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A Face negra de Iemanjá: ela não é branca!


Iemanjá, Inaié, Isís, Janaína, Dandalunda, Marabô, Macunã são alguns dos nomes para a Rainha do mar, Orixá de matriz africana, homenageada no dia 2 de fevereiro, data que mobiliza Salvador em uma festa-ritual de grande magnitude. O dia que não é feriado, torna-se!


Atravessando os balaios de oferendas, em geral com muitas rosas e alfazema, as pessoas fazem seus pedidos. Na rua, muita cachaça e dança. De fato, o baiano é carnaval, alegria e vibração até nos dias religiosos, a lavagem do Bonfim que o diga. Mas, diferentemente da festa do padroeiro da Bahia, Iemanjá cultua uma deusa africana embranquecida pela cultura popular.


Por ser uma Orixá, Iemanjá deveria ser representada como uma mulher negra assim como de fato o é nas religiões afro-brasileiras, mas o racismo não deixa que a imagem da guardiã dos mares seja propagada de acordo com a ancestralidade da qual advém. Isso tira a importância da festa-ritual? Não, mas provoca um apagamento na imagem negra dos Orixás, reforçando o racismo religioso e barrando o imaginário popular ao que tange a associação de que negro é bom.


Ser negro no Brasil sempre esteve associado a algo ruim, obviamente uma imagem construída a partir do processo de colonização e de escravização dos povos oriundos das nações de África. Portanto, não é de se espantar que a imagem de Iemanjá difundida nos meios de comunicação seja a de uma mulher mais próxima do fenótipo europeu do que do africano.


Devido a essa construção imagética e difusão, a festa agrega muitas pessoas brancas que pouco conhecem a Orixá, ou que simplesmente comparecem apenas para se divertir no carnaval fora de época. Inclusive, podem estar presentes muitas pessoas racistas que não querem ter a sua imagem associadas à uma Orixá negra, porém se sentem confortáveis em serem associadas à uma quase Afrodite, vide as imagens abaixo:


Afrodite de Botticelli

Iemanjá branca



Qualquer semelhança não é mera coincidência. Afinal a colonização é predatória, racista e eugenista. Sendo assim, embranquecer a imagem de Iemanjá é corroborar com esse processo de desaculturação das religiões de matriz africana, além de ser no mínimo um desrespeito aos praticantes delas, em especial aos ancestrais negros que as cultuavam.


Esse contexto, além e nos alertar para o racismo religioso nos faz pensar na importância da construção da imagem para difundir uma ideia hegemônica de cultura, a qual invisibiliza o subalterno. Mas qual seria a contra reação para algo que já está consolidado na sociedade?


Penso que agir micro politicamente é uma alternativa. Difundido a imagem negra de Iemanjá. Além de denunciar o racismo religioso, rejeitando e reprimindo manifestações preconceituosas, desde o âmbito verbal como expressões: “chuta que é macumba”, “Candomblé é do diabo”, “Exu é o diabo”, dentre tantas outras que corroboram com o racismo religioso. E só um adento, diabo é cristão.


Para além disso, denunciar o terrorismo nos terreiros, esse consiste na destruição desses espaços de culto, na maioria das vezes impulsionado por pessoas extremistas de religiões cristãs, mas não apenas. Os discursos de ódio de outros ordens também estimulam esses atos.


Portanto, para não ser apenas mais um branco babaca querendo ser cool na festa de Iemanjá, é necessário que medidas anti-racistas sejam tomadas durante o ano inteiro, afinal não é preciso ser negro ou ser de Candomblé para não corroborar com a violência, seja ela qual for. E sim, difundir a imagem branca de Iemanjá é uma violência tal qual esses atos exemplificados anteriormente. Salve Odoyá!


Imagem retirada do portal geledés < https://www.geledes.org.br/yemanja/>



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