O desaparecimento de um jovem desencadeia fatos e ocorrências que são o estopim para uma trama repleta de significados e interferências no tempo e no espaço. É o mote que dá início à série alemã “Dark”, que está em sua primeira temporada na plataforma Netflix. O seriado foi lançado em dezembro de 2017.
“Dark” é um experimento envolvente que nos leva a refletir sobre a passagem do tempo e os ciclos inerentes a ele. O passado, o presente, e o futuro se mesclam em um círculo de acontecimentos na pequena cidade de Widen, no interior da Alemanha. Nos dez capítulos da temporada, os personagens se veem absortos em mistérios, revelações, segredos e suspeitas que permeiam o histórico da cidade. A fotografia é esplêndida, dando um clima soturno que envolve uma floresta densa, uma caverna assombrada, e uma usina nuclear em processo de desativação. A usina, inclusive, também é um personagem, pois um incidente transcorrido em seu interior dá margem para desconfianças sobre seus funcionários. O perigo constante de um acidente maior é sugerido em alguns capítulos, vide a referência que se faz a Chernobil, a usina nucelar localizada na então União Soviética que sofreu uma explosão, atirando na atmosfera grandes quantidades de partículas radioativas, gerando mortes, casos de câncer, e deformações físicas, no ano de 1986.
O que instiga na série é o motivo dos desaparecimentos de jovens, porém, a questão não é a causa, e sim a consequência. A pergunta central não é onde o desaparecido pode estar, mas quando ele está. E então, no terceiro capítulo, o espectador passa a assistir uma viagem - e viagem nos sentidos literal e figurativo – que trespassa uma simbiose entre diversas épocas, com consequências que podem alterar até a existência de alguns personagens. Uma frase de George Orwell, contida no best seller “1984”, pode sintetizar o tema da série: “quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente, controla o passado” (é uma frase que também pode encampar discussões sobre o revisionismo histórico, tão presente em nossa realidade nacional). Os fãs da trilogia “De Volta Para o Futuro” e do filme “Efeito Borboleta”, vão adorar “Dark”. Só que com menos ação e nenhuma comédia. E muita contemplação metafísica.
A trilha sonora do seriado é primorosa, com arranjos densos que combinam com Widen, pouco movimentada e quase sem incidência de raios solares. Cabe ao espectador prestar muita atenção na trama, pois o cerne está sobretudo na localização dos eventos. É preciso sempre sondar quando um personagem aparece e em qual período ele pertence. A ambientação opaca que permeia os episódios, contribui muito para despertar a curiosidade sobre os passos seguintes no limiar do tempo. Imagine que seu vizinho de 30 anos desaparece e dias depois você faz uma pesquisa para saber novidades sobre seu paradeiro e se depara com uma foto do mesmo sendo preso por militares em algum ano da década de 1960. Sinistro, não?
Devido ao sucesso de audiência, “Dark” tem assegurada a segunda temporada, que deve estrear no final do primeiro semestre desse ano. E da forma que a primeira temporada finaliza, o quebra cabeças do tempo ficará ainda mais embaralhado na sequência vindoura.