importante disso tudo é seguir as evidências e não cair em qualquer bobagem da internet. Se com fosfina os astrônomos já fizeram um burburinho e tanto, imaginem se a NASA, ou algum outro instituto de pesquisa, tivesse encontrado vida extraterrestre... podem ter certeza que no dia seguinte isso iria estar estampado nas capas de todos os jornais do planeta.


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* Jessika Alves é Professora da rede estadual de ensino Bióloga e Doutora em Diversidade Animal pela UFBA. Instagram: @jessikacientista




Fontes:


Ana H. Lobo, Aomawa L. Shields, Igor Z. Palubski, Eric Wolf. Terminator Habitability: The Case for Limited Water Availability on M-dwarf Planets. The Astrophysical Journal, 2023; 945 (2): 161 DOI: 10.3847/1538-4357/aca970

Antonin Affholder, François Guyot, Boris Sauterey, Régis Ferrière, Stéphane Mazevet. Bayesian analysis of Enceladus’s plume data to assess methanogenesis. Nature Astronomy, 2021; DOI: 10.1038/s41550-021-01372-6

William Bains, Janusz J. Petkowski, Paul B. Rimmer, Sara Seager. Production of ammonia makes Venusian clouds habitable and explains observed cloud-level chemical anomalies. Proceedings of the National Academy of Sciences, 2021; 118 (52): e2110889118 DOI: 10.1073/pnas.2110889118

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