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A ESPETACULARIZAÇÃO DA VIDA: As mídias digitais e o consumo de moda mercadológica


[1]



Por Thays de Souza Lima [2]


Tendo como base a obra de Guy Debord, “A sociedade do espetáculo” (1967), me proponho a trazer uma reflexão sobre o consumo de moda a partir de influências das mídias digitais, sendo estas um exemplo contemporâneo de organização capitalista da sociedade. Uma vez que as personalidades e costumes são guiados pelos diversos estímulos midiáticos, nesse caso, nas tendências de moda, os sujeitos tendem a performar sua realidade a partir dos padrões determinados na lógica de globalização. O espetáculo aparece como resultado dos meios de alienação, exemplificados desde a produção, que é pensada na universalização de determinados costumes, até o consumo, que define não só as relações sociais, que são os espaços onde o indivíduo se insere ou consegue se inserir, como também a forma como ele se enxerga ou quer se enxergar.


Essa possível alienação trazida por um consumo massivo e deliberadamente globalizante – este como a ideia de universalidade dos costumes, como aconteceu com o modo de vida americano –, baseado na compra como um símbolo de status social, reduz o indivíduo a uma etiqueta. Como descreve criticamente o poema “Eu etiqueta”, de Carlos Drummond de Andrade. “(...) desde a cabeça ao bico dos sapatos, são mensagens, letras falantes, gritos visuais, ordens de abuso, reincidência, costume, hábito, premência, indispensabilidade e fazem de mim um homem-anúncio itinerante, escravo da matéria anunciada. Estou, estou na moda. É duro andar na moda ainda que a moda seja negar minha identidade, trocá-la por mil (...) com que inocência demito-me de ser. Eu era antes e não sabia. Agora sou anúncio, ora vulgar, ora bizarro (...) peço que meu nome retifique. Já não me convém o título de homem. Meu novo nome é coisa. Eu sou a coisa, coisamente.


Em sua obra, Guy Debord afirma que a natureza do consumo, além de ser excludente e produzir alienação, sujeita os indivíduos a coisas, mercadorias estimuladas através da imagem, o que na grande dos casos os reduz a condição de expectadores passivos. O espetáculo, produzido e difundido através da imagem, produz um modelo de falsa realidade que, quando buscada, pode levar o sujeito a simples aparência da representação. Se olharmos para a moda no contexto das ultimas décadas, podemos encontrar diversos exemplos dessa espetacularização, produzidos através de imagens divulgadas em revistas, TV’s e grandes desfiles como a Fashion Week, que podemos conceber nesse entendimento como grande espetáculo, uma vez que produz no indivíduo a necessidade de estar inserido nesse meio.


No que diz respeito a espetacularização produzida com o uso das mídias digitais – especificamente redes sociais como Instagram –, os imensuráveis estímulos gerados através das imagens – postagens – realizados sobretudo por usuários que são referência no meio, desde marcas até os chamados Influencers, criam para o público um modelo de realidade ideal, que no contexto da moda só pode ser efetivado através do consumo. Dessa forma, os novos padrões de costume ideal levam os sujeitos a performarem uma realidade na qual acreditam que os fará aceitos pelos demais. Esse padrão ideal vai desde a moda enquanto acessório, expresso no vestuário, até as formas ditas como ideais dos corpos. Sobre esse último, podemos ainda pontuar a apropriação de questões e demandas de ordem social, que nesse processo de espetacularização aparecem agregadas a lógica do capitalismo, como a venda do bem estar, do amor próprio e empoderamento que muitas marcas se utilizam. Dessa forma, a moda, em seu sentido mercadológico, utilizada como imagem e ferramenta para o espetáculo presente nas redes sociais e mídias digitais, nos traz a ideia de consumir para ser aceito e para se aceitar.


NOTAS:


[1] A foto refere-se ao episódio Nosedive, da série Black Mirror. O episódio, assim como outros da série, é ambientado em uma realidade distópica, onde os indivíduos da sociedade só podem acessar determinados espaços, ou possuir produtos – desde os básicos a sobrevivência, como moradia –, com base na avaliação que recebem das outras pessoas. Essa avaliação é feita através de um aplicativo ultra tecnológico. Dessa forma, para que a avaliação seja positiva e alcance os índices esperados, cada sujeito deve mostrar através do aplicativo como suas vidas são importantes, interessantes e dignas de ascensão.


[2] Graduanda de Licenciatura em História – UFRPE


REFERÊNCIA DA IMAGEM:


https://metro.co.uk/2018/03/13/black-mirrors-nosedive-episode-is-about-to-become-a-terrifying-reality-in-china-7384499/

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