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O dilema dos refugiados e a abertura das fronteiras


Nos últimos dias foram noticiadas de modo discreto algumas notícias a respeito do barco humanitário “Aquarius”, estacionado no mediterrâneo com 629 resgatados na costa da Líbia. Um navio entulhado de gente, de vidas humanas, mulheres grávidas, menores assustados que viajavam sozinhos. O impasse girou em torno da Itália, Malta e Espanha que contrários à política de recepção de refugiados a contra gosto das demais nações europeias discutiam o recebimento da tripulação a bordo, confirmando que o processo evolutivo da humanidade está longe do fim e que muitos Estados e corações continuam fechados e enrijecidos. O processo de migração forçada denominado pela Comunidade Internacional de “crise de refugiados”, é marcado por um intenso movimento de pessoas em busca de sobrevivência, uma vez que em seu país de origem sofrem risco de morte.


Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) foram catalogados mais de 68,5 milhões de pessoas até 2017, fugindo de seus locais de origem por diferentes conflitos. Sírios, Sul Sudaneses, Afegãos, Iraquianos, Somalis, Venezuelanos (países com maior número de refugiados), capazes de enfrentar o próprio medo, ainda que sob a possibilidade latente de naufrágio no mediterrâneo, condições sub-humanas em transportes precários ou longas jornadas a pé. Cada indivíduo investe nesse trajeto a força que possui dentro de si, coloca sua vida á prova, agarrado a uma esperança tênue de direito á vida logo além da fronteira. Nenhum deles espera uma boa recepção ao final do percurso, almejando apenas ser aceito.


Europa, Estados Unidos e Canadá são sem dúvida destinos atrativos por possuírem melhores índices sociais e econômicos, com localização favorável a depender do conflito. Contudo, apesar do dever moral que possuem em acolher as vítimas do processo de degradação por eles proclamado quando financiam conflitos étnicos para obter minerais, estender a indústria bélica, ou ainda interferir na soberania do Estado a fim de ter seus interesses contemplados diante da instabilidade provocada, nega-se a concessão de refúgio sem que haja uma justificativa sólida. Grande parte dessas nações escolhe não se relacionar com aquilo que é diferente; amedrontados, paralisados, assustados com o fato de alguém ser muçulmano, negro, latino ou árabe. Mitos de toda ordem são proferidos por grupos conservadores que ao afirmarem suas verdades impossibilitam a busca por soluções conjuntas e de ordem continental, como afirmou Merkel.


Não é real que imigrantes roubam os postos de trabalho, uma vez que se submetem a funções não desempenhadas muitas vezes pelos nacionais. Outra inverdade proclamada é o aumento da criminalidade, bastando para isso contrapor estudos capazes de demonstrar que refugiados não são propensos a cometer crimes, tendo em vista o valor que possui sua aceitação naquele país; até mesmo o terrorismo é contestado quando a problemática dos refugiados é elemento de discussão.


Diante da política restritiva dos países centrais e a gritante necessidade de refúgio daqueles que sofrem perseguições políticas ou religiosas em países assolados por guerras civis, coube ao sul, acolher a grande maioria dos refugiados. Eles não são mais ricos, ou possuem condições elevadas de acolhimento, apenas capazes de responder a um apelo humanitário.


Voltando a questão inicial, com a elucidação da situação dos refugiados em barco humanitário à deriva no mediterrâneo, é possível notar que a revelia do que está posto, haja indicativos luminosos capazes de responder com sensibilidade á problemática existente, cabendo muitas vezes intervenção das Nações Unidas. Após negociações, a Espanha oferece a cidade de Valência a ONU como “porto seguro”, também devido á hospitalidade de seu povo. Tal fato soa possível após a ida da população espanhola as ruas, para exigir do governo políticas de acolhimento aos refugiados. Quando os corações se abrem o Estado modifica sua conduta ainda que lentamente. A Espanha acaba em seu gesto político convocando a Europa a responder a um problema que é comum a todos. Em discurso proferido o prefeito da cidade de Valência alega que antes de tudo é “preciso salvar vidas humanas, sendo absolutamente desumano deixar o barco á deriva naquelas condições”. Tal pronunciamento expressa que nem todos são indiferentes ao terrível momento que se encontra a humanidade, fazendo com que discursos xenofóbicos e imorais que tem enfraquecido compromissos e Tratados de Direitos Humanos percam a relevância.


A construção de sociedades fraternas ocorrerá se pouco a pouco homens e mulheres, convictos do que querem viver, começarem a mudar suas atitudes, buscando ambientes harmônicos e espaços de diálogo. Construiremos uma sociedade melhor, se formos homens e mulheres melhores, capazes de pensar além da individualidade. Se começarmos a ser protagonistas do mundo novo, nações tenderão a mudar sua postura.


A abertura das fronteiras para a Europa, além de ser um ato humanitário em favor daqueles que fogem do desespero e do horror, representa também investimento em capital humano numa sociedade que só envelhece; extraindo da população por eles acolhida um potencial pronto para ser compartilhado.


Enquanto isso, vamos enfrente certos que crises podem ser superadas com o contributo de todos.


Link da imagem: https://exame.abril.com.br/mundo/franca-vai-ajudar-espanha-a-receber-imigrantes-do-navio-aquarius/



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